Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Copa de probabilidades

O Mundial de futebol de 2010, na África do Sul, consagrou muitos personagens. Um deles – muito peculiar – não precisou nem entrar em campo: o polvo Paul, que morava em um aquário em Oberhausen, na Alemanha. Ele tornou-se o molusco mais famoso do mundo ao prever e acertar todos os resultados da seleção alemã naquela Copa e depois apontar a Espanha como campeã do torneio – o que veio a se confirmar mais tarde.

Enquanto um animal vidente não aparece, os torcedores mais ansiosos podem recorrer ao sitePrevisão Esportiva, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP). Na página, são calculadas as chances de cada resultado da Copa do Mundo deste ano por meio de diversas técnicas probabilísticas. Em 2010, o método acertou não só quem seriam os finalistas, como também cravou a campeã, não deixando nada a desejar ao famigerado polvo Paul. E, para 2014, os dados estão sugerindo um panorama otimista: o Brasil será campeão em cima da Argentina.

O projeto começou ainda em 2005, quando os estatísticos Francisco Louzada e Adriano Kamimura Suzuki, da USP, e Luis Ernesto Bueno Salasar, da UFSCar, observaram que, embora a estatística estivesse amplamente presente em várias áreas da vida brasileira, era aplicada de forma tímida ao esporte. Hoje a iniciativa conta com dezenas de pesquisadores e já está indo para sua terceira Copa do Mundo. Desde 2011, cobre também o Campeonato Brasileiro e, no ano passado, passou a calcular os resultados dos campeonatos espanhol e inglês, sempre de futebol.

“Nosso principal objetivo é mostrar como a estatística está presente em nosso cotidiano e pode ser utilizada das mais variadas formas, inclusive no esporte”, diz Louzada, acrescentando que o site não tem fins lucrativos.

Modelagem de “previsão”

Na modelagem estatística aplicada ao esporte, existem pelo menos duas correntes de trabalho. Uma delas produz dados associados aos jogadores e aos times em uma partida, como número de faltas, passes certos, chutes a gol. Mas os pesquisadores paulistas usam outro tipo de modelagem, para visualizar como uma equipe vai se comportar diante de outra dentro de um jogo e tentar prever os resultados.

Esse estudo é feito com diversos tipos de dados – objetivos e subjetivos – anteriores aos jogos. Alguns exemplos são: rankings como o da Federação Internacional de Futebol (Fifa), opiniões de especialistas e valor de um time no mercado de apostas. Um processo de combinação disso tudo gera uma série de informações que são transformadas em probabilidade. Para cada jogo, as chances dos dois times são combinadas 10 mil vezes. E, de acordo com essas simulações, são geradas as estatísticas dos resultados.

Além das probabilidades para cada uma das partidas, o site aponta as chances de cada time avançar na competição e de classificação dentro de cada grupo.

Como os eventos que acontecem a cada jogo influenciam as probabilidades, os pesquisadores vão atualizando as previsões em todas as rodadas. “Seria injusto para o conhecimento deixar de considerar os dados que estão acontecendo; por isso, a cada rodada, nós atualizamos o modelo”, explica Louzada.

Eficiência sem garantias

Até o fechamento desta matéria, 11 jogos da Copa do Mundo haviam sido realizados e as estatísticas se mostraram precisas em nove deles. As únicas contrariedades aconteceram no confronto entre Espanha e Holanda, em que os holandeses fizeram valer seus 27% de chance de vitória contra os 45% dos espanhóis, e na surpreendente derrota da seleção uruguaia para o time da Costa Rica, que era franco azarão, com apenas 14% de chance de ganhar, contra 63% de nossos vizinhos sul-americanos.

Mas esses resultados não significam que os pesquisadores erraram; muito pelo contrário. Os 14% de chance dos costa-riquenhos eram improváveis, mas não impossíveis. Em nenhum momento foi afirmado que eles não poderiam acontecer. “As estatísticas não garantem nenhum resultado, elas apenas estudam os dados e deixam clarificadas as possibilidades de vitória, derrota ou empate de cada equipe em determinado jogo”, esclarece Louzada, estimando que o resultado mais provável aconteça entre 75% e 80% das vezes.

Apesar da imprevisibilidade – um dos fatores que torna o futebol um esporte tão emocionante e, consequentemente, popular –, os pesquisadores mostraram antes da Copa de 2010 que as duas equipes com mais chance de chegar à final eram Espanha e Holanda, com os espanhóis tornando-se campeões – o que de fato aconteceu. “Existe um mar de incerteza nesse tipo de previsão, mas a única metodologia capaz de te conduzir do início ao fim do campeonato de uma forma segura é a estatística”, garante Louzada.

Tudo isso nos dá esperanças para acreditar que o Brasil sairá vencedor da final deste ano contra a Argentina, como “previu” o estudo. Nas 10 mil simulações feitas, o Brasil se sagrou campeão em 30% das vezes; em outras 25%, a Argentina levou a melhor.

Previsão interativa

O portal Previsão Esportiva apresenta também uma seção interativa chamada “Sua previsão”. Nela, o internauta pode opinar sobre todos os placares da fase de grupos. Depois disso, o site insere os palpites em um modelo estatístico e oferece informações sobre as chances de eles ocorrerem e de cada equipe chegar à final e ser campeã de acordo com os resultados sugeridos pela pessoa.

E qual o seu palpite para o jogo Brasil x México, que acontece daqui a pouco? O modelo estatístico “prevê” vitória da seleção brasileira, com 66,5% de chance, contra apenas 12,7% dos mexicanos. Agora faça sua aposta e boa torcida!

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Gabriel Toscano, do Ciência Hoje On-line