Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Queda do viaduto: mídia manipula fatos

Os principais jornais brasileiros, controlados pelos donos dos oligopólios da comunicação (e que existem prioritariamente para defender os interesses dos grandes grupos financeiros e econômicos em detrimento dos interesses populares), resolveram transformar a tragédia da queda do viaduto da Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, na mais sórdida vingança em relação ao sucesso nacional e internacional da Copa do Mundo.

A provável incúria da administração municipal de Belo Horizonte (em fiscalizar rigorosamente as obras), somada aos interesses poucos confessáveis da relação promíscua que se perpetua no país entre interesses privados e interesses públicos, derivou numa tragédia anunciada (uma vez que, na mesma avenida, outro viaduto, construído pela mesma empresa, já dera sinais de má qualidade dos serviços dessas edificações).

Na Folha de S.Paulo, a queda do viaduto se transformou em “Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH”; no Globo, “Viaduto de obra da Copa desaba e mata 2 em BH”; e no Estadão, “Viaduto planejado para Copa cai e mata 2”. Nos três jornalões, as manchetes dão ênfase no fato de se tratar de uma obra do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento. Como sabemos, as obras do PAC são financiadas com recursos federais e são executadas pelos estados e/ou municípios. No caso das obras da Avenida Pedro I, a responsabilidade pela contração da construtora e pela fiscalização e monitoramento de toda a obra é da prefeitura de Belo Horizonte.

Controle democrático e social da imprensa

O mais importante neste caso é que a obra em questão não é para a Copa, como insistem os jornalões. Trata-se de obra de mobilidade urbana que ficará para a população da cidade. Portanto, além do erro grosseiro e proposital, as manchetes escondem a verdade dos fatos, dado que a imensa maioria das obras de mobilidade urbana do PAC 2 serão totalmente apropriadas pela municipalidade antes, durante e após a Copa do Mundo.

Muito estranho o fato de que, logo após a tragédia, em entrevista a veículos de comunicação, o prefeito de Belo Horizonte assumiu defesa enfática da construtora, justamente num conjunto de obras marcado por suspeitas de irregularidades e superfaturamento. “A licitação foi vencida por um consórcio formado pelas empresas Cowan e Delta, mas em junho de 2012 a construtora Delta deixou o projeto. Investigações da Polícia Federal apontaram envolvimento da empresa em escândalos de corrupção ligados ao bicheiro Carlinhos Cachoeira e denúncias do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Ministério Público Estadual (MPE) apontaram indícios de sobrepreço na compra de materiais para a obra. Em abril de 2012, uma auditoria técnica do TCE apontou que as intervenções na avenida tinham indícios de superfaturamento que chegavam a R$ 6 milhões e sobrepreço de quase 350% em alguns itens da construção em relação aos valores de mercado”, conforme noticiou o site UAI.

A manipulação grosseira da mídia brasileira tem se tornado uma vergonha nacional, com repercussões internacionais. Depois de mundialmente conhecidos por mentirem, vergonhosa e flagrantemente, sobre a realidade da Copa do Mundo, os veículos de comunicação brasileiros e alguns de seus colunistas pitbulls querem, de qualquer jeito e a qualquer custo, arranjar argumentos falaciosos para manchar a imagem da Copa com fins meramente eleitoreiros.

A democracia perde, e muito, quando a mídia se transforma em partido político e distorce a realidade e a verdade dos fatos. Por isso, mais do que nunca, é preciso que a sociedade civil organizada pressione o Congresso para aprovar uma legislação de controle democrático e social da imprensa brasileira, como ocorre em todos os países de democracia avançada.

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Robson Sávio Reis Souzaé doutor em ciências sociais, especialista em comunicação social e professor da PUC-Minas