Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

‘Veja’ e a questão da Palestina

Não sou de direita, nem de esquerda; não sou PT, nem PSDB e tampouco compartilho com as posturas radicais de um PSOL ou PSTU. Não sou muçulmana, nem judia. Não concordo com a maioria das posições adotadas pela diplomacia brasileira desde a época Lula. No entanto, creio que pela primeira vez, com relação à questão palestina, a postura adotada pelo governo, que avalia como um “uso desproporcional de força” por parte do Estado de Israel contra o povo palestino, é simplesmente uma interpretação (bem diplomática e atenuada ) do genocídio que vem acontecendo. Hoje, já morreram mais de mil cidadãos palestinos (pouquíssimos terroristas dentro desse montante) versus cinquenta e sete soldados israelenses e três civis. Proporção essa que se repete toda vez que esse confronto ocorre.

Algumas considerações: 1) O exército de Israel representa um Estado e o Hamas não representa o povo palestino; 2) Grande parte do Hamas é formado por fundamentalistas religiosos, mas com certeza uma parte deve ser formada por palestinos que perderam familiares, amigos, bens e que, em época de paz relativa, vivem oprimidos numa faixa de terra, com bens essenciais, como eletricidade, água e o direito de ir e vir controlados por Israel. Condições essas que só tendem a fomentar e perpetuar esse grupo. Portanto, achar que Israel é somente vítima de um bando de lunáticos religiosos não ajuda a entender e solucionar o problema; 3) Existe grande possibilidade que o míssil que abateu o avião na Ucrânia tenha sido por acidente, enquanto o exército israelense vem matando deliberadamente e estrategicamente cidadãos civis (embora isso não justifique a postura complacente adotada pelo governo em relação à Rússia). No entanto, noto a mesma indignação seletiva (sendo que inversa) nesta edição de Veja, tanto no editorial como na sua matéria “Diplomacia Internacional”, que mostra uma condescendência em relação à questão palestina e uma indignação, em proporção maior, à queda do Boeing 777. Será que as mil vidas palestinas valem menos que as trezentas ocidentais? Ou que as cinquenta israelenses? 4) Finalmente, penso que se houvessem alguns anões na diplomacia israelense em detrimento do seu gigantesco poderio bélico, o entendimento e a paz poderiam estar mais próximos (Jacqueline Maria Santos da Costa, médica, São Paulo, SP)