Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Presidente e antecessor lançam site e fazem críticas à imprensa

O comando da campanha da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff lançou ontem [terça-feira, 12/8], em Brasília, o site “O Brasil da Mudança”, que apresenta uma compilação de feitos dos 12 anos da era petista para fazer um confronto de informações com a oposição e com a imprensa – alvo preferencial ontem dos discursos da petista e de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Esse site vai ajudar a gente a enfrentar o derrotismo e o pessimismo que levaram parte expressiva dos meios de comunicação a dizer que a Copa ia ser o caos”, disse Dilma em seu discurso. Salientou também que o novo site ajuda a enfrentar o “terrorismo”.

Imprensa

Antes dela, Lula voltou a fazer críticas à imprensa. Afirmou que, em 2014, o Jornal Nacional apresentou uma hora e 22 minutos de notícias desfavoráveis contra o governo, contra três minutos favoráveis. Sem citar o nome do candidato do PSDB, Aécio Neves, o ex-presidente disse que o adversário teve sete minutos e 42 de noticiário positivo e cinco minutos de negativo.

Lula começou sua fala se referindo à presidente Dilma. Perguntou se ela tinha visto uma criança chorando na plateia. “Vi uma criança chorando e fiquei com medo de que algum setor da imprensa disse que é um protesto”, afirmou ele, ao destacar que não estava pedindo aos meios de comunicação que falassem bem dos governos petistas. “Não é para pedir que falem bem. A gente só quer, pelo menos, que as pessoas sejam honestas no tratamento da cobertura.”

O ex-presidente afirmou que em 2006, quando foi candidato à reeleição, tinha menos tempo na TV que o candidato que estava em quarto lugar nas pesquisas. Para Lula, isso piorou, se comparado ao tratamento dado a Dilma. “Eles me tratavam bem”, disse.

Economia

Um dos principais objetivos da guerra de informações que o site pretende abrir é na economia. O portal, por exemplo, defende a “solidez fiscal” do Brasil, um dos pontos mais criticados na atual gestão por diversos setores da sociedade, como economistas, agências de rating e acadêmicos . O texto diz que as gestões Lula e Dilma enfrentaram “dois momentos distintos da grave crise internacional que ainda hoje assola grande parte do planeta”.

“Mesmo assim, a solidez fiscal do Brasil criou o alicerce firme para os investimentos público e privado, o crescimento econômico e a geração de empregos”, destaca um dos textos, que descreve a atuação macroeconômica dos governos.

No entanto, o superávit primário, melhor termômetro para avaliar o desempenho da política fiscal, não reflete isso. Usado por poucos países do mundo, esse resultado primário significa a poupança feita pelo governo, após coletar impostos da sociedade, para pagar os juros da dívida pública. Durante o governo Dilma, o dado perdeu a importância. Em 2012, o governo recorreu a triangulações com o BNDES e lançou mão de recursos do Fundo Soberano do Brasil para atingir a meta.

O expediente, que não foi explicado ou divulgado pelo governo, foi classificado como contabilidade criativa pelo mercado, causando queda na confiança do governo. No ano seguinte, a meta só foi cumprida com o Refis e pagamento de dividendos das estatais. Neste ano, o mercado não acredita que a meta será cumprida.

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‘Democratização da mídia’ fica fora de plano de governo

Vera Rosa # reproduzido do Estado de S.Paulo, 13/8/2014

A presidente Dilma Rousseff vetou a “democratização da mídia” como tema de seu programa de governo. Embora o PT insista em discutir o assunto, que poderá entrar no site “O Brasil da Mudança”, lançado ontem pelo Instituto Lula, Dilma avalia que o debate pode ser mal interpretado na campanha.

Vinte e cinco grupos setoriais discutem agora novos temas, que devem ser ampliados na plataforma de Dilma em cadernos separados. Política industrial e comércio exterior, desburocratização, reforma urbana e desenvolvimento agrário fazem parte dessa lista, mas o controle da mídia não está lá.

Atritos

Ex-ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Franklin Martins foi o autor do projeto de regulação dos meios de comunicação, que acabou engavetado na gestão de Dilma. O projeto sofreu duras críticas. Muitos viram nele uma forma de o governo tentar cercear o trabalho da imprensa, aumentando seu poder para influir no conteúdo dos veículos.

Integrante da coordenação da campanha petista, Franklin já entrou várias vezes em atrito com a presidente e com o marqueteiro João Santana por defender uma campanha mais “politizada”, com mais enfrentamentos aos adversários.

Franklin é responsável pela área de imprensa do comitê e pelo site “Muda Mais”, que dá suporte à campanha da reeleição. O site foi alvo de críticas, no mês passado, após publicação de texto com ataques ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, às vésperas da final da Copa do Mundo.

Conselheiro do Instituto Lula, Franklin também vai controlar agora o site “O Brasil da Mudança”, em que serão apresentados dados sobre os “avanços sociais e econômicos” dos últimos 12 anos do PT no Planalto.

Santana assina a propaganda política de Dilma e tem divergências com o estilo de Franklin. Em conversas reservadas, dirigentes do PT dizem que “dois mundos” dividem o comando da campanha da presidente e só Lula pode apartar a disputa.

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Tânia Monteiro, Ricardo Brito, Daiene Cardoso e Vera Rosa, do Estado de S.Paulo