Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Marina e o discurso da mídia

Debruçada sobre um caixão, Marina Silva “lançou-se” ao cargo de presidente da República pelo PSB. Nem mesmo no horário eleitoral gratuito ela teria tanta projeção. O que antes era a terceira via, pelas pesquisas, passou a ser a segunda. Tudo indica que será a candidata que mais se aproximará de um embate com Dilma Rousseff no segundo turno. Numa análise bem fria, Aécio Neves é o mais prejudicado com a oficialização de Marina na disputa eleitoral. Para muitos, a “insossa campanha tucana” pode se fragilizar ainda mais à medida que Marina aparecer também na TV. Aliás, a candidata com “manias ecológicas” pode ser a única saída para os que defendem o fim do PT no governo. A única saída para quem vê nos programas neoliberais o progresso do país.

A “bênção” da família Campos para a candidatura de Marina foi a “chave mestra” para quem esperava o surgimento de um adversário para levar a eleição para o segundo turno. Os tucanos vão ter de mudar a estratégia.

A morte de Eduardo Campos foi uma grande tragédia política. Mas, ao mesmo tempo, abriu um espaço “nunca antes visto na história deste país” (como gosta de parafrasear Lula) para uma mudança profunda nas eleições. O palanque “político” foi um velório/sepultamento que, ao mesmo tempo, serviu para tentar manter o legado político de Eduardo Campos. É como se dissessem: “Ele morreu, mas é preciso manter sua aura por perto”. Semana passada, Renata Campos e seus familiares receberam políticos do PSB em sua casa. Conversou com candidatos a prefeito, vereadores e, principalmente, com a equipe de coordenação ao cargo de presidente da República. Como nos regimes monárquicos, mostrou que é preciso passar também pela aprovação da família as indicações políticas. O PSB viu o gesto como respeito ao presidenciável morto.

Sem vergonha de apoiar Marina

Nas entrelinhas, parte da imprensa entra na história reproduzindo um discurso muito difundido após a tragédia de que Marina é a “candidata natural” na disputa e pode ser uma válvula de escape contra o petismo. Evidente que nenhum órgão de imprensa vai assumir publicamente. Por um motivo simples: eles buscam credibilidade. Assumindo partido, para esse ou aquele candidato, podem perder leitores. Entra então o “plano de credibilidade”. Assim, “camufladamente” – sem que o leitor perceba, mas tentando capturá-lo pelo discurso político – impõe, pelo consenso, suas predileções.

Sem entrar na análise se o que o PSB fez até agora foi certo ou errado, o fato é que a candidata socialista, que não conseguiu emplacar sua Rede (que para muitos é um PSD que não “come” carne), surge em um campo fértil para quem estava indeciso em votar para presidente. Pelas pesquisas, ela não “abocanhou” muitos votos de Dilma e Aécio. Mas, conquistou um grupo que estava e está decepcionado com a política. Verdade: a política vive uma crise de credibilidade – muito por conta também do discurso que associa política como sinônimo de corrupção. Eis então as chances de emplacar Marina. O PSDB precisa “abrir o olho” e o PT se preparar para uma disputa ainda mais acirrada. Mas, no final – a parte “direitista” da história já sabe: se não der para levar Aécio ao 2º turno, não terão nenhuma vergonha em emplacar apoio a Marina como a 2ª via política.

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Edgar Leite é jornalista, mestre em Ciências Sociais Políticas pela PUC e editor-chefe do jornal Diário de Suzano