Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ecos da cobertura midiática

Quem ligou o canal de televisão a cabo Globonews no início da madrugada de domingo (7/9) deve ter se surpreendido. Com três jornalistas fazendo comentários, mais parecia um espaço eleitoral da candidata Marina Silva do que um programa jornalístico propriamente dito. Em determinado momento, as jornalistas passaram a fazer projeções e garantiam que o depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa mudaria o ritmo da campanha eleitoral. E a candidata Dilma Rousseff, que já vinha sendo antes desqualificada, passou a ocupar a atenção das jornalistas de forma ainda mais negativa.

Na verdade, o programa mais parecia o de um novo formato de campanha eleitoral, sem a presença de candidatos mas com análises que visivelmente tentavam induzir telespectadores a optar pela candidata que, segundo as jornalistas, traz o “novo na política”.

Pouco tempo antes, a revista Veja publicava matéria, repercutida nas edições dominicais dos jornalões, apresentando o depoimento de Paulo Roberto da Costa incriminando políticos, a maioria deles vinculados à base aliada do governo. O que mais chamava a atenção, sem dúvida, era que o depoimento do ex-diretor da Petrobras estava guardado em caráter sigiloso e até criptografado, segundo o noticiário. Mas se o depoimento revestia-se de sigilo, como se explica que a revista Veja tenha apresentado com exclusividade o teor, e como se fosse uma verdade incontestável, embora no meio da matéria fosse ressaltado que não havia provas no que foi declarado?

Jogo de indução

Tanto a Veja como vários jornalões deveriam se posicionar publicamente em favor dos candidatos de sua preferência, como já fez O Estado de S.Paulo na eleição presidencial de 2010 ao apoiar o tucano José Serra. Mas o que depõe contra o jornalismo praticado pelas publicações não é exatamente a declaração de voto, mas editar matérias em apoio a candidatos, geralmente os de oposição ao atual governo, no caso Marina Silva e agora, em menor grau, Aécio Neves.

Quanto às pesquisas divulgadas semanalmente, na medida em que se aproxima a data de 5 de outubro da eleição presidencial, possivelmente mais os números deverão se aproximar das tendências verdadeiras. Os próximos dias, portanto, serão sintomáticos nesse sentido. Até por uma questão de credibilidade futura, os institutos de pesquisa, que segundo especialistas dominam técnicas infalíveis, terão de se preocupar com o acerto, porque em caso contrário perdem a credibilidade, como já aconteceu algumas vezes em outras eleições.

Neste vai e vem semanal das pesquisas eleitorais é necessário também analisar com profundidade até que ponto a dependência, de eleitores e analistas, criada semanalmente com a divulgação das pesquisas serve ao aprimoramento do processo democrático ou não passa de um jogo midiático que objetiva, no fundo, colocar em segundo plano algumas questões políticas e econômicas relevantes. Ou induzir eleitores a votar em quem está na frente das pesquisas, mesmo que a proximidade da eleição mude o quadro. 

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Mário Augusto Jakobskind é jornalista