Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O político ideal e o mau político

A propaganda eleitoral tem exibido na televisão brasileira uma variedade quase incontável de políticos: há os que defendem o neoliberalismo e os que pregam o socialismo, os que apoiam a causa gay e os que “lutam pela família como está na Constituição”, os que prometem combater o tráfico de drogas e os que pedem a legalização da maconha.

Em síntese, talvez ainda seja possível dizer que há dois tipos básicos de político: o ideal, descrito por Max Weber (1864-1920), considerado por muitos o pai da Sociologia; e o mau, desenhado a partir de Nicolau Maquiavel (1469-1527), um marco fundador da Ciência Política. Weber dizia que o político ideal (ou de vocação) “é aquele que busca o impossível em vez do possível” e aquele que não se abala “quando o mundo se mostra estúpido e abjeto para aquilo que ele lhe oferece”. Entendia que quem vive para apolítica faz da “política a sua vida”, e quem vive depolítica “faz dela uma fonte de ingressos”.

O pensador alemão definia a política como “a direção ou a influência sobre a direção de um Estado” e entendia o Estado como uma “relação de dominação de homens sobre homens” que, para existir, “precisa que os dominados acatem a autoridade que pretendem ter” – fazem isso pela autoridade tradicional (como a exercida pelos patriarcas), pela autoridade da graça (carisma) ou pela legalidade (princípios legais).

Qualidades do príncipe

Nicolau Maquiavel, ao listar as controversas “qualidades” do príncipe, escreveu que “é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”.

Ele também dizia que o príncipe deve “proceder cruelmente no fisco” e “gastar pouco para poder defender-se e para não se empobrecer, tornando-se desprezível”. Acrescentava que, ao marchar com “seu exército e viver à custa de presos de guerra, saques e reféns”, o príncipe se manteria seguido pelos seus soldados porque “gastar o que é de outrem não rebaixa, pelo contrário, eleva a reputação”.

O italiano pregava que o príncipe deveria preferir ser temido a amado. “É muito mais seguro ser temido que amado porque os homens geralmente são ingratos, covardes e ambiciosos de dinheiro e, enquanto lhe fizeres bem, todos estão contigo. E os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual é rompido sempre que lhes aprouver.” Dizia que “tão simples são os homens que aquele que engana sempre encontrará aquele que quer ser enganado”. E aconselhava que “o príncipe dos nossos tempos” deve pregar “a paz e a fé, sendo, no entanto, inimigo de uma e de outra”.

Maquiavel ponderava que “seria muito bom que um príncipe possuísse, entre todas as qualidades referidas, as que são tidas como boas”. Mas observava que “a condição humana é tal que não consente a posse completa de todas elas”.

Apesar de passados mais de 500 anos da publicação de O Príncipe (1513), Maquiavel ainda é um mistério para a Ciência Política. Há quem defenda que ele tenha sido mal interpretado, que estava sendo irônico ou que quis ajudar Juliano de Médici, político local, a “unificar a Itália e protegê-la contra estrangeiros”. Há, porém, quem acredite que sua intenção era “ganhar favores do governante”.

Referências

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: escritos políticos. 3ª ed. Trad. Livio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Col. “Os pensadores”, p.63-79.

WEBER, Max. O político e o cientista. Lisboa, Presença, 1979

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Jeferson Bertolini é repórter e doutorando em Ciências Humanas