Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Menina veneno

Em uma casa preta e branca de proporções quase reais, uma TV retrô exibe “Pica-Pau” sem som, enquanto uma vitrola faz dos Beatles a trilha sonora do ambiente.

O cenário reproduz os quadrinhos de “Mafalda”, criados pelo argentino Joaquín Lavado, o Quino, em setembro de 1964, e pode ser visto a partir desta quarta-feira (17) na exposição “O Mundo Segundo Mafalda”, na Praça das Artes, em São Paulo.

A mostra, que já passou por Argentina, Costa Rica, México e Chile, celebra 50 anos da personagem, uma menina bochechuda conhecida por suas indagações desconcertantes e visão crítica do mundo.

Criada em uma típica família de classe média na Argentina dos anos 1960, Mafalda tornou-se celebrada em todo mundo pela ironia em relação aos temas de sua época –marcada por ditaduras na América Latina, pela chegada da televisão e pela popularidade dos rapazes de Liverpool.

“Ela continua bastante popular, pois esse humor não ficou datado, permite uma dupla leitura, pode ser lido no seu aspecto mais adulto ou como uma brincadeira de criança”, observa Waldomiro Vergueiro, professor de histórias em quadrinhos na USP.

“Ela é uma jovem senhora que marcou uma geração em uma época difícil na América Latina. Superamos este momento, mas Mafalda sobrevive”, aponta o secretário municipal da Cultura, Juca Ferreira –a mostra é uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo, a Fundação Theatro Municipal e a produtora Mundo Giras.

Segundo a curadora, a argentina Sabina Villagra, a ideia é apresentar a personagem às crianças. Além da reprodução do apartamento, há espaços interativos nos quais é possível personalizar os desenhos com carimbos, lápis de cor e até almofadas. “Não é uma retrospectiva, mas uma reinterpretação”, explica.

Para o jornalista Álvaro de Moya, 84, autor de “História da História em Quadrinhos” (1993), “as pessoas costumam subestimar as crianças achando que elas não têm visão das coisas, mas Mafalda é a prova contrária disso”.

Moya conheceu Quino décadas atrás num festival de quadrinhos na Itália. Esteve com o quadrinista em algumas ocasiões no Brasil. “Ele sempre exigia a presença de Ziraldo quando ia se apresentar, porque era tímido, e Ziraldo era um showman’”, lembra.

Convidado, Quino, 82, não virá ao Brasil. Foi representado na abertura da mostra por sua sobrinha Julieta Colombo.

>> O mundo segundo Mafalda

QUANDO diariamente, das 9h às 20h (fechado em 24, 25, 31/12 e de 1º a 6/1); até 28/2

ONDE Praça das Artes, av. São João, 281. tel. (11) 4571-0401

QUANTO grátis

CLASSIFICAÇÃO livre

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Diálogos impertinentes

Conhecida por sua inquietação infantil e pelas perguntas desconcertantes sobre tudo ou sobre o nada, Mafalda chega ao Brasil fazendo jus à fama.

Criação mais genial do cartunista argentino Quino, a cinquentona que será sempre menina lançou indagações –todas retiradas de suas tiras– a alguns dos maiores quadrinistas da América Latina. A pedido da Folha, eles respondem o que pensam sobre a vida, o universo e tudo mais.

Não satisfeita, Mafalda invadiu as páginas da “Ilustrada” e saiu perguntando também aos colunistas Marcelo Coelho e Keila Jimenez o que eles realmente pensam sobre questões tão existenciais quanto a medida da velhice e tão prementes quanto a qualidade dos canais de televisão.

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Beatriz Montesanti, da Folha de S.Paulo