Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma categoria fora do combate

Não se trata de reinventar a roda nem de ensinar padre-nosso a vigário, mas está perto de a mídia brasileira assumir o jornalismo de combate sem precisar demonstrar a força de um quarto poder, para romper o círculo pernicioso do domínio da criminalidade. Já se notabiliza a ação limitativa do jornalismo declaratório e os efeitos socialmente perversos das intimidações ao jornalismo investigatório – e esse poder intimidante sobre a mídia, quem vem exercendo a pleno vapor é o Poder Judiciário, cujas ações centrais estão sempre à margem do CNJ – Conselho Nacional de Justiça.

O jornalismo de combate foi exercido, com profundas dificuldades, durante o regime militar. O drible à censura constituía uma obsessão entre a militância jornalística, atividade acompanhada de perto pelos chamados escritores malditos, cujos livros, mesmo censurados, eram vendidos de mão em mão nos grandes centros urbanos do país. No jornalismo de combate não basta denunciar irregularidades, má gestão dos recursos públicos, falcatruas para a aprovação de projetos no Congresso Nacional, nepotismo, insegurança, domínio do crime organizado e do tráfico de drogas e outros crimes comuns. É fundamental comparar esses desperdícios com o emprego correto dos recursos públicos e mostrar comparativamente que resultados se obteriam na sua aplicação correta.

A exposição de fotos dos autores, do seu modus operandi, da sua vida pregressa e a cobrança contínua de resultados de investigações e de ações de autoridades administrativas e policiais devem se converter em atividades rotineiras seja em que veículo for – até ser despertado o sentimento de “vergonha na cara” em meliantes contumazes. A recuperação do caráter educativo da mídia depende menos dos seus donos do que dos profissionais à frente dela.

Essa mudança no perfil da mídia brasileira poderá ensejar um novo momento, aquele em que, ao divulgar assuntos que interessa a todos, os jornalistas acabem deixando de lado o temor de desagradarem seus empregadores, um tema que volta e meia frequenta as redações nos últimos anos.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor