Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A Copinha e o saco de maldade dos jornalistas

O Corinthians é o maior vencedor da Copa São Paulo de Juniores (nove títulos, o último conquistado dia 25 passado, no Pacaembu, contra o Botafogo de Ribeirão Preto), num torneio realizado anualmente e que reúne cerca de 100 times, entre os quais os 20 da série A do Brasileirão. É natural que a cada ano a realização da chamada Copinha faça aflorar o fenômeno chamado anticorintianismo, que tem semelhanças com o antipetismo, mas não se confunde com este, pois Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, é corintiano e do PSDB, embora sites anticorintianos, porque são-paulinos, como a Folha-UOL, por exemplo, confundam o Corinthians com o PT de Lula para melhor combatê-lo, a ponto de internautas escreverem nos comentários, quando o Corinthians ganha um campeonato: “O UOL está de luto!”

Mas não é o UOL meu objeto de análise, e sim, a ESPN e a SporTV, nas suas respectivas coberturas da Copinha. O saco de maldades das duas emissoras para com os corintianos começou nas chamadas da ESPN, nas quais inseriu as pedaladas de Robinho em Rogério no Brasileirão de 2002 de pura implicância, como representação forçada da fina flor das categorias de base. Ao final de um jogo da terceira rodada em que o Corinthians goleou o adversário por 4 a 0, o narrador da ESPN disse, categórico: “Bom; mas há times melhores na disputa.” Nenhum dos outros times grandes que venceram bem seus jogos nessa fase mereceu comentários desse tipo de narradores da ESPN. Fiquei imaginando quantos e quais seriam esses “melhores”, já que o Timãozinho tinha acabado de ganhar o Campeonato Brasileiro da categoria. O resultado do torneio provou que o narrador só estava irritado com o fato de os meninos de um time octacampeão terem vencido com facilidade.

O SporTV não ficou atrás. O programa SporTV News do sábado em que o Corinthians se classificou para a segunda fase, junto com o Atlético Mineiro e Grêmio, e cujo jogo o SporTV acabara de transmitir, trocou na abertura o nome do Corinthians pelo do rival São Paulo, que havia se classificado na sexta-feira. Não sei se a apresentadora do SporTV News foi cúmplice ou vítima do “engano”, uma vez que ela lê a chamada no teleprompter; mas o que me convence de que não foi um “descuido” da edição do programa, mas uma brincadeira de mau gosto, é o que se segue: o SporTV programou (e não cumpriu) um VT do jogo entre Corinthians e São Paulo. E editou o VT da final entre Corinthians e Botafogo sem o gol da vitória. Como pode? O VT de uma final sem o gol que deu o título ao Timão! O programa sem o gol foi ao ar duas vezes; ou seja, poderia ter sido corrigido, o que me convence de que foi mesmo para sacanear os corintianos e não vacilo da edição.

Econômicos nos elogios, pródigos em mesquinharias

Fazendo uma concessão à complexidade, é claro que pode ter sido um festival de incompetências do SporTV; mas minha hipótese é de que os jornalistas ficaram tão aborrecidos com as vitórias do Corinthians que partiram para a retaliação, tentando incomodar os corintianos: imagine você esperar um noticiário informar a classificação de seu time e ele anunciar… a do rival! Isso porque, sob o disfarce de jornalistas objetivos, há muitas vezes torcedores tão ou mais fanáticos quanto você e eu. Releve-se o fato de a direção flamenguista da emissora ter convocado o são-paulino Belletti para comentar o jogo Corinthians e São Paulo, já que ele estava analisando outros jogos também.

Na ESPN pelo menos escalaram para comentar o torneio o mais isento de todos os comentaristas da emissora, Alexandre Oliveira; mas em compensação, depois da arrasadora vitória sobre o São Paulo, chamaram para falar no Bate-Bola o ex-jogador do Corinthians Lulinha, que é ironizado nas redes sociais por ser a antítese do sucesso das categorias de base como profissional. O saco de maldades da ESPN se estendeu ao site da emissora, onde postou matéria desancando a revelação corintiana Mateus Cassini, logo após a goleada sobre o São Paulo. Ou seja, ao invés de elogiar o desempenho do Timãozinho (dois dos gols contra o tricolor nasceram de lançamentos primorosos), cacetada no Corinthians. E foi ridículo o Linha de Passe da sexta-feira não dar uma palavra sequer sobre o jogo (que foi na quinta, e não se falava noutra coisa em São Paulo na sexta). Curiosamente, a hashtag do programa era “fuga”. Eles debateram a venda de jogadores do profissional. Mas bem poderia ser “fuga do assunto pelos comentaristas são-paulinos da ESPN”.

A cobertura do último jogo da Copinha também foi falha. Supervalorizaram o frango do goleiro do Botafogo, como que atribuindo a vitória do Corinthians à sorte. Claro que um campeão também tem que ter sorte, mas sobre a tríplice coroa (esse time ganhou três torneios importantes em menos de três meses) sobre o fato de o Corinthians ter tido a melhor defesa e o melhor ataque da competição, pouco se falou na ESPN e o SporTV sequer mencionou. Sempre econômicos nos elogios e pródigos em mesquinharias. Em resumo: onde se exaltam as paixões, a ética se ausenta.

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Silvia Chiabai é jornalista