Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O dia da marmota e a temporada de caça à Petrobras

Passados o dia da marmota e o #tolimaday, está aberta a temporada de caça aos talentos corporativos para o posto de Graça Foster que, possivelmente, caiu por suas virtudes, o que não apaga as cabeçadas coroadas pela estapafúrdia precificação da corrupção recém-divulgada. Neste país, onde bandidos e mocinhos trocam de papéis com desenvoltura, ceifar boquinhas e bocões tem lá o seu preço. Quem será (a) o felizardo (a)? Eis a pergunta top da semana. Ou seja, que nome o mercado empurrará goela abaixo do país para dar cabo no serviço de destruir a Petrobras, uma das maiores petrolíferas do mundo, sempre com a inestimável colaboração da imprensa verde-amarela?

O velho calo que macera o pé da direita desde sempre, a despertar a sanha das multinacionais e aguçar interesses neocoloniais manjados, nunca esteve tão à mão invisível dos operadores, tão acessível. Peter Malan, Armínio, Mendonça de Barros brothers? Joel Rennó? Ou que tal o próprio FHC? E por que não o empoderado Eduardo Cunha, dispensando-se assim os intermediários? Talvez saísse mais em conta.

Quem acionará o disjuntor do choque de gestão? “Meireles!”, grita o PT, com fagulhas de orgulho. Nada mais espanta depois de Levy, o guarda-livros, e de Kassab, o capa-preta, ambos ministros de relevo. Por sinal, só agora entendi o slogan “coração valente” usado pela presidenta em campanha. Tratava-se de um alerta cifrado ao seu eleitorado. A ele faltou acrescentar “estômago forte”.

O mercado e Eduardo Azeredo

A historiografia de almanaque não traz alento. Leio que em 1998, nas vésperas do início de FHC II, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, o virtuoso Aécio Neves, tentava emplacar o então governador de Minas na presidência da estatal. Prestes a deixar o cargo, o conterrâneo e correligionário Eduardo Azeredo era tudo de bom para o impoluto Aécio, a quem o futuro reservaria o papel de redentor das classes média e alta exploradas do Brasil em 2014 (ver aqui). Ele era e é o homem do “mensalão mineiro”, a origem. Por isso renunciou ao mandato de deputado federal e assim não viveu (e nem viverá) o desconforto de enfrentar possíveis 23 anos de xilindró requeridos pelo procurador-geral da República ao STF.

Como a maracutaia remonta àquela época, remanesce a dúvida: levaria o know-how para a petrolífera? No mesmo diário, lê-se em tom laudatório – algo muy tipico do fim do período FHC I – que a Petrobras investiria (sic) incríveis 3 bilhões de dólares e teve em 98 faturamento de 24 bi (ver aqui). Só para constar, o investimento atual no Brasil da “quebrada” Petrobras (em R$) é da ordem de 100 bilhões e seu faturamento gira pelos 305 bi.

Por aí se vê que, mesmo sob ataques de corsários a mando da direita e/ou da esquerda, vitimada por empreiteiras poderosas e intocáveis das quais pouco se fala, sob insistentes achaques simbólicos da mídia que só quer o seu bem, a empresa é um colosso.

Lá fundo, desde onde se extrai o petróleo do pré-sal, qualquer um serve desde que seja para desmontar o Lego, embaralhar o joguete e refrear o ímpeto infantil do desenvolvimento nacional e da soberania energética. Repassado o texto e alinhados os objetivos, acho que o mercado reagiria bem a Eduardo Azeredo, para quem Aécio fez lobby em 98.

Já a padaria, o açougue, a quitanda e o pasteleiro da feira, sei lá.

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Yuri Carajelescov é procurador da Assembleia Legislativa de São Paulo, mestre e doutorando em direito pela USP