Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Direto do Leblon

Nos últimos anos, cresceu vertiginosamente o mercado da informação – se é que assim pode ser chamado – relativo a celebridades. Os “valores-notícia”, nessa área, são difíceis de cientificar, além de se apresentarem imprevisíveis. Tudo que acontece com um artista, por exemplo, pode estampar os espaços de nicho a que se destina. Um espirro, um tropeço no meio-fio, uma escapadinha na noite carioca… Notoriedade é, de fato, fator de interesse da notícia, mas sozinha não se justifica.

O que é privado? O que é público? O que é de interesse privado e público? Questionamentos a que, em tempos de redes sociais, o jornalismo sério tenta responder. Nas ruas, os repórteres ativam seu sensor noticioso e verificam aqueles acontecimentos que podem ser de interesse da audiência. As apurações, normalmente, são relevantes, isto é, trazem à tona inúmeros elementos que, somados, dão vazão ao newsworthiness – os atributos que transformam um fato em notícia.

Entretanto, como dito, cresce o “jornalismo de celebridades”, que não é um jornalismo real. No máximo, uma apropriação indébita do termo “jornalista” para justificar essa atividade vazia – e ao mesmo tempo rentável. Há públicos que consomem tais tipos de conteúdo, por mais irrelevantes que sejam, mas trata-se de uma discussão sociológica cujo escopo não será retratado aqui. O que importa, para o momento, é justificar que a construção da notícia se dá pela agregação de diversos ingredientes.

Tipos de valores-notícia

A notoriedade não é notícia em si. Para o “jornalismo de celebridades”, contudo, ela assume essa carapaça. É importante saber que Suzana Vieira come um pastel na praia? Na visão romântica do jornalismo, não. Johnson e Harris (O repórter profissional, 1966) defendem que existem medidores para os valores-notícia: a intensidade do fato, a proximidade, as consequências, o tempo e as variáveis envolvidas. Avaliando sob essa premissa, salvo se algo espetacular acontecesse com Suzana, os paparazzi deveriam deixá-la em paz.

Felipe Pena, no livro Teorias do jornalismo, estabelece dois tipos de valores que definem o que é notícia e o que não é. Há os valores fundamentais – atualidade, proximidade e notoriedade – sem os quais não existiria imprensa, e os valores temáticos, que oscilam entre dinheiro, política, sexo, meio ambiente, moda, comportamento etc. Logo, a notoriedade tem valor, mas quando contextualizada. Um cachorro que morde um homem gera notícia? Analisando cruamente, não. Mas um fato ganha indícios de atualidade. Descobre-se, posteriormente, que o cachorro era de Aécio Neves. E que o animal havia mordido um militante petista. Situação exemplificativa, obviamente.

Os principais valores-notícia dos veículos estão nas manchetes dos jornais, nas escaladas televisivas, nos boletins de rádio e na capa dos portais da internet. Eles atingem o ápice do “interessômetro”, isto é, a medida fictícia de um repórter pela qual ele entende um acontecimento como passível de ser veiculado na imprensa, contribuindo para a evolução da sociedade.

Destarte, celebridades podem virar notícia, desde que não apareçam exclusivamente sob a sombra das banalidades. “Caetano Veloso estaciona carro no Leblon” – lembrado pelo portal Terra, há algumas semanas – não é de interesse jornalístico. Se porventura Caetano tivesse estacionado em uma vaga de deficiente, contudo, aí já brotariam mais elementos de interesse. O bom jornalismo edifica, educa, traz algo novo. Lembre-se disso.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo