Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A atividade e a polêmica

Assessoria de imprensa e reportagem são duas funções que podem ser realizadas por profissionais de jornalismo. Mas, por terem ações tão diferentes e tão parecidas ao mesmo tempo, esses dois cargos acabam gerando polêmica. Principalmente em relação ao código de ética. É certo afirmar que, antes da ética jornalística, o profissional deve estar de acordo com a ética geral, que vale para todos os homens. Mas é possível que dois profissionais distintos obedeçam a um mesmo código de ética?

Alguns autores dizem que sim, enquanto outros têm argumentos para afirmar o contrário. Eugênio Bucci é um dos que se coloca contra. De acordo com ele, a separação entre as duas funções seria um benefício, em especial para o cidadão. Para a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a assessoria de imprensa deve prestar serviço a instituições públicas ou privadas, no sentido de enviar constantemente informações sobre os assessorados para a imprensa.

As principais diferenças estão no foco do trabalho do repórter. Ele deve se pautar pelo interesse público, deve ser objetivo, ter autonomia, noção de imediatismo e ética. Argumenta-se que o assessor de imprensa não defende o interesse público, e sim, do seu assessorado. Nesse sentido, o profissional não teria autonomia. Além disso, o assessor de imprensa divulga informações que privilegiam seu assessorado, podendo omitir informações do público.

Na contramão desse pensamento, alguns autores apontam que o repórter também não cumpre com os valores defendidos pelo jornalismo. Que é impossível ser totalmente neutro e imparcial, comprometendo a objetividade. Além disso, o repórter está sujeito a interesses da direção do veículo para o qual trabalha. É importante pensar no jornal como um produto, que atende a um determinado público-alvo. Sendo assim, é perfeitamente compreensível que os jornais trabalhem a favor do interesse de um público específico, e não do público geral.

Abordagem diferente

Como vimos, tanto repórter quanto assessor de imprensa enfrentam uma luta ética no seu cotidiano de trabalho. De acordo com Daniel Bougnoux, o jornalista pode trabalhar em rádio, TV ou em assessoria de imprensa, mas terá que lidar com a ética profissional e a ética do patrão. Caso não concorde com algo, pode pedir demissão ou aceitar trabalhar calado para manter o emprego.

À parte a polêmica, o fato é que o profissional de assessoria de imprensa é antes de tudo um jornalista. Ele precisa realizar seu trabalho de forma eficaz e ter um material que se diferencie dos outros para chamar a atenção dos repórteres. Para tanto, o relacionamento entre a imprensa e a assessoria deve respeitar algumas regras de companheirismo. É preciso que haja confiança, linguagem comum entre ambos e que as ferramentas de assessoria sejam usadas de maneira correta, além de alguns rituais terem que ser cumpridos com base em códigos de conduta especiais.

A abordagem de cada uma das funções é diferente, mas em nenhum momento é permitido a qualquer das duas faltar com a verdade. No filme A Embriaguez do Sucesso, lançado em 1957, é possível ver um mau exemplo, tanto de repórter quanto de assessor. Ambos voltados para seus próprios interesses, trabalhando de acordo com favores e não medindo esforços para alcançar o que desejam. O longa se passa em Nova York e apresenta um retrato duro do jornalismo na década de 1950.