Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A comunicação que ninguém vê…

O que há por trás das comunicações? Esta pergunta deveria ser feita pelos cidadãos no sentido de melhor conhecer os bastidores do processo comunicativo, pois há muita névoa no mundo da comunicação que esconde interesses, situações políticas, dominação econômica e vários tipos de fenômenos constantes nas relações sociais do mundo moderno onde o capital modela visões, ideias e concepções de mundo que às vezes são passados de modo supostamente desinteressado para espectadores, leitores ou ouvintes, ocultando o verdadeiro sentido do que se passa no mundo das trocas de favores e dos processos políticos que estão engendrados em nossas relações.

Assim, não podemos admitir que usuários da comunicação sejam tratados como inocentes úteis , desprovidos de conhecimento e que não sabem distinguir a verdade da mensagem trucada ou das emissões que procuram colocar ideologias em prática por parte dos que fazem a notícia. Claro que no processo de geração de matérias ou reportagens há sempre um interesse dos que a produzem e cada reportagem de rádio, televisão ou jornal visa a atender um grupo ou casta de poder que temos no espaço de nossa vivência em sociedade.

Falar em jornalismo independente é claro que é um pouco impossível no regime em que vivemos, moldado pelos interesses do capital e pela dominação que ora está em vigor e na qual quem tem poder fala mais alto e dita as regras do jogo. A solução para tudo isso seria um pouco de reação por parte da população que ainda está inebriada e prefere a distração em vez da informação. Talvez seja por conta disto que programas que propagam sexo , troca de casais, traição ou fama fácil estejam entre os que mais rendam colocação no ranking de audiência e maior apoio por parte dos patrocinadores, que sabem que podem aliar seu produto ao mau gosto e à baixaria.

Uma democratização de verdade

No mundo das comunicações, o elemento formação do jornalista é essencial, pois por ano saem muitos profissionais desprovidos do conhecimento de geopolítica, do entendimento de ideologias e do fiel cumprimento dos preceitos do Código de Ética de sua categoria, coisas que não estão presentes no diploma superior de jornalismo. A situação dos meios de comunicação no Brasil é de uma quase completa subserviência aos interesses políticos e econômicos, pois o acesso ao domínio dos meios de comunicação é impossível a grupos populares que não têm subsídios para instalação de uma rádio alternativa (sucatearam as comunitárias) ou produção de material jornalístico de cunho popular sem corporativismo ou formação de guetos ideológicos.

Os meios de comunicação precisam ser democráticos e seus usuários precisam ser cada vez mais críticos e exigentes para com a mídia que se processa. Ouvir, ler e assistir têm de ser tarefas de análise abalizada para filtrar conteúdos e distinguir os interesses que estão atrás das mensagens que nos chegam. Para tudo isso, é preciso mudar também o processo educativo de nosso povo, garantindo um estudo crítico, reflexivo e entender de ideologias subjacentes nos discursos dos jornalistas, editores e radialistas que, infelizmente, sempre dizem amém para os donos do poder.

E preciso que sejam organizados conselhos de leitores com voz altiva, serviços de ouvidoria que realmente funcionem, grupos de leitura crítica da mídia que não sejam meros reprodutores de interesses que estão presentes nos atuais modelos de ação já vislumbrados na malfadada Conferência Nacional de Comunicação. A comunicação precisa ser verdadeira, crítica, reflexiva e satisfazer os interesses realmente populares para dar ao povo oportunidade de saber dizer o que quer do mundo e o que quer de sua vida.

Os jornais de nosso país não são democráticos, as emissoras de televisão só têm programas que atendem interesses dos poderosos e as revistas de circulação nacional são dominadas por grupos políticos que condicionam matérias e denúncias. Por tudo isso, é preciso democratizar de forma verdadeira a comunicação para que nosso povo possa ser brindado por uma comunicação que realmente atenda à verdade e à mudança.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE