Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A falta de boas notícias nos jornais

Em 2005, fiz a minha dissertação de conclusão do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Na época, estava em busca de um tema diferente, como a maioria dos estudantes. Juntamente com minha orientadora, Beatriz Schmidt, definimos como tema a falta de boas notícias nos jornais.

O primeiro questionamento que veio a cabeça foi: fazer um jornal apontando apenas boas notícias pode ser considerado, de fato, jornalismo? Embora não haja uma bibliografia específica para o tema, quebramos alguns paradigmas.

Há inúmeras definições para jornalismo e de como praticá-lo. Com as inovações tecnológicas e o fim da exigência do diploma na profissão, essas regras tornaram-se ainda mais deslizantes. Há uma frase de Assis Chateuabriand que se mostra bem temporal: ‘Quem quer publicar suas próprias opiniões, que crie um jornal.’

As publicações atuais mostram que a ideia antiga de que jornais sensacionalistas vendiam mais é falsa. O jornal mais vendido continua sendo a Folha de S.Paulo. Em minha apresentação, separei a capa do dia dos principais veículos do país. Analisando manchete por manchete, cheguei à conclusão que a Folha tentava equilibrar sua primeira página com boas e más notícias. Os jornais ditos populares seguiam uma tendência contrária: as manchetes beiravam o sensacionalismo e o surreal. O que mais me chamou a atenção foi o fato de as ditas boas notícias serem derivadas de más notícias. Explico: o traficante X ser preso é uma boa notícia, mas o fato de não termos uma segurança pública eficiente é uma má notícia.

Função tem sido criada por blogs

O que implica, então, na criação de um jornal apenas com boas notícias? Questionamentos ocorrem: a) O jornal estará cumprindo sua função social; b) O jornal terá leitores?; e c) Os anunciantes terão interesse neste tipo de publicação? São perguntas respondidas por um planejamento normal, na criação e publicação de qualquer veículo de comunicação. Talvez, a maior polêmica seja o primeiro tópico. O jornal cria, sim, sua função ao definir sua editoria e ainda age de forma transparente com seu público.

Para se ter ideia da importância deste tema, no último dia 29 de dezembro, o jornal croata 24 Sata publicou um periódico especial com apenas boas notícias. Editorias como política e crime foram abolidas nessa edição. De acordo com Alen Galovic, editor da publicação, a capa ‘traz um pouco de luz e um pouco de esperança’. A repercussão do veículo foi mundial devido ao quase ‘ineditismo’ da ideia.

Ressalta-se que aqui, no Brasil, essa função de levar boas notícias tem sido criada por blogs. Eu, mesmo, tento seguir essa orientação na publicação dos meus posts.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ