Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A filosofia do técnico

Finalmente, a tão esperada lista dos 23 jogadores que vão à Copa do Mundo foi revelada. A reação por parte das pessoas tem sido um tanto negativa, de forma geral, principalmente por não levar Neymar, Ganso e Ronaldinho Gaúcho. O último foi alvo de nova polêmica na semana que antecedeu a convocação. A Folha de S.Paulo publicou a informação de que houve uma conversa entre Pelé e Dunga na qual o técnico teria revelado que o dentuço teria mais chances de estar na lista final do que Neymar. [Após conversa com Dunga, Pelé diz que Ronaldinho tem mais chances que Neymar http://www.clicrbs.com.br/esportes/sc/noticias/,2893122,Apos-conversa-com-Dunga- Pele-diz-que-Ronaldinho-tem-mais-chances-que-Neymar.html].

Mas o treinador desmentiu o fato e disse que a última vez que conversaram teria sido em outubro do ano passado [‘Dunga nega ter conversado sobre convocação com Pelé‘].

Após o resultado da convocação, pessoas de todo o país afirmam que não vão torcer para o Brasil. Mas a verdade, nua e crua, é que todo mundo sabia qual seria a lista de Dunga, ou pelo menos já visualizava a maior parte das figurinhas de seu álbum. Perdão aos mais frustrados, mas é muita inocência achar que o ex-volante, de personalidade forte, mudaria grandes peças no último momento. O técnico da seleção aposta na marcação, no contra-ataque e na vitória (por mais sofrida que seja), acima de tudo.

Faltam muitas ‘estrelas’

No entanto, há de se concordar que segundo a tal coerência de Dunga, Grafite não deveria estar ali. E nem Kléberson, mas para este ainda existem os argumentos de que o jogador já disputou uma Copa do Mundo e atua em várias posições no meio de campo. Por estas e outras, Dunga contraria a máxima de que o torneio mundial da Fifa se joga com os melhores do momento. Doni e Júlio Baptista, do Roma, que o digam… Ambos estão no banco de reservas da equipe italiana. Mas de certa forma, se formos além, a boa fase do goleiro Gomes no Tottenham Hotspurs, da Inglaterra, certamente pesou na sua convocação.

Mas a lista de suplentes, que o treinador divulgou ao fim da tarde para o caso de haver contusões graves no grupo principal, é digna de uma famosa frase dita por Mário Jorge Lobo Zagallo: ‘Aí, sim, fomos surpreendidos novamente…’ Por que deixar jogadores daquele nível na lista de espera? Para dizer que agradou a gregos e troianos? Para dizer que, apesar dos pesares, considerou o apelo popular? Isso, sim, é incoerência. E tomara que não seja verdade, mas é bem provável que existam torcedores brasileiros por aí torcendo para que algo impeça alguns dos selecionados de voarem para a África, resultando na abertura de vagas para jogadores como Ganso e Ronaldinho.

Contudo, a falta de algumas estrelas na lista não é visível somente na convocação da seleção brasileira. Entre as várias equipes que disputarão o torneio mundial, na pré-lista dos hermanos, por exemplo, os argentinos Esteban Cambiasso, Fernando Gago e Javier Zanetti ficaram de fora. Na França, a revelação Nasri também rodou. Na Itália, mesmo reconsiderando a volta para a azurra, Totti não foi chamado.

Vontade de vencer

Enquanto os que estão em atividade não são chamados, os aposentados nas seleções são disputados. Paul Scholes, aposentado da seleção inglesa não aceitou o chamado de Fabio Capello para a pré-lista. Já o experiente Carragher, também aposentado, não recusou, mas não é plena certeza de presença na lista final.

Existe um pensamento de que a mídia reflete aquilo que o povo quer ver e ouvir. Nos casos de Neymar e Ganso, o apelo popular motivou a mídia a falar deles cada vez mais em suas transmissões esportivas, noticiários e jornais. E fica claro que só não entraram devido à filosofia de Dunga, a máxima da competência e do comprometimento, algumas das palavras repetidas na coletiva de imprensa. No caso de Ronaldinho, nem a alternativa do desespero midiático funcionou. Mas o que levou o jogador a estar na lista de suplentes foi o nome criado pelo próprio jogador em sua trajetória. Contudo, ainda faltou o tal meia, reserva de Kaká entre os 23.

Uma coisa é certa: Dunga, vencedor da Copa América, da Copa das Confederações e que classificou a seleção para a Copa do Mundo, está correndo sérios riscos diante do povo. Vamos ver como a mídia o tratará depois de uma grandiosa campanha ou desastrosa classificação. Ou, quem sabe, algo mais equilibrado, como uma campanha sofrida ou uma desclassificação lutadora (por mais que seja difícil visualizar esta postura, com o elenco escolhido). Vale ressaltar que logo após o início de sua trajetória, grande parte dos jornalistas dizia que o tal não merecia o cargo. A reformulação da seleção gerou inúmeras controvérsias principalmente pela perda da característica ‘artística’ e ofensiva para dar lugar à forte marcação e aos contra-ataques. Mas quando os bons resultados começaram a surgir, parte dos jornalistas passou a apoiá-lo. E agora, com a convocação, as contestações voltaram.

O país do futebol vive, sim, uma ausência de grandes craques consolidados, o que gerou mais indignação pela não convocação da turma do Santos e do Gaúcho. Mas, ainda assim, Dunga possui uma vantagem em sua filosofia: vontade de vencer. Em 2006, tudo aparentava estar a favor, mas o resultado não foi o esperado pela maioria. Agora, parece que há mais fatores contra, mas até aqui, os principais jogos e torneios disputados foram vencidos. Resta saber se este otimismo vai durar quando a equipe precisar reagir a um placar apertado contra uma grande seleção, por exemplo.

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Estudante de Jornalismo da Unasp, Engenheiro Coelho, SP