Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A grande guerra midiática

É insuportável começar um artigo sobre TV usando o termo ‘pelo Ibope’, embora acredite que possa tranqüilamente abordando o tema aludir claramente a tal palavra ‘secreta’ de seis letras, a que não citei ainda.

Ademais do fenômeno A Fazenda, que refletiu índices recordes em programas como o Hoje em Dia, Geraldo Brasil, dentre outros da casa nos dias em que repercutiam as polêmicas do reality. A revista matinal da Record registrou 14 pontos e o programa de Geraldo Luís 13 pontos de média na última quinta (20/8), índice recorde das duas atrações desde suas respectivas estréias. Neste mesmo dia, a Record alcançou sua maior média em 2009. Foram 11 pontos entre sete da manhã e meia-noite.

Há tempos que a emissora tem investido em frentes múltiplas para alcançar o almejado posto de emissora líder no país, o que ao menos diz pretender. O combate entre as duas maiores redes do painel nacional atual segundo a Folha Online de 22/08/2009, está por iniciar uma nova fase. O combate via documentários. A Record comprou na quarta-feira (19/8) os direitos de Muito Além do Cidadão Kane, produção inglesa de 1993 com pesadas críticas à Rede Globo. Em contra-ataque, a Globo negocia Universal, Uma Ameaça ao País dos Crentes (2002), documentário francês inédito no Brasil e no YouTube.

Um aviso aos navegantes

Para quem não tem idéia de que se trata em ambos os documentários é válido aludir ao que se propõe cada um dos trabalhos.

O filme francês, produzido pela TV católica francesa KTO, retrata a relação estreita entre igreja e emissora de TV. Ainda segundo a produção, não passa de um meio para Macedo aumentar sua própria influência política. A certa altura, entrevista o atual senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que admite que o governo ‘aceitou’ a venda da Record para uma igreja, embora isso fosse, à época, vetado pela Constituição.

Muito Além do Cidadão Kane, que está na íntegra no Google Videos, foi idealizado como programa em quatro blocos para o canal inglês Channel Four, em 93. Convencionou-se chamar essa obra de documentário porque, depois da TV, os blocos foram unidos e vendidos na íntegra em CDs e fitas piratas no Brasil e em outros países. Muito Além do Cidadão Kane, produção inglesa de 1993 com pesadas críticas à Rede Globo. Tem em momentos depoimentos de grandes figuras históricas como: Leonel Brizola, Antonio Carlos Magalhães e até mesmo o atual presidente, quando ainda era um sindicalista de esquerda.

Ratificação de retóricas

A Record fez uma aquisição poderosa comprando o documentário Muito Além do Cidadão Kane (Beyond Citizen Kane). A emissora fechou o negócio nesta semana, mas já havia tentado adquirir os direitos de exibição para TV brasileira nos anos 90. Segundo apurou a Folha Online, o material saiu por menos de US$ 20 mil para a emissora do bispo Edir Macedo.

Detalhe nesta historieta dentro desta grande história que é a batalha entre Globo e Record é que a emissora do falecido Roberto Marinho já havia tentado comprá-lo para que o pudera engavetar. A grande sacada de Simon Hartog, diretor da obra e que morreu em 1992, foi a analogia entre dois personagens que justamente vai a justificar o título da obra. Transmitido pela primeira vez em 1993, no Reino Unido, onde o empresário Roberto Marinho surge como ícone da concentração da mídia no Brasil, em referência a Charles Foster Kane, magnata das comunicações vivido pelo cineasta Orson Welles em Cidadão Kane (1941).

Tentei refutar o inevitável, usar a palavra secreta do artigo. A batalha via documentários é uma busca de ratificação de suas retóricas discursas, dentro da GGM que os dois impérios por fim as claras resolveram travar. O que na verdade é uma grande estratégia. Sempre em várias rodas de violão de minha adolescência acabávamos por perguntar-nos: ‘O que será que tem nesse tal Muito Além do Cidadão Kane que faz a Globo querer proibir a exibição no Brasil?’

O que a Globo não contou

Detalhe, na época não havia Google, YouTube etc… Mas nada como uma vinculação em rede nacional e que vai mais que esquentar a GGM brasileira.

Obviamente que já assisti trechos de ambos documentários. Não inteiros, pois a qualidade de imagens e som são sofríveis. Mas creio que hoje saiu na rua com meu violão a imaginar-me um fedelho e a gritar, ou quiçá compor uma canção. Aonde poderia eu a falar sobre este tema, onde o refrão seria:

Finalmente irei saber o que a Globo tem a temer…

Kane me diga o que passou

O que a Globo não contou

Por tantas décadas de história

Kane me diga o que passou

Por anos que estou

A ermo de minha história

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Ator, diretor teatral, cantor, escritor e jornalista