Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A hora da verdade

Dificilmente você terá visto na mídia, durante os últimos anos, uma foto como a que está acima. O que ela tem demais? É da manifestação que aconteceu no domingo [8/8] em Caracas, na Venezuela, a favor da permanência de Hugo Chávez no poder após o referendo que ocorrerá no país no dia 15. E isso porque as fotos das manifestações chavistas distribuídas pelas agências de notícias internacionais nos últimos anos eram quase sempre em close fechado, o que permitia que se visse apenas pequenos grupos de partidários do presidente venezuelano.

Ao mesmo tempo, entretanto, as fotos das manifestações da oposição eram sempre ‘aéreas’, mostrando enormes massas humanas. Outra mudança radical no noticiário sobre a situação política na Venezuela é que agora há até fartura de informações de que existe grande possibilidade de Chávez vencer o referendo que decidirá sobre se permanece no poder ou não.

Escondidos das mídias

Porém, até pouco antes da consulta popular recente que decidiu sobre a realização do votação do próximo domingo, o que predominava na televisão, nos jornais, na internet etc. era a versão de que o presidente venezuelano era odiado pela maioria esmagadora de seu povo, e que não queria o referendo porque sabia que o perderia.

É preciso que se diga, porém, que se Chávez não aceitara antes a realização da consulta popular era porque a Constituição do país a permitia somente a partir deste mês de agosto de 2004, e a oposição queria antecipá-la, violando a lei maior do país. Durante os últimos anos, foi freqüente ver Chávez sendo chamado de ‘ditador’ pelas mídias. E isso mesmo a despeito de que desde que assumiu o poder, em 1998, jamais praticou um só ato de desrespeito à Constituição aprovada em Assembléia Nacional Constituinte e referendada pelos venezuelanos; e mesmo a despeito de – como nenhum dos badalados (pela mídia) governantes ditos ‘democratas’ de toda parte já teve coragem de fazer – submeter o próprio mandato a referendo popular dois anos depois – espontaneamente, diga-se –, e ganhar de novo.

Além disso, quem agiu de forma ditatorial foi a oposição a ele, que em abril de 2002 tentou dar um golpe de Estado e fechar o Congresso democraticamente eleito quatro anos antes. Desde que estive na Venezuela a trabalho, há cerca de dois anos, venho dizendo que era mentira aquele repúdio popular esmagador que as mídias brasileira e mundial garantiam que havia de parte da maioria dos venezuelanos a Chávez. Eu dizia isso porque, ao fim daquela viagem de negócios, buscando a verdade reservei dois dias para subir os ‘cerros’ no entorno de Caracas, onde o povão, os mais pobres, os socialmente segregados que sempre apoiaram o presidente da Venezuela, ‘escondiam-se’ das mídias.

Não todo o tempo

Fiquei sabendo, então, dos muitos programas sociais do governo venezuelano e da revolução social e distributivista de renda que estava acontecendo no país, e da esperança que Chávez representava – e ainda representa – para legiões de miseráveis de sua pátria. Mas, como sempre digo, a verdade é uma força da natureza. Assim, sua hora está chegando. Mesmo que Chávez perca o referendo do próximo domingo será por margem extremamente apertada, apesar de estar há tantos anos no poder.

Ora, quantos badalados governantes ditos ‘democratas’ podem dizer que contariam com o mesmo apoio popular após tanto tempo governando? Bem, ao menos uma verdade sobre a situação política na Venezuela já aflorou: a de que o ódio generalizado dos venezuelanos a Hugo Chávez Frías nunca passou de uma das maiores mentiras que já dominaram o mundo.

Mas, como disse Abraham Lincoln certa vez, ‘pode-se enganar todas as pessoas por algum tempo, e algumas pessoas durante todo o tempo, mas não se pode enganar todos o tempo todo’.

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Comerciante, São Paulo