Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A imprensa e o terror

O modo como as coisas estão caminhando nessas eleições é indicativo de uma triste realidade: não temos uma imprensa que preste! E sua deficiência maior não é a formação profissional, mas a deficiência de caráter. Se personalidade a imprensa possui, ela é desonesta e leviana, mas é claro que estou generalizando e, como generalista, afirmo: o público consumidor não merece respeito e muito menos compromisso.

O vínculo não está com o leitor (ou telespectador) e muito menos com a verdade dos fatos, ou argumentação dos contrários, mas em promover aqueles cujos interesses políticos lhes são mais convenientes. A estes últimos a imprensa serve com determinação e parcimônia. E, tal o grau de promiscuidade entre as partes, que fica difícil distinguir onde é um, onde é outro.

Esta união feroz e desleixada, de tão escancarada que está, de tão sem vergonha que é, promove um terrorismo que, de tão grande, cria um reverso: o medo que essa gente tome o poder, afinal, com qual tipo de gente estamos lidando?

Lidamos com uma gente que joga tudo e com tudo. Não importa que seja a reputação do presidente da República ou do próprio país. Não importa que nesse jogo histérico o futuro da população e das instituições democráticas possa ser abalado. Nada a eles importam, a não ser seus objetivos de poder e junto ao poder.

Algo moldável e manipulável

Nesse saco onde se alimentam e defecam falácias e intrigas para a sociedade, através de pesquisas e denúncias não comprovadas, não se localizam apenas aqueles cujos jornais, ou empresas de pesquisas, ou semanários e programas de televisão difamam e contorcem a verdade, mas também os políticos, que ao se auto-denominarem democratas e visionários, não só se beneficiam dessa patranha, mas a instigam e a orientam, de acordo com as suas necessidades.

O consumidor final desses noticiosos, cidadão ou não, pouco importa. Através do princípio estímulo-resposta, da causa e efeito, muda-se a realidade e a sua percepção. Ser leitor (ou telespectador) é uma generalização, porém, nesta relação ativo-passivo, onde seu lugar ‘natural’ está no segundo, ele se despersonaliza ainda mais. Ele é a ‘massa’. E como tal deve ser moldado.

Não existe definição mais cruel e tão mais contundente em objetividade do que essa. A ‘massa’ descaracteriza e despersonaliza o ser humano. Torna-o algo sem caráter e sem vida própria, algo moldável ao bel-prazer de quem o manipula, pois o objeto manipulável é simples objeto, não é sujeito.

Com que tipo de gente estamos lidando?

A idéia do leitor/eleitor como parceiro, como ser provido de inteligência e discernimento, não existe, caso exista, deve estar localizada em alguma nota perdida nos ‘manuais de redação’ do tipo ‘faça-o pensar que…’

A relação mantida pelos principais órgãos da imprensa não leva o seu leitor a sério. Tratado ora como criança, que através da confiança depositada naquele que possui o poder da informação, é manipulado. Ora tratado como marido traído e manso, pois mesmo sabendo da traição, nada faz a não ser persistir numa relação enganosa, com se séria fosse.

A ‘massa’ serve tanto aos interesses da imprensa que ‘cria’ a realidade na qual ela deve se basear, como a do político que se beneficia dessa imprensa que o legitima perante essa mesma ‘massa’. De tal sorte que nesse jogo vence quem exibir menos escrúpulos ou falta de coerência política (ou ambos!). Mutatis mutandis, uma mão lava a outra e ambas podem chegar ao poder, o que nos leva à pergunta inicial: com que tipo de gente estamos lidando?

‘É o horror! É o horror!’

******

Psicólogo, Curitiba, PR