Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

A mentalidade colonial em ação

O jornalista Ricardo Kotscho postou na sexta-feira (11/2) em seu blog o seguinte:

‘Chega a parecer deboche. Enquanto o país discute há semanas se o novo mínimo deve ficar nos R$ 545,00 propostos pelo governo, somos informados que o gabinete de cada vereador paulistano nos custa R$ 114,4 mil por mês.

Além do salário fixo, que acaba de ser reajustado em 61,8%, indo para R$ 15.031,00, os nobres edis gastam mais R$ 84.407,00 com até 18 assessores e R$ 15.393,00 para as chamadas `despesas diversas´, segundo o noticiário da Folha desta sexta-feira (10/2).

Ficamos sabendo também que os deputados estaduais custam mais caro ainda: R$ 135,8 mil por mês, ou seja, R$ 20 mil a mais do que pagamos por um gabinete de deputado federal.

Tudo isso para quê? Quando o agora campeão de votos Tiririca perguntou, durante a campanha, o que faz um deputado federal, quantos eleitores saberiam a resposta certa? Quem sabe dizer para que serve um vereador ou um deputado estadual? O que eles têm feito para melhorar as nossas vidas?

Dá para acreditar que os vereadores torram mais de R$ 1,7 milhão só com correios numa época em que o mundo se comunica pela internet? A propósito, para a manutenção de sites, eles gastam outros R$ 199,6 mil. É uma farra do boi, uma festa do caqui com o dinheiro público, em que ninguém precisa prestar contas a ninguém.

E, depois de tudo, estas excelências todas ainda se aposentam com salário integral…’ (ver aqui).

Já disse aqui e em outros lugares que ‘o Estado brasileiro é fruto de uma convenção brutal’ (ver aqui). A mentalidade colonial se infiltrou na política, na cultura e até no jornalismo televisivo brasileiro (ver aqui). O que Ricardo Kotscho narra é apenas um registro eloquente da mentalidade colonial em ação.

Os ‘mais iguais’ e os ‘menos iguais’

Há algo de podre no coração da República. No coração do PT, do PSB, do PSTU e de todos os partidos que se dizem de esquerda também há muita podridão, pois no Brasil socialistas e comunistas de todas as cores também já se acostumaram a receber salários gordos e a desfrutarem dignidades gratificantes com dinheiro dos contribuintes. ‘Tu quoque, Lule, filii mei! ‘ Disse o Brasil ao saber que Lula concedeu passaporte diplomático para seu filho predileto.

Ontem disse no Twitter que, para mim, MPF significava Mito Profundamente Fraco (pois, como todos sabemos, o Paulo Maluf está no Congresso e o juiz Nicolau dos Santos Neto está em casa). Inconformada, a procuradora Janice Ascari respondeu meu Twitter da seguinte forma:

‘@FabioRibeiro então vc não conhece nada do MPF, meu caro. Estamos no Brasil todo e não só aí no interior de SP, viu?’ A resposta da ilustre procuradora é muito eloquente, pois demonstra quanto a mentalidade colonial pode ser sutil. Na CF/88, que os procuradores têm por obrigação funcional defender e ajudar a fazer cumprir, está escrito que todos são iguais perante a Lei sem qualquer distinção. Apesar disto, a resposta de Janice Ascari sugere que os cidadãos da capital são ‘mais iguais’ e os do interior são ‘menos iguais’.

Rios de sangue terão que correr para que os sobreviventes comecem a respeitar uns aos outros como iguais em direitos e obrigações independentemente da origem, da conta bancária, do nome de família e do cargo que ocupam ou da cidade que habitam. Ainda bem que sou apenas um homem mortal e em breve não precisarei ver este país ser despedaçado. Mas não tenho dúvidas de que isto ocorrerá em algum momento do futuro.

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Advogado, Osasco, SP