Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A mídia contra o povo

O referendo realizado na Venezuela (domingo, 15/8) demarca um momento crucial para a história do continente latino-americano. Estarão em jogo duas propostas de governo distintas. De um lado, a oposição fomentada pelo líder norte-americano George W. Bush; do outro, o projeto antiimperialista movido pelo presidente Hugo Chávez Frias, repudiado pela burguesia local e pelos meios de comunicação, estes voltados a convencer o povo venezuelano a apoiar as velhas oligarquias do país.

Neste quadro complexo e instável politicamente, a mídia venezuelana assume uma postura conservadora à luz da teoria ensinada aos profissionais da comunicação. Em outras palavras, as concepções que direcionam os jornalistas a buscar incansavelmente a pluralidade de argumentações, como a transposição democrática de informações ao conjunto de indivíduos racionais que formam uma sociedade, se excluem em larga escala da conjuntura midiática do país.

Mas a sustentação evidente aos opositores de Hugo Chávez por parte dos veículos de comunicação de massa não se limita ao palco do futuro referendo. No Brasil, os jornais de maior circulação passaram a contemplar uma maior atenção à situação dos nossos vizinhos latinos apenas alguns dias antes do acontecimento.

Temor da revolução

Os acontecimentos na Venezuela de Chávez podem ser visualizados em sítios da internet e em publicações de menor abrangência. Pode-se encontrar também diversas referências ao referendo revogatório do presidente Chávez em revistas como Caros Amigos, ou em jornais como Brasil de Fato.

Cintila então a eloqüente pergunta: por que os grandes veículos de comunicação brasileiros demonstram de maneira tão supérflua as conquistas antiimperialistas e antineoliberais sustentadas na soberania nacional? A resposta pode ser vinculada facilmente à ideologia predominante nos patrões do jornalismo nacional. As grandes empresas de comunicação invertem os valores da ética jornalística para beneficiar os aspectos financeiros gerados através da publicação de informações condicionadas a agradar os investimentos estrangeiros – principalmente estadunidenses.

Quando um governo como o do presidente Hugo Chávez decreta mudanças na estrutura social, legislativa e política de um Estado controlado anteriormente por um grupo de antiquados dominadores oligárquicos, acaba despertando reações típicas dos processos de manipulações ideológicas. Muito da restrita tendência antichavista é fundamentada no temor de uma revolução social em território venezuelano, culminando em medidas desesperadamente radicais adotadas pelos supostos formadores da opinião pública do país. Digo ‘supostos’ devido ao fato de que a vitória do presidente Hugo Chávez é apontada por pesquisas realizadas até mesmo por institutos oposicionistas.

Muralhas a derrubar

Talvez estejamos frente a um enfraquecimento dos conjuntos midiáticos, enraizado na Venezuela e oriundo da perda de credibilidade nos agentes transmissores das informações ao povo local. Em contraponto, a aceitação popular do presidente Chávez em todos os movimentos sociais, sindicais e trabalhistas na América Latina provém de um verdadeiro enfrentamento ao imperialismo norte-americano. A força opositora aos predadores imperialistas deposita na vitória do presidente Chávez a renovação de suas esperanças

De certa forma, numa outra vertente interpretativa, a presidência de Hugo Chávez não congrega todos os pilares necessários para a implantação de um sistema igualitário e democrático. Como dizem os próprios militantes pró-Chávez, ainda há muitas tarefas a se construir num país dilacerado historicamente por políticas neoliberais, concentradoras e excludentes.

É impossível concluir a lógica de pensamento diluída nos parágrafos acima sem retornarmos e frisarmos a participação da mídia local na política da Venezuela. Enquanto um setor de relevância primordial para a construção de uma sociedade mais justa estiver nas mãos de uma elite individualista em qualquer nação, a luta igualitária se defrontará cada vez mais com muralhas a serem derrubadas. Mas, se tudo ocorrer a favor do presidente Chávez no dia 15 de agosto, a credibilidade da mídia estará posta em xeque por toda a América Latina, bem como a importância de seus pensamentos.

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Estudante de Jornalismo da Famecos/PUC-RS