Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A operação-abafa da mídia

Imaginem o governador do estado de São Paulo; imaginem se ele fosse do PT; ele não precisa ser candidato à presidência do Brasil. Não, nem precisa. Basta ser petista. Imaginaram? Continuem então: ele é acusado por um deputado estadual de sua base aliada. Aliás, digamos que este governador, que é do PT e não é candidato a presidente, esteja sendo acusado por um deputado do partido aliado do PT em todos os níveis. O tal deputado está dizendo que o próprio governador lhe ofereceu um suposto suborno ou algo do gênero; o governador, pessoalmente, fez isso. Bem, mesmo que a imaginação de vocês não seja muito criativa, é claro que sabem qual será a capa da Veja posterior a tais acusações, não sabem? Qual será a matéria da capa da Folha de S.Paulo, do Globo, do Estado de S.Paulo? O Jornal Nacional, o Jornal da Record e outros televisivos, então, nem precisa ter imaginação para saber qual a chamada principal.

De volta à realidade, o governador da ficção é Geraldo Alckmin. Mudando algumas coisas (principalmente siglas), o restante é tudo verdade. Ah, claro, exceto as últimas linhas, em que pergunto qual será a capa da Veja (nem uma notinha!), da Folha, do JB, Estadão etc. etc. etc. Esta última parte não se tornou realidade, e a pergunta que se faz é: é somente por ser o PSDB? Se estivesse o PT no rol dos acusados todos não explorariam ao máximo o assunto? Não esgotariam teses das mais absurdas, jogadas ao léu pela oposição? Este humilde observador pensa que sim. Pensa que a imprensa é parcial, no pior sentido da palavra – sim, há um sentido eticamente correto na palavra parcial, mas não é caso, pelo menos, da maioria.

A notícia: o deputado estadual Afanásio Jazadji, do PFL, acusou, em entrevista a diversos veículos de comunicação, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) de negociar ele mesmo, pessoalmente, o esquema do governo paulista para beneficiar a imprensa com verbas de publicidade da Nossa Caixa. A denúncia está ‘disponível’ desde o dia 28 de março, quando foi publicada na Folha sem destaque algum.

Adivinhem

E a expressão ‘diversos veículos de comunicação’ deixa-me deveras preocupado. Sabemos que estes ‘meios de comunicação’ quase todos têm base (ou, pelo menos sucursal) em São Paulo. Então teria algo mais nessa operação-abafa, como já está sendo chamada pela oposição em São Paulo. Na verdade, não seria nada demais, não; trata-se de uma simples operação-abafa de quem estaria metido até o pescoço nesta (sempre bom lembrar, possível) ‘maracutaia’.

Talvez eu esteja imaginando demais. Mas no dia 31 (quinta) minha imaginação leu que o editorial do Globo dizia que as privatizações das estatais seriam o ‘antídoto eficaz’ de se acabar com ‘o propinoduto’. Vai além, diz que ‘é a única maneira infalível’ de derrotar a corrupção. Opa, e minha imaginação também diz que esta é uma das metas do candidato Alckmin. Hummmm…

Outro dos suspeitos (pois todos parecem suspeitos, dado o silêncio quase absoluto), o apresentador José Luiz Datena, do programa Brasil Urgente (Bandeirantes), com uma pauta tão interessante preferiu, durante uma semana inteira, falar da tal ‘dança da pizza’ da Angela Guadagnin. Mandei-lhe três e-mails, e nem citação do meu pedido para que se falasse do assunto das denúncias. Totalmente ignorado. E, parece, para provocar, na sexta-feira (31) Datena falou de Alckmin, que ele é um bom político e que poderia ser o próximo presidente do Brasil.

Ah, agora, para terminar a sessão de imaginação, adivinhem de que estado são o Datena e seu programa Brasil Urgente

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Editor do jornal de cultura Platéia