Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A poderosa e misteriosa lista de best-sellers

O ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, escolheu como tema de sua coluna de domingo [21/10/07] a lista de best-sellers do diário. ‘A lista de best-sellers do NYTimes é uma instituição poderosa e misteriosa que tanto divulga quanto estimula a venda de livros em todo os EUA’, afirma Hoyt. De fato, a lista – dividida em 13 itens – é exposta em diversas livrarias e os livros que conseguem uma posição no índice carregam muitas vezes na capa a informação ‘Best-seller no New York Times‘.

Até hoje, o autor mais citado na lista foi o romancista James Patterson – 37 vezes, algumas com co-autores, sendo que 25 como primeiro lugar. Patterson ainda lembra quando seu livro Along Came a Spider ficou em primeiro lugar no ranking, em 1993. ‘É uma sensação de que eu finalmente consegui chegar lá’, conta.

Já não conseguir ter o livro na lista, ou então ficar nela por apenas uma semana, pode ser devastador. Larry Kirsbaum, ex-executivo-chefe do Time Warner Book Group e agente literário, confirma que a lista do NYTimes é ‘o padrão ouro’, sendo mais influente que as publicadas em outros jornais. No entanto, o índice, feito em segredo, não é um termômetro acurado do que o público está comprando, e, de tempos em tempos, gera controvérsias. No mês passado, por exemplo, o livro Night, de Elie Wiesel, que conta sua história em um campo de concentração nazista, saiu da lista porque o editor achou que o livro era um clássico e, portanto, não deveria mais compor mais o ranking.

Sem aviso prévio

Night vendeu milhões de cópias desde que foi publicado em inglês, há 47 anos, e estava tendo sucesso similar com a tradução da esposa de Wiesel, Marion. No ano passado, o livro chegou a estar simultaneamente em três lugares na lista de não-ficção: no primeiro lugar, no terceiro, com a edição original, e no sétimo, com a edição em capa dura. Porém, no dia 23/9, Night saiu da lista, após 80 semanas – mesmo estando em nono lugar na semana anterior e com a informação, pela editora, de que as vendas estavam crescendo. ‘As pessoas me ligaram para saber o que havia acontecido e eu não sabia explicar’, disse Wiesel.

Hoyt também ficou intrigado e investigou como a lista é feita, compartilhando o que descobriu com os leitores. É o departamento de pesquisa do jornal que se responsabiliza pela elaboração da lista, e não o editor de crítica de livros, Sam Tanenhaus – apesar de o ranking ser publicado nesta seção. A lista não é tabulada a partir de questionários enviados a livrarias, sendo inteiramente computadorizada. Enquanto o USA Today e o Wall Street Journal fornecem aos leitores o nome das livrarias que entrevistam, o NYTimes se recusa a fazê-lo, por medo de que algumas pessoas tentem inflacionar as vendas ao fazer compras estratégicas nas livrarias pesquisadas.

Ainda com esta cautela, há quem tente manipular a lista. Segundo Michael Korda, ex-editor-chefe da Simon&Schuster, alguns contratos prevêem bônus de até US$ 100 mil caso o livro chegue ao topo do ranking do NYTimes. De acordo com Alan Sorensen, professor da Universidade de Stanford, uma vez que o livro chega ao primeiro lugar da lista, ele vende 57% a mais de cópias.

Em uma mensagem para a editora de Wielsen, Deborah Hofmann – editora da lista – lembrou que Night é um clássico moderno e que a maior parte de suas vendas referia-se a compras feitas por estudantes. ‘O espírito editorial da lista é rastrear a venda de novos livros’, afirmou. Para evitar situações como esta, ela e sua chefe, Janet Elder, estão considerando criar uma lista específica para os clássicos.