Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A praga dos ambientalistas

O estrago que a ex-presidenciável Marina Silva, do Partido Verde (PV), provocou no primeiro turno das eleições de 3 de outubro, levando Dilma e Serra para o 2º turno, tem tudo a ver com o verde de seu partido.

Vale ressaltar a oposição que ex-ministra de Lula vem fazendo contra a aprovação da reforma do Código Florestal, que prevê a redução das áreas de proteção ambiental e a anistia de até R$ 10 bilhões em multas ao desmatadores.

O projeto pretende flexibilizar a rigorosa lei ambiental brasileira que tem uma redação moral mais ou menos parecida com a do Estatuto do Menor, que também é maravilhoso no papel e contraditório na prática. É como a loira boa e burra que seduz pela aparência e espanta pela falta de um raciocínio lógico.

A questão é que ninguém derruba o argumento de defesa do meio ambiente e do menor, pela aura divina que os protege, da mesma forma que não podemos descartar o belo do sexo oposto, que não põe mesa mas é fundamental.

A invasão do Vetor Sul

São questões que nos levam ao óbvio conjuntivo pela complexidade do tema. Tem sempre um ‘mas’ pela frente. Deixemos, no entanto, a mulher de lado – pelo incontestável (ou alguém acha que pode viver sem ela?) e o ‘problemão’ dos menores para fundir a cuca dos responsáveis pela segurança pública em nosso país – e tratemos tão somente da problemática do meio ambiente, que é responsável pelo ar que respiramos e por isso tem prioridade total. Vamos a um exemplo clássico de sua defesa, mas nem tanto.

Emparedada pela Serra do Curral e levada pelo marketing do meio ambiente – ‘clima de montanha, beleza natural, vista para mata atlântica’ etc. –, a classe média de Belo Horizonte invadiu sem dó e piedade uma vertente do lado sul da capital mineira, rumo às reservas naturais do município de Nova Lima, a 22 km do centro de BH. O chamado Vetor Sul tem ainda como referência o maior shopping do estado, o glamouroso bairro Belvedere e a vista para a serra, que é o principal cartão postal da cidade.

A atração foi tanta que o rico mercado imobiliário logo saturou o Belvedere, quase 100% verticalizado para economizar espaço. A invasão obrigou o shopping a sucessivas expansões sem qualquer planejamento e provocou um boom de condomínios de luxo em direção a Nova Lima, que tem 80% de seu território (maior que o de Belo Horizonte) preservado pelas mineradoras instaladas no município de mais de 300 anos de fundação e uma população pouco acima dos 70 mil habitantes.

O valor do metro quadrado da região já é comparável ao de Miami, nos EUA, e os estandes de construtoras e empreendedoras de várias partes do país disputam espaço nesse sedutor Vetor Sul em busca de novos empreendimentos.

O movimento no epicentro dessa bagunça travou o trânsito local de tal forma que foi necessário planejar várias intervenções para fluir o tráfego, mas as obras foram barradas pela lei ambiental que, em 2006, incluiu o verde remanescente desse epicentro na reserva da Estação Ecológica do Cercadinho.

Onda verde ad aeternum

A queda de braço entre ambientalistas, urbanistas, a população e o mercado imobiliário acendeu o sinal vermelho e deixou o local praticamente intransitável.

Não há reservas naturais no local previsto das obras, não há árvores nativas plantadas nas proximidades, não há razões para se contrapor ao argumento em favor das obras, mas gastou-se mais de dois anos para se conseguir a desafetação da área preservada.

Derrubaram a lei, pela necessidade das obras, mas a praga dos ambientalistas vingou, mais uma vez. Nem o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Denit), nem o Departamento de Estrada e Rodagem (DER/MG), nem a urgência dos engenheiros, nem a agonia dos moradores, nem os políticos oportunistas e nem a eleição conseguiram colocar em prática as obras viárias no local. Marina ganhou em Belo Horizonte e Nova Lima e a onda verde prevalece ad aeternum.

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Jornalista