Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A Previdência, a linha e as entrelinhas

Na terça-feira (25/12), a Folha Online veiculou matéria sobre os estudos do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada sobre os índices de gastos previdenciários no Brasil [ver aqui].

No primeiro parágrafo da matéria o site informa que ‘o IPEA coloca o Brasil no topo da lista de países com maior gasto previdenciário no mundo, ao lado de Áustria, Polônia, Suíça e Uruguai, países com população mais envelhecida’.

Já no terceiro parágrafo o jornal informa que ‘pelo tradicional gasto como proporção do PIB’ – conceito mais usual e também considerado no estudo –, ‘os gastos com Previdência do Brasil correspondem a 11,7% do PIB e colocam o país como o 14º com mais gastos previdenciários no mundo, atrás de países como Itália (17,6%), Ucrânia (15,4%) e Uruguai (15%)’.

Então, não dá para entender qual a notícia correta. Ou o Brasil está no topo da lista (o que significaria estar em primeiro lugar) – pelo menos, na minha época, estar no topo era o mesmo que ser o primeiro – ou está no décimo quarto lugar, como afirmam no terceiro parágrafo.

Números que são negados

Depois de uma chuva de números, da colocada afirmação do pesquisador do IPEA Marcelo Caetano de que ‘se um país tem muitos idosos, é aceitável que tenha uma despesa maior, mas não é o caso do Brasil’, o jornal cita que ‘em entrevista, o ministro Luiz Marinho, responsável pela pasta, defendeu uma reforma cujo ponto principal é o aumento do tempo mínimo de contribuição em, ao menos, cinco anos – atualmente, o período é de 30 anos para mulheres e 35 para homens’.

Essa lengalenga já é antiga e a nosso mídia oferece mais uma vez seu espaço, que deveria ser utilizado de forma cuidadosa, aos políticos de plantão, que não conseguem explicar até hoje onde foi parar todo o dinheiro da previdência brasileira que deveria ter sido aplicado, gerando recursos futuros para pagamento dos benefícios presentes. Esse pacto foi feito com todos os trabalhadores no passado, que deram o suor de seus rostos para que o dinheiro da previdência, que deveria suprir os sistemas de saúde e aposentadoria, chegasse até eles de forma efetiva, através de programas sólidos e não fosse para a latrina política, como grande parte foi.

Gostaria muito mesmo que a Folha e outros jornais do país também mostrassem todos os números que nos são negados, principalmente aqueles que vêm acompanhados com os nomes dos partidos e dos políticos que afanaram durante anos o dinheiro que devia ser bem empregado.

A vida é assim mesmo…

Agora, mais uma vez, a mídia tenta passar a idéia de que a culpa é nossa, e que, coitadinho do governo, vai ter que mudar as regras do jogo e fazer o cidadão de otário mais uma vez, pagando pelo que não deve e, ao contrário, teria de receber.

Muito bem. Teremos daqui alguns anos no Brasil uma legião de vovós e vovôs tomando o emprego de gente jovem. A não ser que o golpe seja mais sujo ainda e eles pretendam jogar toda essa gente no lixo justo na hora deles receberem os benefícios pelos quais pagaram a vida inteira. Tudo é possível, contanto que os nossos políticos continuem se aposentando com oito anos de mandato.

Vai ver que a vida é assim mesmo e não contaram pra gente.

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Lighting designer, Campinas, SP