Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A torcida confunde a informação

Dizer que ‘a saúde de fulano ainda não melhorou’ significa expressar um
desejo de que seu estado evolua no sentido positivo.


Os amigos e torcedores expressam assim seu desejo. Mas, quando o informe vem
do médico, ele declara que o estado de saúde do paciente ‘permanece
estacionário’. A informação é objetiva. Retrata a situação do momento, que pode
evoluir sempre em três sentidos – assim permanecer, melhorar ou piorar.
Informação é informação, torcida é torcida.


O jornal O Estado de S.Paulo divulgou na sexta-feira (1/7) uma
pesquisa do Instituto GPP Planejamento, realizada nos dias 18 e 19 de junho.
Divulga a pesquisa com tratamento que se dispensa a um amigo.


Lembram da polêmica com o pessoal do IBGE e da exigência de que o resultado
de suas pesquisas viesse a público no dia em que os dados estivessem
processados, para que o governo tomasse conhecimento deles? Pois bem – não foi o
que aqui aconteceu.


A prefeitura não só tomou conhecimento dos dados com uma boa antecedência,
como a matéria do jornal, que ocupa três páginas, tem a explicação, a
justificativa e fotos mostrando o prefeito em ação, sob a manchete principal
‘Pesquisa: SP ainda não melhorou’ (grifo meu).


Vale a torcida, é claro – afinal São Paulo merece melhorar, e torcemos todos
neste sentido. Mas colocar esta informação como resultado da pesquisa é
substituir a realidade dos números pela torcida amiga. Relativiza o impacto e a
credibilidade da pesquisa e, certamente, representa uma lufada de ar fresco, ao
dispensar este tratamento à administração municipal paulistana, bem distante do
tom gótico que tem cercado as notícias sobre o governo federal.


Mas vamos aos resultados – pelo menos, aos que constam do gráfico
principal.


Nele, temos a percentagem de avaliação dos seis meses de Serra, comparados à
expectativa medida em dezembro de 2004, bem como a avaliação do governo Marta
nos seis primeiros meses de sua gestão.


No texto da matéria, comparação entre os seis primeiros meses das duas
gestões e discussão e justificativa sobre os aspectos específicos avaliados
negativamente.


E nem uma palavra sobre a comparação da expectativa em dezembro e a avaliação
em junho.


Estimamos as melhoras!


Então, aproveitando essa oportunidade de brindá-los com uma informação não
divulgada em palavras, embora presente no gráfico, temos que caiu a avaliação do
Serra, nos seis primeiros meses de sua gestão, segundo dados da referida
pesquisa.


Se, em dezembro, a pesquisa indica a existência de uma expectativa de 53,1%
de ótimo e bom (6,6 + 46,5), hoje esta avaliação caiu para 22,8% (2,8 + 20,0).


A expectativa de 22,4% de regular sobe para 40,4%, enquanto o ruim e péssimo,
que somavam 15,9% em dezembro, passam a 32,0% em junho.


Temos portanto, comparando as duas medidas que:

  Expectativa
dezembro 2004
Avaliação
junho 2005
Ótimo/bom 53,1% 22,8%
Regular 22,4 40,4
Ruim/péssimo 15,9 32,0

Ou seja, lendo os número expressos pela pesquisa, temos que a avaliação do
governo Serra passou da expectativa predominantemente ótima e boa (53,1%) e
regular (15,9%), em dezembro de 2004, a uma avaliação predominantemente
‘regular’ (40,4%) e ruim/péssima (32,0%).


Os números são claros. Já não podemos dizer o mesmo quanto ao cuidado e à
escolha do que interessou divulgar… Mas estimamos as melhoras!

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Pesquisadora e presidente do Conselho da Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado