Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A verdade por trás da audiência televisiva

O ombudsman do New York Times, Byron Calame, analisou, em sua coluna de domingo [8/4/07], como o jornal trata os números de audiência de programas televisivos. O parágrafo de abertura de uma matéria de capa do diário, publicada no dia 1/3, dizia que o programa World News, da ABC, havia ultrapassado em audiência, pela segunda vez em três semanas, o noticiário noturno da NBC. A chamada trazia também um gráfico com o total de telespectadores para os dois programas nas quatro semanas anteriores.

O NYTimes, no entanto, esqueceu de dizer aos leitores que há uma margem de erro nos números de audiência, que por sua vez são baseados em uma pesquisa da Nielsen Media Research. Alguns leitores notaram a omissão desta informação relevante, como Ron Haggart, de Toronto. ‘Em nenhum lugar da matéria de capa sobre audiência de dois programas nacionais o NYTimes admite a existência de algo chamado ‘margem de erro’’, reclamou.

Depois deste episódio, o ombudsman decidiu fazer uma pesquisa e descobriu que o diário manteve os leitores sem esta informação por anos nas matérias que publica regularmente sobre números de audiência com base nas pesquisas da Nielsen. Nos últimos 25 anos, apenas duas das 3.124 matérias arquivadas que mencionaram tais pesquisas incluíram uma referência à margem de erro. Duas iniciativas recentes da redação de pedir que seja publicada a margem de erro ainda não deram nenhum resultado. ‘É hora do NYTimes ser verdadeiro com os leitores’, alfineta Calame.

A Nielsen não fornece às empresas de mídia a margem de erro para suas pesquisas de audiência televisiva, embora ofereça a seus clientes pagos o modo de calcular este valor por conta própria. Gary Holmes, porta-voz da Nielsen, afirma que a empresa não tem ‘fontes’ para calcular a margem de erro de ‘centenas de números de audiência por semana’ fornecidos ao NYTimes e a outros veículos de imprensa.

Calame preocupou-se mais ainda com o fato de os editores saberem que os números fornecidos pela Nielsen não tinham valor estatístico e optarem por publicar, ainda assim, estas informações. ‘O editor responsável por notícias de TV do NYTimes, Steve Reddicliffe, me contou que nunca viu ninguém falar de margem de erro sobre números da Nielsen em 30 anos de cobertura do tema’, diz Sam Sifton, editor de cultura do diário.

Números não significativos

Insistindo na questão, Calame perguntou ao editor responsável pela seção de negócios, onde é divulgada uma lista com base em pesquisas da Nielsen com os 10 programas mais assistidos na semana, quais eram os motivos para não se contar aos leitores que a empresa não fornece margens de erros para suas ‘estimativas’. ‘Se publicássemos um aviso dizendo que esta empresa está retendo uma informação crítica, imagino que muitos leitores virariam a página’, respondeu ele.

Sobre o artigo citado anteriormente, comparando dois noticiários nacionais, com o cálculo da margem de erro não seria possível afirmar que um programa venceu o outro na audiência. Isso ocorreu não apenas na comparação entre estes dois programas, mas com vários na lista publicada semanalmente pelo diário. Para Holmes, da Nielsen, os veículos deveriam ser mais cautelosos e avisar aos leitores que os números da empresa são estimativas. Para Calame, no entanto, isto não basta. ‘Nossos leitores merecem mais do NYTimes. Os editores deveriam se recusar a publicar informação sobre as quais não se sabe a margem de erro ou a base metodológica. A melhor coisa que eles poderiam fazer é convencer a Nielsen a fornecer a margem de erro para qualquer informação fornecida ao NYTimes‘, opina.