Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Abraji dará ênfase em treinamento

A nova presidente da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Angelina Nunes, editora assistente da editoria Rio de O Globo, que assumiu há cerca de um mês, para dois anos de mandato, sucedendo a Marcelo Beraba, já está tocando com o restante da diretoria o Congresso Internacional da entidade, que este ano acontecerá em Belo Horizonte, de 8 a 10 de maio. Ela informa que o encontro focará, principalmente, reportagens assistidas por computador (RAC), eleições municipais e cobertura policial.

No jornal desde 1991 e há seis anos atuando no fechamento (antes, foi de O Dia, da extinta TV Manchete e da Rádio MEC), Angelina conta que começou a adotar procedimentos investigativos no seu dia-a-dia de trabalho há cerca de dez anos, quando cobria a área de Saúde com a já falecida repórter Elaine Rodrigues: ‘Aprendi com ela a ler nas entrelinhas de documentos oficiais, a buscar informações em fontes pouco exploradas, a fazer uma apuração mais profunda em cada matéria, por mais simples que fosse a pauta’.

Confessando-se viciada na leitura de diários oficiais e tendo incorporado aqueles métodos ao seu cotidiano, hoje coordena no jornal o grupo que cobre Administração Pública e que arrebatou, com suas reportagens, entre outros, os prêmios Esso (em duas oportunidades), Embratel, Rey de España e Herzog. Ela conversou com J&Cia sobre seus planos para a Abraji.

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Qual será a ênfase da sua gestão?

Angelina Nunes – Vou dar continuidade ao trabalho da diretoria passada, presidida pelo Beraba, que eu também integrava. O foco principal será treinamento, qualificação do pessoal, tanto no congresso como em seminários em outras capitais. Dentro das possibilidades dos diretores, e também porque esse trabalho é voluntário, procuraremos levar nossa contribuição a centros menores, onde as condições de apuração são piores e, ainda assim, os profissionais conseguem fazer um trabalho heróico. A diretoria está motivada para isso.

Hoje o pessoal está mais preparado para fazer jornalismo investigativo do que quando você começou?

A.N. – Muito mais. E não só por causa do computador e da internet, que, sem dúvida, dão uma grande contribuição. Hoje o pessoal faz mais cursos, está mais preocupado com a sua formação. Aqui no Globo, por exemplo a Academia Infoglobo oferece uma série de treinamentos, em diversas matérias complementares (como Matemática e Direito, por exemplo), mas observo que os profissionais procuram participar de outros seminários e cursos externos em suas horas de folga. Isso também é reflexo da própria evolução do trabalho jornalístico, pois não se pode mais imaginar alguém simplesmente transcrevendo declarações de uma autoridade, sem pesquisar antes e sem checar as informações depois. Para isso é necessário preparo. Daí também a preocupação da Abraji com a qualificação.

Você falou que são piores as condições de trabalho em centros menores. E nos grandes veículos?

A.N. – Sem dúvida temos muito mais recursos. Porém, nenhum veículo da grande imprensa brasileira, hoje, pode se dar ao luxo de manter uma equipe exclusiva para fazer jornalismo investigativo. No exterior, muitos ainda têm essa possibilidade. No Globo, por exemplo, a mesma equipe que vai atrás de uma denúncia, de esclarecer casos intrincados, cuida também de cobrir o dia-a-dia. Ainda assim, nosso jornalismo investigativo goza de muito respeito internacional. Acho que isso se deve também ao fato de que a maioria dos que atuam nessa área tem prazer pelo que faz.

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A diretoria que Angelina preside tem como vice Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo, atualmente residindo nos EUA, Adriana Carranca (Estado de S.Paulo), Ana Estela de Sousa Pinto (Folha de S.Paulo), Claudio Tognolli (USP e Consultor Jurídico), Fernando Molica (Rede Globo), Giovani Grizotti (RBS), Ivana Moreira (Valor Econômico), Liége Albuquerque (Agência Estado), Marcelo Beraba (Folha de S.Paulo) e Plínio Bortolotti (O Povo).