Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

ANJ critica decisão contra jornal de Minas

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 30 de março de 2009


 


REPÚDIO
Paulo Peixoto


Entidade critica decisão contra jornal de Minas


‘A ANJ (Associação Nacional de Jornais) divulgou nota ‘repudiando veementemente’ o que considerou ter sido um ‘atentado à liberdade a pretexto de direito de resposta’ a decisão de um juiz federal contra o jornal ‘Estado de Minas’, do grupo Diários Associados.


A nota do Comitê de Liberdade de Expressão, assinada por Júlio César Mesquita, vice-presidente da ANJ, considerou uma forma de intimidação o ato do juiz da 4ª Vara Federal de Belo Horizonte, Ronaldo Santos de Oliveira, que determinou que o jornal destinasse a sua capa e mais seis páginas para um direito de resposta solicitado pela UFMG.


A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) fez o pedido após reportagens do jornal sobre irregularidades apontadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) na entidade.


A liminar foi concedida na sexta. No sábado, porém, o desembargador Jirair Meguerian, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, em liminar, derrubou a decisão.


Ontem, não havia ninguém nas assessorias da UFMG e da Justiça Federal para se manifestar sobre o caso. O juiz também não foi localizado.’


 


 


CULTURA
Editorial


Nova Lei Rouanet


‘APESAR de algumas distorções, a Lei Rouanet vem permitindo que o Estado cumpra o seu papel de incentivar a produção cultural sem grande espaço para o dirigismo governamental. Ao longo de 17 anos, carreou cerca de R$ 8 bilhões para o setor, mais sob controle da iniciativa privada que de luminares em Brasília.


O ministro da Cultura, Juca Ferreira, deu agora a largada para o ‘aggiornamento’ do diploma, por meio de consulta pública. O projeto divulgado traz alguns avanços e outros tantos motivos para alerta.


O mecanismo central de fomento -renúncia fiscal, por meio da dedução no imposto de renda de empresas patrocinadoras dos projetos aprovados- ainda não atende por completo aos objetivos de fomentar a produção e de distribuir cultura num país continental. Obras e eventos inovadores e de boa qualidade foram viabilizados por seu intermédio, mas também projetos de relevância duvidosa, ou que poderiam ocorrer sem tal subsídio.


Ferreira tem razão ao apontar que os recursos mobilizados tendem a sê-lo de modo concentrador (3% dos que propõem projetos açambarcam 50% dos valores) e regionalizado (80% do montante fica no Sul e no Sudeste). Hoje há duas únicas faixas de dedução, 30% e 100% do total despendido, e a maioria dos projetos recai na segunda.


Parece razoável a proposta de criar novas faixas, de 60%, 70%, 80% e 90%. Para efetivá-las, porém, o ministério sugere um vago sistema de pontuação que enquadre cada projeto num dos percentuais de renúncia.


Cogitam-se critérios como acessibilidade ao público, mas seria desejável que fossem mais detalhados já ao longo da consulta. Todo cuidado é pouco para impedir que a lei reformada se torne um instrumento para o arbítrio estatal. O governo poderia usar qualquer pretexto para discriminar este ou aquele setor cultural, sob inspiração ideológica, eleitoral ou paroquial.


Pela proposta ministerial, a definição teria apenas de ser aprovada pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic). Mesmo sendo um órgão paritário entre governo e sociedade, os representantes da sociedade ainda estão por definir. Aqui, também, seria preferível explicitar uma normatização que impeça a indicação de representantes chapa-branca, numa paridade de fachada.


Mais cautela suscita a ideia de Ferreira de fortalecer o Fundo Nacional de Cultura (FNC) por meio da criação de fundos setoriais -por exemplo para teatro, circo, dança, artes visuais e música. Eles dariam ao ministério liberdade para investir em projetos menos atraentes para a iniciativa privada, sem depender do mecanismo da renúncia.


A ideia faz algum sentido, pois a Lei Rouanet tem falhado em áreas com escasso apelo de mercado e na formação de talentos. Mas, de novo, abre-se, com um FNC vitaminado, a brecha tentadora do aparelhamento estatal da cultura.’


 


 


PROPAGANDA
Fernando Rodrigues


Um Estado forte


‘BRASÍLIA – Sai nos próximos dias o valor torrado pelo governo Lula em publicidade em 2008. A cifra ficará perto de R$ 1 bilhão. Os gastos em patrocínio federal no ano passado já foram divulgados: bateram em R$ 918 milhões.


Dois buracos negros ainda persistem nessa área. Não se sabe o volume aplicado em publicidade legal (publicação de balanços) nem o custo de produção das peças publicitárias. Esse último é um segredo nunca revelado pelo governo nem pelas agências acostumadas a mamar nas tetas generosas de Brasília.


A estimativa para as despesas com publicidade não conhecidas gira em torno de R$ 250 milhões a R$ 350 milhões por ano.


Tudo considerado, a administração federal consome anualmente, por baixo, R$ 2,2 bilhões com ações de propaganda e marketing. É dinheiro em qualquer lugar do mundo. A Unilever (dona de marcas como Kibon, Omo e Dove) gastou R$ 1,75 bilhão com propaganda no ano passado no Brasil.


É positivo o governo Lula divulgar, mesmo parcialmente, seus gastos publicitários. Permite aos brasileiros se indagarem se o país melhora, torna-se mais desenvolvido, quando a Petrobras patrocina as camisas de futebol do Flamengo ou bancos estatais financiam corridas de rua. Ou se há ganho social quando o Planalto faz campanha na TV para estimular o consumo durante a atual crise econômica.


Lula esteve no Chile no fim de semana. Defendeu, mais uma vez, ‘um Estado forte’. O cerca de R$ 1 bilhão de patrocínio estatal para cultura, esportes e outras áreas se insere nessa ideologia lulista.


Pode-se argumentar que, em muitos países industrializados, sobretudo europeus, o Estado financia a cultura. É verdade, mas em geral é dinheiro direto. Aqui, há a intermediação das estatais. Uma caixa preta da qual só conhecemos os valores totais, nunca os detalhes.’


 


 


OUVIDOR
Painel do Leitor


Ombudsman


‘‘A coluna do ombudsman é um dos diferenciais da Folha em relação aos seus concorrentes e um espaço onde encontramos o contraponto à própria produção jornalística do jornal. Ali são contextualizados exemplos e maneiras de o jornal se renovar e melhorar a sua produção.


Parece que os editores não levam em consideração as observações, pertinentes, do professor Carlos Eduardo Lins da Silva.’


ROBERTO NASCIMENTO ANASTÁCIO (Rio Grande da Serra, SP)


‘Eu tencionava manifestar ao ombudsman minha insatisfação sobre a ocupação do ‘Painel do Leitor’, pois é um espaço que deveria ser do leitor, mas todos os dias é destinado a reclamações de organizações, instituições, políticos, assuntos muito específicos, até pessoais, que não interessam nem dizem respeito aos leitores.


E continua-se a dar cobertura exagerada ao caso Daslu, igualmente aos olhos azuis do presidente, ao papa na África, mas nada sobre as maracutaias do Senado. Decidi reclamar ao ombudsman, aí o desapontamento é bem maior, pois, em vez das preocupações dos leitores, publica-se meia página só com opiniões do próprio, sem nenhuma ligação com os leitores, que mereceram um minúsculo gráfico.’


JOÃO HENRIQUE RIEDER (São Paulo, SP)’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Emergentes contra ricos


‘Os ‘banqueiros de olhos azuis’ de Lula ecoaram e, no domingo que antecede o G20, o ‘New York Times’ alertou que ‘Obama vai enfrentar mundo desafiador’ aos EUA.


‘Os americanos viajavam por Índia, Brasil, China dando lição de moral sobre a necessidade de abrir e desregular mercados. Agora essas políticas são vistas como os réus do colapso.’


No destaque do Huffington Post pela manhã, ‘Lula: Nós rejeitamos a fé cega nos mercados’. No inglês ‘Observer’, também destaque do Post, ‘Banqueiros de olhos azuis’ despertam divisão do G20’, sobre o ‘crescente racha entre o Ocidente e as potências emergentes’.


No ‘Financial Times’, ‘o comentário de Lula’, diante de Gordon Brown, ‘ressalta o risco de desacordo entre emergentes e os mais ricos’.


Em suma, no título do ‘NYT’ para longa análise, é o ‘Capitalismo anglo-americano em julgamento’.


‘BANQUEIROS DE OLHOS AZUIS’


Em duas páginas no ‘Observer’, o primeiro-ministro, Lula e ‘a nova raiva das nações mais populosas do mundo por serem puxadas para uma bagunça que não criaram’


‘GENTE BRANCA’


No alto das páginas iniciais de Huffington Post (esq.) e Drudge Report, Lula e os supostos culpados pela crise


DRUDGE ATACA


De sexta até ontem, a foto de Lula não saiu da home de Matt Drudge, a referência conservadora para links de notícias. De início, com título sobre a declaração. Depois, com chamadas questionando o próprio país, linkando para despachos como ‘Brasil ergue muros em torno das favelas do Rio’, da Reuters.


‘LULA LULU’


Também o ‘NY Post’ foi para cima do brasileiro, dado por ‘Lula lulu’ e ‘Brazil nut’, trocadilhos para maluco. A colunista Maureen Dowd, do ‘NYT’, ecoou o ‘Post’, mas notando que a tirada virou ‘big news’, notícia grande, ‘quando Obama recebia banqueiros ‘pão branco’, de olhos bem azuis’.


O RASCUNHO


As três grandes redes americanas enviaram os âncoras a Londres, para apresentarem os telejornais direto do G20. E o ‘NYT’ aproveitou para lançar ontem sua home page ‘Global’, logotipo acima, com a manchete ‘Luta em torno do FMI vira foco da cúpula sobre crise’.


Pode ser, mas no mesmo final de tarde o site do ‘FT’ postou a manchete ‘G20 promete evitar protecionismo’, com o ‘rascunho do comunicado’ final. O documento, diz o jornal inglês, ‘tem poucos detalhes sobre um estímulo global’, a prioridade para os EUA, que a Alemanha recusa.


SEM DITADOR


Descoberto pelos sites políticos, Lula ocupou também a home do Talking Points Memo para a viagem de Joe Biden ao Chile, onde o vice prometeu que ‘os EUA não vão mais ‘ditar unilateralmente’ para a América Latina’


OS REEMERGENTES


O ‘Wall Street Journal’, com a agência Dow Jones e o site Market Watch, e o ‘Financial Times’, com o blog Alphaville e a coluna Lex, noticiam que a semana passada fechou com a maior alta no fluxo de investimentos em ações dos emergentes ‘em um ano’. O Brasil e a Rússia ‘ficaram à frente do bando’. Os investidores teriam se mostrado ‘especialmente entusiasmados com o Brasil, que recebeu US$ 267 milhões, sua quinta maior marca’. A começar da China, os emergentes já são tratados por ‘Mercados reemergentes’, um dos títulos. Por outro lado, vêm perdendo aplicações os mercados ‘desenvolvidos, notadamente as ações dos EUA’.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Série inédita da Cultura vaza na internet


‘Todo o primeiro episódio de ‘Tudo o que É Sólido Pode Derreter’, novo seriado da TV Cultura, está há duas semanas na internet. A série adolescente, grande aposta da emissora para este semestre, só estreia no próximo dia 10. Até sexta-feira, mais de 1.200 pessoas tinham assistido à primeira parte do arquivo no ‘YouTube’.


Dirigida por Rafael Gomes, 26, um dos produtores do vídeo ‘Tapa na Pantera’, fenômeno de audiência na internet, ‘Tudo o que É Sólido’ mistura o cotidiano de uma adolescente com os livros que ela lê. Cada um dos 13 episódios dialoga com uma obra exigida em vestibular, como ‘Dom Casmurro’, ‘Senhora’ e ‘Macunaíma’.


A Cultura não chegou a formar uma comissão de sindicância, mas nega que o vazamento tenha sido proposital. Helio Goldsztejn, coordenador de arte e cultura, diz que o vazamento pode prejudicar o desempenho na TV, ‘porque tira a expectativa e o impacto’ e ‘estraga a estratégia de lançamento’.


‘Isso pode ter saído pela produtora [Ioiô Filmes], pelo mercado publicitário ou pela TV Cultura’, diz Goldsztejn.


O diretor Gomes defende a Ioiô e joga a suspeita para o mercado. Versões não definitivas do primeiro episódio foram distribuídas a agências publicitárias, para venda de cotas de patrocínio. ‘Tapa na Pantera’ não vazou de propósito. Fomos ingênuos, mandamos cópias para festivais’, diz Gomes.


ANIMADOR 1


Silvio Santos estava inspirado na gravação do ‘Troféu Imprensa’, sexta passada. Mandou uma assessora levar os jurados para conhecerem, no memorial do SBT, esculturas em tamanho natural de humanos, que chamou de obras de arte.


ANIMADOR 2


Depois, perguntou se os jurados tinham gostado da ‘nova aquisição’ do SBT. Referia-se à escultura de uma mulher nua, que antes enfeitava seu escritório no Ibirapuera. A peça teria custado US$ 145 mil. ‘Ela é minha amante há 20 anos’, brincou Silvio Santos.


ANIMADOR 3


Desafiado pela repórter da ‘Caras’, Silvio topou na hora posar ao lado da mulher nua. Só a ‘Caras’ fez as fotos, o que desagradou outras publicações.


NÃO DEU


Depois de sete meses, Silvio Santos finalmente desistiu do ‘Olha Você’, que não emplacou. A partir de hoje, dará lugar a reprises (como ‘Ó, Coitado!’).


CAPTURA


O ‘CQC’ conseguiu na semana passada capturar os senadores Fernando Collor de Mello e José Sarney, que perseguiam desde 2008. Danilo Gentilli provocou os políticos com a questão: ‘Como Sarney, Collor e Renan Calheiros, ao contrário dos dinossauros, conseguiram resistir à extinção?’. Só Calheiros ficou mudo. Vai ao ar hoje.


DANÇARINA


Emanuelle Araújo substituirá Christine Fernandes na ‘Dança dos Famosos’, que começa dia 14 no ‘Domingão’. Christine pediu para se dedicar à próxima novela das oito.’


 


 


Mônica Bergamo


Tico-Tico


‘E o Ibama multou a TV Record em R$ 50 mil e o biólogo Sérgio Rangel em R$ 1.000 por exibir animais silvestres de forma irregular no programa ‘Tudo É Possível’, de Eliana. Em janeiro, a atração mostrou, entre outros bichos, um tico-tico que vivia em uma casa onde comia arroz e macarrão. O dono, que ganhou prêmio em dinheiro do programa, não tinha permissão do Ibama para criar um pássaro. A emissora também reprisou matéria em que o biólogo Rangel, no Pantanal, apanhou uma iguana e uma sucuri e incentivou Eliana a tocá-los.


TICO-TICO 2


A Record diz que não foi informada das multas e que, após a exibição do tico-tico, passou a ser ‘parceira’ do Ibama para só exibir animais com registro.


Segundo a emissora, a matéria com Eliana e Sérgio Rangel no Pantanal, reprisada em janeiro, é antiga -foi feita há quase três anos, em 2006.


ESCOLA ANIMAL


E o Ibama prorrogou até o dia 1º de abril as inscrições do workshop que dará para jornalistas e produtores de emissoras de televisão sobre as limitações para a exibição de animais na programação.’


 


 


Folha de S. Paulo


Lázaro Ramos entrevista Seu Jorge


‘A transformação de Seu Jorge, de morador de rua para cantor e ator de cinema internacional, é o mote da conversa com Lázaro Ramos, apresentador e diretor do ‘Espelho’, programa que estreia hoje sua quarta temporada no Canal Brasil. Ramos vai buscar Seu Jorge no aeroporto do Rio, e os dois seguem conversando dentro do carro, num bate-papo informal cheio de lembranças pesadas da infância do cantor carioca. ‘Foi quebrando todos os complexos de inferioridade que eu tinha’, ele diz, respondendo à pergunta sobre como conseguiu deixar as ruas do Rio para ter uma carreira. ‘Eu vivia largado, de qualquer jeito […] atrás de papelão para dormir, de alguém que passava para deixar um cobertor.’


Ele também conta porque trocou o Rio por São Paulo – ‘não conseguia colocar minhas ideias em prática aqui’, diz- e como foi filmar com feras do cinema mundial, como Bill Murray e Cate Blanchett no ‘A Vida Marinha com Steve Zissou’, no qual interpreta músicas de David Bowie em português. A nova temporada do programa segue sem um foco definido, falando sobre meio ambiente, saúde e valorização da cultura negra. Haverá apresentação de um especial sobre a posse de Barack Obama e entrevistas com Gilberto Gil, Sylvio Back e Dona Chica Xavier.


ESPELHO


Quando: hoje, às 21h30; amanhã, às 16h, e sábado, às 12h30 Onde: Canal Brasil Classificação: livre’


 


 


REVISTAS
Eduardo Simões


Instituto Moreira Salles lança revista de ensaios


‘O Instituto Moreira Salles chega à maioridade buscando mais visibilidade para o acervo acumulado em 18 anos e maior aproximação com o público. Uma das primeiras empreitadas é o lançamento da ‘Serrote’ (R$ 29,90; 224 págs.), revista quadrimestral de ensaios, em formato de livro, e desde anteontem nas livrarias.


‘É um modo de o instituto contribuir com a circulação de ideias, numa revista de ensaios de figurino anglo-saxão, comprometida com a clareza, sem os ritos acadêmicos’, diz Flávio Pinheiro, que está na comissão editorial ao lado de Matinas Suzuki Jr., Rodrigo Lacerda, Samuel Titan Jr. e Daniel Trench, autor do projeto gráfico.


Ainda segundo Pinheiro, a ‘Serrote’ privilegia não só o texto, mas também as imagens, com edições bem ilustradas, diferente de publicações tradicionais brasileiras como a extinta ‘Argumento’ ou a revista do Cebrap. O primeiro número, por exemplo, traz desenhos de Saul Steinberg (1914-1999), célebre cartunista e ilustrador da ‘New Yorker’, acompanhados de análise de Rodrigo Naves.


‘É o carro alegórico do primeiro número. Um conjunto formidável de 20 desenhos inéditos, de um caderno feito em 1954’, diz Pinheiro.


Batismo


Em busca de um nome para a revista, Pinheiro conta, bem-humorado, que palavras ligadas a ensaio soavam pernósticas ou sérias demais. ‘Pensamos em usar simplesmente ‘Ensaio’, mas a palavra no Brasil tem a conotação teatral ou ligada a escolas de samba’, diz.


O batismo acabou sendo feito por Matinas, levemente inspirado em poema do livro ‘Poliedro’, de Murilo Mendes (1901-1975), que diz: ‘Tremo quando examino o serrote’. ‘Lembra a tradição de revistas literárias com nomes mais humorísticos, como ‘O Malho’, diz Matinas.


O acervo do instituto aparece na revista em dois achados: fotos que o francês Marcel Gautherot (1910-1996) tirou de Pancetti (1902-1958) fazendo pinturas em vidro. E uma carta inédita, de 1944, de Mário de Andrade para Otto Lara Resende. ‘Foi feita depois de uma visita de Mário a Belo Horizonte e traz comentários dele sobre a então jovem turma de escritores mineiros’, conta Rodrigo Lacerda, que encontrou a carta.


Outro texto inédito é ‘David, Marat’, ensaio do historiador italiano Carlo Ginzburg, fruto de palestra que ele deu em Bolonha, Paris e em Passo Fundo, e que será publicado na Itália em 2010. ‘Ele usa um quadro para falar das relações entre política e religião, algo que poderia parecer puramente acadêmico. É um jeito de pensar o presente e que aparece aqui ricamente ilustrado’, diz Titan.


A única seção fixa será o ‘alfabeto serrote’, em que um convidado explica um verbete. Na estreia, Chico Alvim fala de ‘serrote’, Antonio Cicero, de ‘verso’ , e Tostão, chamado para definir ‘drible’, acabou com ‘passe’. ‘É mais importante’, disse o ex-jogador a Matinas.’


 


 


Álvaro Pereira Júnior


Revistas morrem, revistas crescem


‘CHEGA DE Radiohead, então? Beleza, vamos falar de revistas. Das que morrem e das que crescem. Revista de papel, lembra? A que morre é a ‘Blender’, de Nova York, para o público de 18 a 34 anos. Fechou nesta semana. Segundo o diário de economia ‘The Wall Street Journal’, os anúncios caíram 31% em um ano. Se você já dirigiu uma revista, ou um jornal, ou um programa de rádio ou TV que acabou, e se você achava que a culpa era sua, o fim da ‘Blender’ veio aliviar sua consciência.


Porque a ‘Blender’ era a revista de música mais bem editada do mundo. Tinha a fórmula precisa: na capa, alguém (de preferência mulher) com pouca roupa e muito apelo popular. Britney, Christina Aguilera, Kelly Clarkson etc.


Mas, dentro, era biscoito fino. Gente das antigas -tipo David Fricke e Ann Powers- misturada à novíssima geração. Reportagens sempre ultracriativas, textos curtos, bem-humorados, direto ao ponto. E uma diagramação que não deixava espaço morto. Em qualquer canto esquecido de uma página, eles encaixavam uma fotinho com uma legenda engraçada, um microtexto sacana.


Pois essa revista, vale repetir, a mais bem editada do mundo no gênero musical, foi para o espaço.


Agora, uma revista cuja circulação está aumentando. É a ‘Word’, inglesa, que trata de música, cinema e literatura para leitores acima de 35 anos. Não é excepcionalmente bem editada. Mas é minha revista preferida, pelo conteúdo. São caras mais velhos que acompanham bem de perto tudo o que acontece, sem embarcar cegamente no último hype. Atualizados e adultos ao mesmo tempo. Minha praia. A informação de que a circulação está crescendo veio no editorial da penúltima edição.


O editor, Mark Ellen (ex-chefão da hoje finada ‘Smash Hits’), não entrega os números, mas garante que a ‘Word’ está vendendo mais.


A revista dos moleques morre, a dos tiozinhos cresce. Deixo as conclusões para você, leitor.’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 30 de março de 2009


 


PRESIDENTE
Denise Chrispim Marin


Lula diz à CNN que é o mais vivido do G-20


‘A quatro dias da segunda cúpula do G-20, o canal de TV americano CNN pôs ontem no ar uma entrevista na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se diz um estranho no ninho toda vez que participa desse tipo de encontro. Para ele, o G-20 tornou-se um agrupamento mais representativo que o G-8, as sete economias mais ricas do mundo e a Rússia, para tratar dos grandes desafios mundiais nas áreas de economia, energia e clima. Mas, dentre os líderes que se reunirão em Londres, ele afirmou ser o único que veio da pobreza e da fome e frisou que conhece, na pele, o drama das inundações e do desemprego.


‘Eu vivi em casas que eram inundadas, com até um metro e meio de água. De vez em quando, tinha de disputar espaço com ratos e baratas’, disse Lula ao programa GPS, que o apresentou, em uma vinheta, como ‘o presidente com a maior popularidade do mundo’.


‘Eu sei o que o desemprego significa porque fiquei sem trabalho por um ano e meio. Eu conheço o problema que um desempregado enfrenta. Eu conheço o mundo do trabalho mais do que qualquer um’, completou o presidente, comparando-se aos líderes do G-20.


Lula insistiu que, na cúpula, os EUA e os outros países ricos terão de enfrentar a questão da escassez de crédito com muita responsabilidade. Para ele, os pacotes de socorro ao setor financeiro devem ter, como contrapartida, compromissos de maior vínculo das instituições beneficiadas com o setor produtivo, para expandir investimentos e postos de trabalho.


Casos como o da AIG, que pretendia manter bônus milionários para executivos depois de obter o socorro do Tesouro dos EUA, foram classificados de ‘escandalosos’ por Lula.


OBAMA


A entrevista ao jornalista Fareed Zakaria, do GPS-CNN, foi gravada em 16 de março, em Washington, dois dias após o encontro de Lula com Barack Obama, na Casa Branca. Lula relatou ter dito ao presidente dos Estados Unidos que rezava muito por ele, em função do ‘grande teste’ da crise econômica.


Lula comentou que tinha consciência, em 2003, de que não poderia falhar. Caso contrário, por preconceito, nenhum outro líder sindical chegaria novamente à Presidência. Na condição de primeiro presidente negro dos EUA, concluiu ele, Obama tampouco poderá fracassar. ‘Eu disse a Obama que ele não tem o direito de cometer erros. Não acredito que Deus tenha posto ele lá por nada. Alguma coisa importante aconteceu neste país.’


O presidente afirmou que o Brasil e outros emergentes devem ter maior influência no centro do poder mundial – no Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Mundial e no Conselho de Segurança das Nações Unidas.


Provocado por Zakaria, Lula defendeu o modelo institucional de Hugo Chávez na Venezuela e atribuiu as limitações de Caracas à participação das oposições nos embates eleitorais, à tradição política e à cultura local. Disse que, apesar das declarações ácidas de Chávez a Obama, cabe aos EUA serem ‘generosos’ com os vizinhos.’


 


 


INTERNET
The New York Times


Grupo de espiões online invade computadores em 103 países


‘Uma rede de espionagem online com base quase exclusivamente na China invadiu em menos de dois anos 1.295 computadores em 103 países para roubar documentos e informações secretas de entidades públicas e privadas, informou um centro de pesquisas canadense.


A operação de espionagem cibernética é tida como a maior já revelada na história. De acordo com o estudo feito pelo Centro Munk para Estudos Internacionais, da Universidade de Toronto, entre as vítimas da violação estariam as máquinas dos escritórios do líder espiritual tibetano, dalai-lama, na Índia, Bélgica, Grã-Bretanha e EUA.


O relatório reacendeu o debate em torno da segurança cibernética, tema do qual o presidente dos EUA, Barack Obama, já vem se ocupando desde que assumiu o governo, em janeiro. Preocupado em tornar mais seguras as redes públicas e privadas do país, Obama incluiu na proposta de orçamento para 2010 um financiamento de US$ 355 milhões para a manutenção do setor – essencial para a economia e para a defesa dos EUA.


A investigação da rede de espionagem teve início no meio do ano passado, quando o centro canadense foi convidado pelo escritório do dalai-lama para examinar seus computadores, em busca de softwares contaminados. Após intensas pesquisas, o centro descobriu que, além de espionar as máquinas do líder religioso, o sistema de hackers – o qual eles chamaram de ‘Rede Fantasma’ – tinha como alvo governos do Sul e do Sudeste Asiático.


O centro afirmou que não encontrou provas de que computadores do governo dos EUA tenham sido invadidos, mas afirmou que uma máquina da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi monitorada por espiões, assim como os computadores da Embaixada da Índia em Washington.


FORMAS DE ATAQUE


Segundo os investigadores, além de ter roubado um número não especificado de arquivos, os piratas online também podem ter usado as máquinas para espionagem do local onde estavam ao ligar as webcams e gravadores de áudio dos computadores invadidos para monitorar o que ocorria na sala onde estavam instalados.


Entretanto, não foi possível descobrir se essa tática foi usada e o conteúdo dos documentos roubados também não foi estabelecido. Os computadores do dalai-lama, porém, tiveram centenas de e-mails interceptados.


Os pesquisadores devem divulgar o documento essa semana. No entanto, apesar de terem concluído que dos quatro centros de controle por onde foram feitas as invasões, três estavam na China, eles afirmaram que não poderiam concluir que houve envolvimento do governo chinês nas ações.


No entanto, algumas das interceptações feitas pelo grupo de espionagem online tiveram alguns efeitos na política de Pequim. Por exemplo, após o escritório do dalai-lama enviar um convite por e-mail para um diplomata estrangeiro, o governo chinês ligou para o mesmo diplomata desencorajando a proposta de visita.


Em um outro caso, uma mulher que fazia contatos entre exilados tibetanos e cidadãos chineses foi impedida de voltar para o Tibete por funcionários da inteligência de Pequim, que mostraram transcrições de suas conversas online.


Os canadenses descobriram também que a China teria grampeado ligações telefônicas feitas pela internet, além de ter interceptado mensagens instantâneas.


Um porta-voz do Consulado da China em Nova York negou as acusações, afirmando que Pequim é contra e proíbe qualquer tipo de crime cibernético.’


 


 


PROPAGANDA
Marili Ribeiro


Cerveja busca nova publicidade


‘Se no Brasil foi a indústria de eletrodomésticos que criou um bordão publicitário capaz de se perpetuar no repertório nacional, com o ‘não é assim uma Brastemp’, nos EUA foi a indústria cervejeira que conseguiu esse feito. Por lá, a expressão ‘wassup’ (algo como ‘o que há de novo?’) consagrou a propaganda da marca Budweiser e acabou sendo usada, como paródia, até mesmo na campanha de Barack Obama à presidência.


Embora o mercado cervejeiro nacional seja robusto o suficiente para gerar ícones de comunicação, os próprios fabricantes assumem que há uma certa padronização nos anúncios. As companhias têm até pesquisas mostrando isso, mas preferem não falar sobre elas.


‘A fórmula básica do anúncio de cerveja oscila entre um clima de malandragem e uma bela bunda’, ironiza Adilson Xavier, presidente da agência de publicidade Giovanni+DraftFCB.


Essa tendência gerou uma receita básica que acaba por confundir o público, como apontam as pesquisas feitas para avaliar a eficiência dos comerciais – o consumidor identifica que é cerveja pelas condições gerais, mas não difere mais uma marca da outra. Esse resultado, na opinião de Xavier, vem da própria ditadura dos indicadores surgidos nas pesquisas de avaliação dos comerciais.


O publicitário explica que esses indicadores mostram que o universo dos cervejeiros é formado por homens que se juntam para falar de mulher. ‘Isso levou a padrões de comportamento que acabam por dar um toque de mesmice aos anúncios’, diz. ‘No exterior, as campanhas de cerveja recorrem ao humor de maneira inteligente.’


Há, porém, elementos que justificam a diferença de comportamento dos mercados nacional e estrangeiro. Um deles é o fato de que, no exterior, há uma ampla variedade de tipos de cerveja e preços. Aqui, a expansão do mercado é recente no setor, que sempre foi dominado pela cerveja do tipo pilsen.


As propagandas das marcas premium, que vêm ampliando seu mercado nos últimos cinco anos, ocupam principalmente as páginas de revistas e jornais. ‘São veículos que atingem uma audiência mais qualificada’, justifica Marcel Sacco, diretor de marketing do Grupo Schincariol, dono da popular NovaSchin, mas também das premium Devassa, Eisenbahn e Baden Baden.


A acirrada competição pelo bebedor padrão de cerveja igualou a comunicação e a líder AmBev – dona das marcas Skol, Brahma e Antarctica -, está incomodada com o nivelamento, admitem seus executivos nos bastidores. ‘Não é mais estratégia essencial concentrar a comunicação dos produtos em comerciais na TV aberta’, diz a diretora de inteligência de mercado da AmBev, Paula Lindenberg. ‘Cada vez mais buscamos aplicar recursos em pontos de conexão com o consumidor.’


Ricardo Morici, diretor de marketing da Femsa, dona das marcas Kaiser, Sol e Xingu, diz que, se a propaganda estava muito parecida aos olhos dos consumidores, já há um claro movimento para mudá-la. ‘A eficiência da comunicação está em causar impacto e todos estamos atrás disso’, diz.


Os executivos das cervejarias defendem que suas campanhas em cartaz ainda funcionam – é sempre a do concorrente que não vai muito bem. Mas nenhum abre os resultado das avaliações de percepção da eficiência publicitária. Luiz Pegorin, responsável por pesquisas desse tipo no instituto Ipsos, explica que o comercial funciona quando indica capacidade de se sobressair em meio aos outros e de ser lembrado pelo público.’


 


 


MÉRITO
O Estado de S. Paulo


Viva Pacaembu homenageia ‘Estado’


‘A entidade de moradores do Pacaembu, zona oeste de São Paulo, homenageou o Estado por uma série de reportagens publicadas, que colaboraram na preservação da região. O jornal recebeu o ‘Diploma de Mérito de 2009’, ontem, durante a celebração de aniversário da região. Para comemorar a data, Viva Pacaembu por São Paulo organizou um café da manhã comunitário, na Praça Berry Parker, aberto a todos aos moradores. O prefeito Gilberto Kassab participou das comemorações.’


 


 


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


Na Globo, policiais vistos por policiais


‘Foi da sua experiência como repórter da área policial que o escritor e roteirista Marçal Aquino (de Os Matadores), tirou a ideia do seriado Força Tarefa, que estreia no dia 16, na Globo. ‘Numa das minhas rondas pela madrugada de São Paulo, pedi informações para dois policiais militares que se mostraram desconfortáveis com a abordagem’, lembra ele. ‘Eu e o motorista estávamos de jaquetas de couro, num carro sem logotipo do jornal. Eles pensaram que nós éramos da corregedoria, a ?polícia que investiga polícia?. Aquilo nunca saiu da minha cabeça.’


Aquino divide a tarefa de escrever os 12 episódios com o também escritor e roteirista Fernando Bonassi, em São Paulo, ao mesmo tempo em que o diretor José Alvarenga Jr comanda as filmagens, no Rio. ‘Toda invasão é um balé. Vocês vão dançar balé’, grita o diretor no set, um galpão abandonado, sufocante e cheio de mosquitos em Curicica, gravação acompanhada com exclusividade pelo Estado. Como o protagonista Wilson, tenente dedicado da corregedoria, o ator Murilo Benício está novamente com uma arma na mão – há pouco tempo ele era o bandido vintage Dodi, em A Favorita. ‘O Wilson tenta se manter honesto. Já gravei uma sequência em que a namorada dele compra uma bolsa pirata e ele fica bravo. Depois, ele compra a bolsa verdadeira para ela, em mil prestações’, adianta Benício.


Honesto, o tenente Wilson é um policial que convive com as limitações da lei enquanto atua na equipe na corregedoria chefiada pelo coronel Caetano (Milton Gonçalves). Disfarçado de taxista, ele desvenda casos em que há a suspeita de envolvimento de um policial. ‘A partir do Wilson, mostramos a vida dos seis policiais do departamento, e a maneira com que eles conciliam trabalho e vida pessoal’, diz Aquino. ‘São policiais que acreditam na lei. Mas sabemos que aqui, essas leis são passíveis do jeitinho brasileiro. Essa discussão permeia o grupo’, completa Alvarenga.


A série vem no esteio do sucesso de Tropa de Elite, que seria adaptado para TV. O projeto esbarrou na decisão do diretor José Padilha de rodar Tropa 2. Sem a possibilidade de fazer a adaptação, Alvarenga pensou que era hora de um seriado policial – prova disso é que a Record fez o seu, A Lei e o Crime, que foi ao ar com êxito.


Força Tarefa tem clima mais investigativo do que violento, segundo o diretor. Gravado em HD e com tratamento de cinema (24 quadros), o programa tem 70% das cenas gravadas em externas. ‘Acho que quando vêm ao Rio, Marçal e o Bonassi não vão a Ipanema’, brinca Alvarenga, que tem levado sua equipe à periferia da cidade.


O seriado junta novamente Aquino, Bonassi e Murilo, que trabalharam em Os Matadores (1997) de Beto Brant – por acaso, um dos filmes que reapresentaram o gênero policial ao público, bem à brasileira. ‘Desta vez, estou treinando para segurar a arma direito, como um policial’, a nota Benício. ‘Antes, só fazia bandido, que segura a arma de qualquer jeito.’’


 


 


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‘O Brasil se tornou um país policial há muitos anos’


‘ENTREVISTA – José Alvarenga Jr.: diretor


Qual a ideia que o levou a abordar a corregedoria policial?


Quando caiu a negociação para fazer um seriado do Tropa de Elite, continuei tentando outro caminho para discutir a polícia. O Brasil virou um país policial há muito anos. Convidei o (Fernando) Bonassi e o Marçal (Aquino) para pensar. Depois de muitas discussões, eles vieram com a polícia que investiga a polícia. O Wilson (Murilo Benício) tenta conviver com as impossibilidades da lei. É uma discussão do momento.


Você espera que o tenente Wilson conquiste a mesma simpatia que o capitão Nascimento?


A gente busca não uma identificação, mas um olhar atento aos personagens. O Wilson flutua numa espécie de angústia que é a mesma em que os brasileiros flutuam, em relação à lei e à Justiça. É uma discussão que não se encerra fácil. O que procuramos foi usar um personagem que vivencia essas ambiguidades desse entendimento, pelo lado da reflexão.’


 


 


Patrícia Villalba


Na Cultura, clássicos com frescor


‘O mais surpreendente da nova série Tudo O Que É Sólido Pode Derreter, que estreia no dia 10, às 19h30 na TV Cultura, é maneira como é feita a fusão do cotidiano da adolescente Tereza (Mayara Constantino) e algum clássico da literatura.


Thereza é o tipo de pessoa que se deixa influenciar pelo que lê no momento. É a leitora dos sonhos de qualquer escritor, que põe o Diabo e o Anjo de O Auto na Barca do Inferno em um programa de auditório. Ou que vive uma verdadeira epopeia para fazer o documento de identidade, uns dias depois de começar a ler Os Lusíadas. ‘A Thereza sou eu’, diz o diretor e roteirista Rafael Gomes, famoso pelo hit Tapa na Pantera.


A ideia de aproximar o cotidiano adolescente com o melhor da ficção surgiu em 2005, quando Rafael e o amigo Esmir Filho filmaram o curta Tudo O Que É Sólido Pode Derreter. Soturno e poético, o filme de 16 minutos vê a vida de Debora (interpretada pela mesma Mayara) pela ótica de Hamlet, de Shakespeare. ‘Com o roteiro, vencemos o Cultura Inglesa Festival. Deu tão certo, foi tão bem-aceito, que pensamos em continuar com a história. Aprofundamos a personalidade da personagem e mudamos o nome para Thereza’, explica o diretor.


Naquele momento, Rafael e Esmir tinham duas certezas: que a série deveria apresentar clássicos da língua portuguesa e que a emissora certa para apresentá-la era a TV Cultura. ‘Partimos do princípio que usaríamos especialmente obras de domínio público. E a ideia era fazer uma apanhado grande do que é a literatura brasileira’, explica Rafael.


Nos seus 13 capítulos, Tudo…, vai de Gil Vicente e Camões a Drummond e Mário de Andrade, passando por Machado de Assis e Padre Antonio Vieira. ‘Não há quem não tenha de ler estes escritores na escola, então partimos desse universo. E também das obras que tivessem potencial dramático no círculo de personagens que criamos para a série’, detalha Rafael. ‘O maior desafio foram Os Sermões do Padre Antônio Vieira. Nós nos empenhamos para que o episódio fosse dinâmico e divertido. Criamos uma história em torno do Marcos (Victor Mendes), que tem problemas com o pai autoritário, e trabalhamos a figura da autoridade.’


No 12º episódio, Tereza vai conviver com heterônimos, como Fernando Pessoa. No 13º, será uma anti-heroína de atitudes egoístas, influenciada por Macunaíma. É uma personagem forte, tipo interessante de adolescente que vai da poesia à acidez de maneira bastante verossímil. ‘Ela senta na terceira carteira – não está na primeira nem é da turma do fundão’, define Mayara. ‘Ela sempre estuda, não especialmente para uma prova. É um momento dela, e é aí que ela viaja.’


A série se passa na casa de Thereza, onde ela convive com os pais, e numa escola pública do ensino médio, na qual desenvolve relações de amor e ódio tipicamente adolescentes. Muitas vezes sufocada pelo cotidiano, a garota escapa para um mundo de delírio, onde pode encontrar personagens e escritores, além do seu tio, que morreu há pouco tempo. ‘É um personagem que já nasceu morto, que aparece em flash-backs e nos muitos momentos em que a Thereza está no mundo poético’, observa o ator Luciano Chirolli, que interpreta o personagem. ‘O que eu mais gosto nesta série é a capacidade que a Thereza tem de fazer um pouco de romance e poesia no seu dia a dia. Acho que a série desperta esse tipo de observação nas pessoas.’’


 


 


CULTURA
Jotabê Medeiros


Contra nova lei, teatro vai ao front


‘A nova lei de incentivo à cultura viveu, na semana passada, seu primeiro teste na frente de batalha. Cerca de 200 atores, dramaturgos, diretores e produtores de teatro ocuparam, na manhã de sexta-feira, a sede da Fundação Nacional de Arte (Funarte), em São Paulo, protestando contra a política cultural do governo. Segundo Pedro Pires, diretor de teatro e membro da Companhia do Feijão, os manifestantes integram o chamado Movimento 27 de Março, e promoveram a ocupação para firmar sua posição contrária à renúncia fiscal – querem a supressão pura e simples desse mecanismo no Projeto de Lei que pretende substituir a Lei Rouanet, apresentado pelo governo na semana passada. Também preconizam a destinação de 2% do orçamento da União para a área cultural.


Depois de alguma agitação, com a presença da Polícia Militar, os manifestantes resolveram sair e reiniciar o diálogo com o Ministério da Cultura e a Funarte. ‘Achamos que o capítulo 2 do Projeto de Lei, que trata do Fundo Nacional de Cultura, pode significar um avanço. A gente está aqui porque gostaria de negociar com o MinC o artigo segundo’, considerou Pedro Pires.


Há uma outra mobilização em curso movida pelo pessoal do teatro, desta feita nacional, pedindo reformulação no Projeto de Lei. Trata-se do Movimento Redemoinho, que une grupos teatrais de 14 Estados do País e que divulgou na semana passada a Carta de Salvador. O documento critica o plano de reformulação da lei. Segundo a carta, a proposta sustenta-se sobre as mesmas bases da lei anterior: o Fundo Nacional de Cultura e a renúncia fiscal. ‘A novidade aparente é a tentativa de articular essas instâncias num sistema capaz de controlar aquilo que surge como excesso nas captações e destinações. O que permanece intocado, entretanto, é o fundamento da lei – que não é apenas um excesso, mas uma aberração: a gestão privada de recursos públicos.’


Na sexta à noite, o staff do Ministério da Cultura se reuniu com cineastas, produtores e distribuidores de cinema na Cinemateca Brasileira, também em São Paulo. No intervalo das discussões, o ministro Juca Ferreira falou ao Estado sobre o incidente com grupos de teatro e as reivindicações da classe.


‘É teatro. É natural dos que operam nesse setor se manifestarem através da linguagem que conhecem. Não se invade espaço aberto, nem se confronta com uma pessoa tão redonda quanto o Sérgio Mamberti. A tentativa de criar arestas não existe. E o que o setor levantou é acabar com a renúncia fiscal e mais recursos para a cultura. São as grandes demandas da invasão. Eu fico com medo até que pensem que a gente tem alguma coisa com essa invasão, tal é a semelhança que a demanda deles tem com a proposta nossa’, disse o ministro.


Juca Ferreira diz que é contrário à extinção pura e simples da renúncia fiscal. Considera que não é impossível fazer isso, mas não seria positivo. ‘O nosso projeto tira a prioridade do financiamento da cultura da dependência em relação à renúncia e fortalece o fundo não só orçamentariamente, mas na capacidade de operar esse fomento. Ele passa a ser o principal mecanismo’, disse. ‘Mas a renúncia, como mecanismo secundário, junto com outros, que nós estamos criando, adquire a sua feição adequada. É importantíssimo que a gente atraia a área privada para o financiamento e o fomento, que realize de fato uma parceria público-privada. A responsabilidade social é um discurso importante. Mas no modelo atual não foi possível realizar isso.’


Segundo o ministro, em 18 anos de Lei Rouanet, só 10% dos investimentos vieram da contribuição privada. ‘90% foi o velho e bom dinheiro público’, afirmou. O ministro já se encontrou também com lideranças dos partidos no Congresso nacional, e diz que ‘o nível de desconfiança é pequeno’, especialmente porque as mudanças foram amplamente debatidas nos últimos seis anos.


‘Acho que a grande vantagem da demora foi ter conquistado um certo espaço de credibilidade e de elucidação de algumas confusões que havia alguns anos atrás a respeito das nossas intenções nessa modernização. Acho que o setor todo amadureceu, a crise está chamando para a realidade. O modelo atual hoje tem uma fragilidade imensa, empresas recuando, até as estatais estão ausentes, não estão buscando dar uma contribuição para a área – por motivos que eu considero subjetivos.’


Para o governo, o maior debate vai se travar agora, em torno das regulações da legislação – especialmente a discussão dos critérios pelos quais um projeto pode ser aprovado ou rejeitado. Pelo nova lei, serão criados comitês gestores setoriais, com participação igual da sociedade civil e do governo, para gerir os 5 fundos que serão criados: Fundo Setorial das Artes (que abrange teatro, circo, dança, artes visuais e música), Fundo Setorial da Memória e Patrimônio Cultural Brasileiro, Fundo Setorial da Cidadania, Identidade e Diversidade, Fundo Setorial do Livro e da Leitura e Fundo Global de Equalização.


‘Há uma necessidade de pactuar publicamente os critérios para os comitês avaliarem os projetos. Isso acho que complementa o processo de transparência, explicita a ideia do controle social e da participação dos setores na formulação e na execução dessas políticas’, afirmou Ferreira. O secretário executivo do Ministério, Alfredo Manevy, afirmou que outras demandas dos setores artísticos deverão ser levadas em conta. Ele considerou justa a reivindicação do grupo Literatura Urgente, que pede que o Fundo do Livro e da Leitura não beneficie somente o setor editorial e livreiro, mas também alcance o autor e a literatura.


Empresários e institutos também se mobilizam para marcar suas posições na legislação. Hoje, às 10 horas, investidores sociais privados irão ao gabinete do ministro da Cultura, em Brasília, para entregar um documento em que sugerem suas mudanças na legislação. Os investidores integram o Gife (Grupo de Institutos de Fundações e Empresas), a Confederação Nacional da Indústria e o Sesi. Segundo disse Fernando Rosseti, secretário-geral do Gife, a ideia é dar uma contribuição para a ‘análise mais técnica’ necessária ao debate. O documento teve a participação de 70 pessoas ligadas a esses institutos e empresas.


O Projeto de Lei de incentivo à cultura está disponível no endereço http://blogs.cultura.gov.br/blogdarouanet/’


 


 


REVISTA
Ubiratan Brasil


Serrote combina imagens e ensaios


‘Uma revista de ensaios normalmente faz lembrar uma publicação sem ilustrações e recheada de textos, alguns densos até demais. serrote, que o Instituto Moreira Salles (IMS) lança a partir de hoje nas livrarias (224 páginas, R$ 29,90), chega para quebrar a tradição. Inspirada nas revistas anglo-saxônicas, ela também promove o equilíbrio entre conteúdo e visual.


Basta observar a capa, que anuncia uma das joias da edição: um desenho inédito de Saul Steinberg, ilustrador romeno que se tornou um dos melhores artistas da New Yorker, especialmente quando a revista se tornou o máximo da sofisticação. Aqui, a serrote reproduz 20 trabalhos não publicados que Steinberg fez em uma agenda de 1954. ‘O mais curioso é que, apesar de ter ilustrado mais de 80 capas para a New Yorker, a primeira publicação que lhe ofereceu esse privilégio foi uma brasileira, Sombra, lançada em dezembro de 1940’, conta Flávio Pinheiro, um dos membros da comissão editorial, formada ainda por Matinas Suzuki Jr., Rodrigo Lacerda, Samuel Titan Jr. e Daniel Trench.


As artes visuais são contempladas com outro belo material exclusivo da revista: imagens desconhecidas de José Pancetti pintando na lagoa do Abaeté, em Salvador. São folhas de contato guardadas no arquivo do fotógrafo Marcel Gautherot, provavelmente tiradas entre 1956 e 1957. ‘As imagens são um pouco confusas, pois as figuras pintadas em vidro se sobrepõem ao rosto e aos gestos de Pancetti’, escreve Heloisa Espada. ‘O certo é que Gautherot preparou cuidadosamente a cena, ciente de que, ao retratar o artista trabalhando sobre a superfície transparente, criaria um plano de intersecção entre sua imagem, sua obra e a paisagem do Abaeté.’


As fotos pertencem ao rico acervo do Instituto Moreira Salles e a serrote pretende tornar pública essa documentação. Ainda neste primeiro número, por exemplo, há a reprodução de uma carta que Mario de Andrade enviou para Otto Lara Resende, em setembro de 1944. O autor de Macunaíma agradecia a acolhida recebida por estudantes mineiros em sua passagem por Belo Horizonte. De quebra, reproduzia, datilografado, um poema que Otto redigira à mão. ‘O instituto detém o acervo de Otto, que contém mais de 8 mil correspondências’, conta Pinheiro. ‘Ou seja, outras preciosidades deverão surgir.’


A literatura é brindada com 109 aforismos que Franz Kafka escreveu, organizou mas não chegou a publicar em vida. São frases inspiradas, como ‘Na sua luta com o mundo, apoie o mundo’, em tradução encomendada ao seu melhor tradutor, Modesto Carone. A serrote será oficialmente lançada na sede do IMS (Rua Piauí, 844) no dia 6, a partir das 19 horas.’


 


 


 


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