Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Anunciantes abandonam rede social usada por jovem suicida

Após a morte da britânica Hannah Smith, de 14 anos – encontrada enforcada na sexta-feira (2/8) depois de sofrer assédio moral em seu perfil no Ask.fm – a rede social está enfrentando o abandono em massa de seu anunciantes. Empresas como o Sun, BT, Vodafone, e EDF Energy já deixaram a lista dos que pagam por um espaço no site, enquanto a companhia se esforça para alertar os usuários de quanto o cyberbullying pode ser perigoso.

Outras que planejam deixar de anunciar na rede social são o McDonald’s, Phones 4U, eBay, Specsavers, Laura Ashley, Zipcar, TUI Travel, British Airways e clínica de tratamento para a saúde mental Mind. O site, que lucrava cerca de 5 milhões de libras (R$ 17,5 milhões) por ano com os anúncios, teme por suas finanças, enquanto envia mensagens a usuários contra o assédio moral. “Não toleramos assédio de qualquer tipo ou qualquer forma de utilização inaceitável de nosso site”, disseram Mark e Ilja Terebin, fundadores da rede, acrescentando que estão comprometidos a fornecerem um ambiente seguro no site.

O Ask.fm também foi alvo de críticas do primeiro-ministro David Cameron nesta quinta-feira, o político conservador fez um apelo para que internautas boicotem sites que permitam cyberbullying e evitem mais mortes de jovens. “Há algo que todos nós podemos fazer como pais e como usuários de internet que é não usar alguns desses sites odiosos. Boicote-os, não acesse”, afirmou Cameron em entrevista à Sky News. “Podemos impedir futuras tragédias como essa.”

Irmã também sofre abuso

A adolescente Hannah foi encontrada enforcada em sua casa, em Leicestershire, depois de sofrer constantes ataques em seu perfil no Ask.fm. As mensagens enviadas repetidamente para ela continham agressões como “morra”, “beba água sanitária” e “tenha câncer”. Suspeita-se que mais quatro adolescentes tenham cometido suicídio no Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos por casos de cyberbullying na mesma rede social.

O Ask.fm, popular entre jovens no Reino Unido, exige que seus usuários tenham que registrar e-mail, nome e data de nascimento na página, mas eles podem postar mensagens a quem quiser, de forma anônima.

O assédio ainda atormenta a família de Hannah. Uma página criada no Facebook em homenagem à garota foi alvo de uma série de posts ofensivos. E a irmã mais velha, Joanne, de 16 anos começou a receber mensagens agressivas em seu perfil. “É realmente perturbador. Estou lutando para lidar com o que aconteceu e não preciso dessas pessoas me perseguindo”, desabafou Joanne, que descreveu Hannah como “uma pessoa maravilhosa, cheia de vida e amor”.

Organizações civis defendem sanções mais amplas

Foi Joanne quem encontrou a irmã morta em casa. O pai, David, motorista de caminhão, estava na estrada desde a madrugada, e foi avisado da tragédia por mensagem. “Os responsáveis por esse site deveriam ser processados por assassinato”, afirmou ele. “Há algo de muito errado no mundo quando as pessoas podem dizer tantas vezes à outra que morra até que ela realmente faça isso.”

No mês passado, o Reino Unido anunciou que as operadoras de internet criarão um filtro para impedir que internautas vejam sites pornográficos. O objetivo é bloquear o acesso desse conteúdo por crianças. O caso de Hannah, dizem analistas, demonstra que ainda há muitas frentes de ação até a garantia de uma proteção efetiva num mundo virtual tão vasto. A última mensagem postada por Hannah ilustra o desafio das autoridades e a vulnerabilidade dos internautas: “Você acha que quer morrer, mas na verdade você só quer ser salvo.”

Organizações sociais pressionam Cameron para que, além da sanção na internet, o primeiro-ministro transforme a tragédia de Hannah em impulso para uma ação mais ampla. “Queremos que os provedores de serviços de internet, escolas, governo e a polícia se unam para produzir uma estratégia antibullying para todo o Reino Unido”, disse Emma-Jane Cross.

***

Brasileiros são os que mais visitam o Ask.fm

Criado em 2010, o Ask.fm é uma rede social de perguntas e respostas entre usuários. Em junho, passou de 60 milhões de usuários em todo o mundo – metade deles abaixo de 18 anos, segundo o próprio site. Hoje, ganha cerca de 300 mil integrantes diariamente.

O site tem sede na Letônia e foi fundado pelos irmãos Mark e Ilja Terebin. O Brasil é o país com maior número de acessos à página: 8,7% do total de visitas, segundo o site Alexa, que reúne dados de tráfego na web. No mês passado, o Ask.fm passou a ser a terceira rede social mais visitada por brasileiros em desktops, atrás de Facebook e Twitter.

Entidades que monitoram casos de bullying na internet criticam o Ask.fm por não oferecer a opção de bloquear um usuário, presente em outras redes. Só é possível denunciar a existência de um conteúdo ofensivo para a posterior análise do site.