Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Apologia (disfarçada) de um crime

Entre numa loja de brinquedos e procure por animais: você encontrará leões, girafas, elefantes, ursinhos, obviamente, mas nenhum animal da fauna brasileira. Entre numa livraria e procure um livro sobre animais: será o mesmo, com raríssimas exceções. Uma louvável iniciativa foi tomada pela TAM através do lançamento da sua ‘Turminha’, composta por animais da fauna brasileira, alguns deles ameaçados de extinção: o mico leão dourado, o tamanduá, o peixe-boi, o jacaré, o lobo guará e a capivara.

Não sei dizer se a ignorância sobre os animais da fauna brasileira, sobre a ameaça de extinção que paira sobre inúmeras espécies ou sobre as questões que envolvem sua proteção pode ser maléfica ou benéfica. Não conhecendo, não cobiçamos, o que pode ser bom, mas, ao mesmo tempo, não protegemos.

Oportunidade perdida

No domingo (7/1), o programa Os Cara de Pau da TV Globo teve como tema ‘Bichos’, onde apareceram um alce e um elefante interagindo com uma onça, situação totalmente inverossímil fora de um zoológico ou programa de TV. Tudo bem, pode ter sido ‘liberdade poética’, mas em outra parte do programa, ambientada em uma ‘loja de animais’, um papagaio é comercializado sem que as condições especiais que regulamentam essa transação tenham sido, ainda que superficialmente, colocadas.

O inciso III do Art. 29 da Lei Nº 9.605/98 considera a guarda de um animal silvestre – o papagaio, neste caso – como crime, mesmo que se trate de um animal de ‘estimação’, bem-tratado e sem fins comerciais. Esse quadro do programa poderia ser considerado uma ‘apologia do crime’? Exceção é dada aos animais provenientes de criadouros credenciados pelo Ibama. Meu entendimento é que houve uma falha no programa ao não explicitar essa condição, colocando-se um animal silvestre na mesma condição de um animal doméstico e perdendo uma oportunidade preciosa de apresentar a questão de maneira didática perante um público majoritariamente infantil com enorme potencial de absorção desse conceito.

Ao nos defrontarmos com qualquer situação real que envolva o tráfico ou comercialização de animais silvestres devemos denunciar, e isso pode ser feito através da Linha Verde do Ibama (0800-61-8080) ou do sítio da Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres (Renctas).

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Professor, Santarém, PA