Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Aprovada pela imprensa e pelas mulheres

A imprensa não tem poupado elogios à presidente Dilma Rousseff. E esta semana não foi diferente, quando Veja publicou uma matéria mostrando que ela tem, nos primeiros 100 dias de governo, uma aprovação maior até do que a de Lula no começo do primeiro mandato. O interessante é que nem nos editorais, nem nas matérias, se fala do grande diferencial: ela é a primeira presidente mulher na moderna República brasileira. Parece que a mídia já assimilou o fato de a presidente ser mulher, o que é uma excelente notícia. E o que conta mesmo é Dilma estar – pelo menos aparentemente – se distanciando mais e mais do estilo Lula de governo, impondo o seu estilo.

Na cobertura da visita de Barack Obama ao Brasil, em vez dos tradicionais comentários sobre as roupas usadas durante o encontro, só houve destaque para o guarda-roupa de Michelle Obama, a nova ícone fashion dos Estados Unidos. Em relação a Dilma, o destaque foi o fato de – depois de oito anos – o Brasil ter de novo um presidente que não precisa de intérprete para se comunicar com os visitantes. E para o exemplo de civilidade, ao convidar os ex-presidentes do país para o jantar em homenagem ao mandatário norte-americano. Elogiada pelos convidados do almoço e pela mídia, a presidente foi notícia pela discreta elegância de seu comportamento, ao contrário do seu criador, que alegou não querer ofuscar Dilma nem Obama durante o encontro (Veja, 30/3/2011).

Imprensa ainda não encontrou erros

Embora a mídia trate Dilma apenas como presidente (sem ficar o tempo todo destacando que ela é mulher), a presidente está fazendo – pelo menos até hoje – questão de ‘honrar as mulheres’. Semana passada ofereceu um jantar só para convidadas, no que o jornal O Estado de S. Paulo (27/03/2011) chamou de ‘o clube da Luluzinha’, na matéria ‘Dilma vira diva em noite de Festa no Palácio’:

‘Nunca antes na história de Lula houve uma noite como a de sexta-feira passada no Palácio da Alvorada. Mostrando afabilidade e simpatia surpreendentes, a presidente Dilma Rousseff deu mostras, se é verdadeira a tese do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que ela não venceu as eleições por conta das características identificadas com o universo feminino – se credenciando por meio de uma história pessoal na qual o sexo pouca diferença fez. Ela agora busca o caminho inverso. Dilma está visivelmente procurando dedicar boa parte deste início de governo a `elas´. Mulher no poder faz diferença.’

A grande diferença, segundo a revista Veja, é a política externa:

‘O mundo mudou, a Presidência da República do Brasil mudou. E mudou também a política externa. Na semana passada, o Brasil votou contra o Irã na Organização das Nações Unidas (ONU) pela primeira vez em oito anos, ajudando a aprovar a designação de um relator especial para investigar violações dos direitos humanos no país. Com o voto, o governo brasileiro acabou com o bizarro alinhamento automático ao regime de Mahmoud Ahmadinejad… ‘Não há política externa que me faça não condenar o brutal apedrejamento de uma mulher’, disse Dilma a líderes governistas na quinta-feira à noite.’

Talvez sejam atitudes isoladas – como a condenação do apedrejamento, o encontro só com mulheres no Alvorada (para um assistir a um filme de uma cineasta) seguido de um jantar, a assinatura de um projeto para a criação de creches – que sustentem essa surpreendente aprovação do governo Dilma nestes primeiros meses. E talvez sejam esses pequenos gestos, dirigidos especificamente às mulheres, que estejam tornando a presidente – que começou a campanha com uma grande rejeição por parte do eleitorado feminino – popular entre as mulheres.

Até agora, a imprensa ainda não encontrou erros de percurso para apontar no novo governo. Vamos esperar que a imprensa continue atenta – sem se deixar envolver pelo marketing que fez de Lula um fenômeno – e que a Presidência continue acertando.

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Jornalista