Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

As melhores manchetes sobre a façanha espanhola

Ainda sob a ressaca das vuvuzuelas, decidi que, embora sendo um perna-de-pau da imprensa, deveria entrar em campo e checar manchetes dos jornais sobre a conquista espanhola na África do Sul. Foi o que fiz nesta segunda-feira (12/7), pulando de um site para outro, do meu estado (RS), do país, dos vizinhos Argentina e Uruguai, da Itália, de Portugal e dos Estados Unidos.

Não contenho o ímpeto de dizer logo de cara que, para mim, a melhor manchete, como de resto a edição do assunto, foi a do carioca O Globo. ‘A festa da técnica e da ousadia’, dizia a manchete, com um toque analítico que fugia ao registro meramente factual. Como a quase totalidade dos jornais do mundo, à exceção de raros, como a Folha de S.Paulo, a foto era a dos jogadores espanhóis vibrando sob a chuva de papel dourado, o goleiro Casillas com a taça nas mãos que pararam Robben e Schnejder. Em uma foto ao lado, a imagem do Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, em cujos pés estendia-se uma faixa de boas-vindas à Copa brasileira de 2014. E, para completar: uma amostra do maravilhoso desenho de Chico Caruso que ocupou toda a capa do caderno de Esportes, no qual o mestre andaluz Picasso, com o caneco para o alto, pisa no pescoço de um batido Van Gogh. Isso que é arrojo editorial – bem-sucedido.

Já que a Folha foi citada, vamos a ela. O ‘jornal do futuro’ fugiu da mesmice da foto, diga-se, histórica, da comemoração da Fúria no palco do Soccer City. Optou pela imagem do gol de Iniesta, com a manchete ‘Espanha chega lá’, secundada de outra boa foto de crianças espanholas torcendo durante a partida. Se não foi um golaço, também não foi um gol contra.

Como segunda melhor manchete escolhi a do Olé, de Buenos Aires, marcada pela ironia, como era de se esperar: ‘Que la sigan tocando’, numa alusão à crítica de Maradona ao estilo ‘tico-tico’ do futebol espanhol. ‘Não seria melhor imitá-los?’, pergunta o diário ao desclassificado don Diego. O terceiro lugar coube à manchete do Correio Braziliense: ‘Bienvenida, España!’, ao mesmo tempo saudando a conquista inédita e reverenciando a nova campeã como nossa hóspede daqui a quatro anos. Certamente o jornal do Distrito Federal foi o que deu a foto mais aberta da comemoração do título no estádio sul-africano.

Revanche contra os colonizadores

No país dos vencedores, El País manchetou ‘Campeões do mundo’ e La Vanguardia, ‘Reis do mundo’, com uma foto de Iniesta, de perfil, com a taça. Também na Península Ibérica, A Bola, de Portugal, seguiu na mesma linha com ‘Senhores do Mundo’. Na capital portenha, o Clarín foi de ‘Espanha, novo rei do futebol’, enquanto La Nación escreveu ‘Espanha, em sua hora de maior glória’, com foto do príncipe Felipe e da princesa Letizia, da Espanha, e da princesa Máxima, da Holanda, argentina de nascimento, por supuesto.

O italiano La Gazzetta dello Sport chamou os comandados de Vicente Del Bosque de ‘Conquistadores’, enquanto o New York Times, com foto da comemoração em quatro colunas no alto da capa, registrou que a ‘Espanha está no topo do mundo’.

Os gaúchos Zero Hora e Correio do Povo recorreram a ideia semelhante – ‘A Fúria é campeã’ e ‘Fúria, a dona da Copa’, respectivamente – enquanto o Jornal do Comércio cravou ‘Espanha é campeã do mundo’ e O Sul, ‘Espanha ganha a Copa do Mundo pela primeira vez’. Voltando ao eixo Rio-São Paulo, o Jornal do Brasil lascou ‘A Fúria é a melhor do mundo’ e O Estado de S. Paulo, ‘A taça é da Espanha’.

Numa espécie de revanche contra seus antigos colonizadores, os uruguaios do El País, de Montevidéu, deram a manchete para ‘Forlán, o melhor do mundo’, colocando a saga espanhola em plano secundário. Fim de jogo.

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Jornalista, Porto Alegre, RS