Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bispo em greve de fome

Caro Bonner e equipe do Jornal Nacional,

Acompanhamos durante toda esta semana a série sobre o Rio São Francisco. Causou-nos espanto o fato de apenas na quinta-feira, 29/9, o Jornal Nacional citar a greve de fome do bispo de Barra, Dom Luiz Flávio Cappio. Foi o quarto dia de exibição da série e também o quarto dia da greve de fome do bispo. Espanto maior foi assistir ao jornal na quarta-feira, 28/8. Neste dia, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se pronunciou oficialmente acerca da greve de fome em duas cartas. Uma a Dom Luiz, de solidariedade e apoio. Outra ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, cobrando uma solução imediata que contemple o adiamento da obra de transposição do Rio São Francisco, bem como a revitalização urgente do Velho Chico.

O Jornal Nacional mencionou a carta ao presidente, mas não disse em que contexto ela foi escrita e nem que a CNBB também enviou carta a Dom Luiz. Também no dia 30/9, o jornal disse que Dom Geraldo Majella Agnelo, presidente da CNBB, era contrário à greve de fome. Acompanhamos a coletiva de imprensa na qual o arcebispo disse que a greve era uma decisão pessoal de Dom Luiz e não podia interferir. ‘A Igreja tem o poder de persuasão, não de determinação’, disse o cardeal.

Como nas Diretas

Que o governo federal se mantenha em silêncio é justificado, mas um jornal que conta com grandes profissionais e um discurso de ética e excelência, a omissão é, no mínimo, uma lição de mau jornalismo. A omissão e silêncio do diante de um gesto profético de extrema coragem, amor, renúncia e dedicação ao São Francisco e à população ribeirinha negam ao povo o direito à informação, uma garantia constitucional.

Tornar a ação do bispo de Barra invisível pode dar certo durante um certo tempo. Mas o povo, em sua simplicidade, já entendeu o gesto de Dom Luiz e está em comunhão com ele, participando das inúmeras manifestações de solidariedade em todo o país e principalmente no Nordeste.

Chega uma hora, assim como nas Diretas, que o Jornal Nacional e outros veículos da grande imprensa terão que se render à força e ao grito do povo. Esperamos que não seja tarde demais.

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Jornalista, assessora de comunicação da Cáritas Brasileira Regional NE 3; padre, coordenador da Pastoral de Comunicação da Arquidiocese de Salvador