Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Brincadeira sem graça?

No último dia 12 de agosto, a TV Band de Natal e o jornal Diário de Natal promoveram o primeiro debate com os candidatos ao governo do Rio Grande do Norte. O debate em si foi um verdadeiro fiasco, inclusive com o assessor da senadora Rosalba Ciarlini passando em frente à câmera com o programa ainda no ar.

Fora as falhas técnicas e pessoais, estas cometidas pelo apresentador Luciano Júnior, o debate não teve um nível bom, nem para honrar o digno tempo dos telespectadores que se ligaram na Band. Respostas incompletas, falta de conhecimento em determinados assuntos, além da falta de domínio da arte de saber se pronunciar, ressaltando Roberto Ronconi (PSDC), que foi o melhor do debate, pois domina mais que os outros o dom da fala, apesar do saudosismo religioso e do melodrama do amor.

A produção do debate cometeu algumas falhas em relação às regras, mas isso não vem ao caso, pelo menos agora. O que mais repercutiu, um dia após o debate Band/Diário de Natal, foi a frase proferida por Sandro Pimentel do PSOL. Na temática referente à saúde, Sandro declarou que, em geral, a saúde pública do RN está em frangalhos já fazem algumas gestões e que estava tão ruim que o próprio governador, Iberê Ferreira, foi tratar seu câncer no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O candidato do PSOL, concluiu dizendo que se fosse ele (Sandro) ou qualquer outro cidadão norteriograndense, ‘teria morrido, pois não teríamos um atendimento digno, no Walfredo Gurgel’, o maior hospital público do RN.

A grande imprensa, na TV, nas rádios e nos jornais, destacou de forma negativa a frase proferida pelo candidato socialista, inclusive chamando-o de nanico. Na própria Band, no programa Nabocadomundo, o apresentador acredita que o único fato lamentável do debate teria sido a brincadeira de Sandro Pimentel. Muito outros interpretaram a frase como brincadeira sem graça, em comentários em blogs e no twitter.

Só não vê quem não quer

Não há brincadeira no que Sandro Pimentel (PSOL) dissera. Quem assim interpretou, brincou com a inteligência dos cidadãos norteriograndenses. O que Sandro declarou foi a mais pura verdade. Foi um toque na ferida da elite, que apoia Iberê para o governo e Wilma para o senado, ambos do PSB. Wilma, que traz o slogan de uma marca de cerveja, ‘guerreira’, não cumpriu promessa de campanha, quando disse que construiria outro hospital em Natal. Teve oito anos para fazê-lo, quatro deles com Iberê como vice.

O Walfredo Gurgel não tem maca suficiente para os pacientes, assim como não tem cadeiras para os acompanhantes e agora está sem médico devido a mais uma greve, a segunda da categoria em 2010. Muito mais que uma brincadeira sem graça, a frase de Sandro Pimentel esboça a realidade vivida pela maioria da população que não tem condições de pagar um plano de saúde. Além disso, traça a realidade de um estado onde as disparidades econômicas são tamanhas, tendo uma educação entre as piores do Brasil e a capital, Natal, a penúltima colocada do Nordeste no IDEB.

Não se trata de defesa grátis do candidato do PSOL, muito pelo contrário. Mas é necessário analisar o que será feito nos próximos quatro anos na saúde, moradia, segurança e educação. A brincadeira sem graça, para os ‘nanicos’, está no fato de eleger mais um governador que luxará à custa do povo.

Depois da repercussão da frase e dos comentários na grande imprensa, podemos dizer que o interesse de determinados grupos em desviar o foco de um debate que nada contribuiu para com os eleitores, foi atingido, porém só não ver quem não quer. Levando em consideração todos os aspectos do debate, no dia 3 de outubro, todos os candidatos perderão. Já pensou?

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Jornalista, Natal, RN