Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cadáveres e videoportunidades

Se algo que a ‘grande imprensa’ não perde tempo e, muito menos vergonha, em usar, são cadáveres como cabos eleitorais. Quem tem olhos, ouvidos e estômago percebe o grande desfile midiático que se costuma fazer utilizando-se da desgraça que se abate sobre as famílias vítimas de alguma tragédia com o intuito de faturar politicamente. Rostos desfigurados pela aflição.

As manchetes estampam letras garrafais e as TVs, em especial a Globo, exploram as tragédias familiares, como as de agora, envolvendo o Rio de Janeiro e Niterói e, evidentemente, enviesam as suas ‘informações’ e comentários, astutamente amarrados a ganchos emocionais, para atacar o plano de urbanização do governo federal tocado junto com os governos estaduais e municipais.

Recentemente assistiu-se a tragédia semelhante envolvendo a população de São Paulo. Famílias foram postas na rua, perderam-se vidas. No entanto, essa imprensa, que ora invade indignada nossos lares a denunciar planos de urbanização como ineficazes e eleitoreiros, esteve ausente. A tragédia paulista e paulistana ainda persiste. Os desabrigados, vítimas de anos de governo demo-tucano – José Serra, Alckmin e Kassab – ainda existem. Suas vidas não terminaram com o início de outro acontecimento trágico. No entanto, seus nomes desapareceram dos noticiários, assim como os de seus governantes.

Informações sonegadas, fatos distorcidos

Sabemos que tais imagens e manchetes irão rechear os panfletos eleitorais eletrônicos. Sabemos que a tragédia alheia, com os cadáveres soterrados e vidas destroçadas, que ora imperam nos tablóides midiáticos, invadirão, em breve, os lares dos eleitores. Tais tragédias são apenas peças publicitárias nas mãos de marqueteiros. O mais revoltante, além do sentimento de impotência da sociedade, que não possui nenhum meio de controle sobre esta mídia leviana e canalha, é que os seus métodos são sempre os mesmos. Não se dão ao menos o trabalho de serem originais. Com a mesma sem cerimônia que criam dossiês e bodes expiatórios no intuito de desgastar seus oponentes e proteger seus interesses políticos o fazem com as vítimas das tragédias do Rio e Niterói.

Impõe-se à imprensa a responsabilidade de bem informar seus leitores. A notícia, o fato é um bem público, e não fichas de barganhas eleitoreiras. Esta imprensa, que aí está, e roga para si o papel de oposição em fóruns café-society, sem informar o seu leitor que manipula a informação, que impõe uma conotação enviesada e politicamente engajada em seus comentários, negligencia sistematicamente a inteligência daqueles que possuem a mínima capacidade de somar dois mais dois. A utilização venal de tragédias com a intenção de desgastar o governo federal frente à opinião pública é uma prática comum e muito disseminada por essa imprensa que unida e uníssona tenta, a todo custo, evitar o debate político e programático.

Procura-se, dessa maneira, atacar a linha social do governo em seus aspectos de inclusão social e, mentirosa e irresponsavelmente, desestabilizar o país com o objetivo claro de dar sobrevida àqueles que sempre viveram sob a sombra da ditadura e do oportunismo político. Usam os acontecimentos catastróficos do Rio e de Niterói para atacar carreiras políticas consolidadas junto à população local. Sonegam informações e distorcem fatos com a mesma sem-cerimônia que o fizeram em um passado próximo quando da tragédia aérea envolvendo a TAM.

Não seja leviano!

Obviamente que as imagens e manchetes de agora serão remasterizadas em uma reciclagem eleitoreira sórdida. A tragédia humana sempre rende dividendos junto à opinião pública. O choro desesperado registrado pelas lentes da mídia comprometida eleitoreiramente, será o ‘santinho’ do candidato de amanhã. Utilizam a dor de um povo e, descaradamente, vendem o seu candidato, negando à opinião pública o direito do contraditório, não lhe deixando opções.

São oportunistas. Parasitas da dor alheia. A sociedade, através de suas entidades, deve reagir e responder, da mesma forma que o presidente Lula assim o fez em debate nacional ao então candidato oposicionista Alckmin: ‘Não seja leviano! Não seja leviano! Não seja leviano!’

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Psicólogo, Curitiba, PR