Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Caminhando para o caos

Parece mesmo que estamos caminhando para o caos, a desordem do que se constitui uma sociedade.

Afinal, entre a lama do Congresso Nacional, a legitimação do uso do dinheiro público (sem devolução) de todos os deputados/senadores em relação às passagens áreas e outros tantos desmandos, chegando à quase briga de vizinho na corte real do STF protagonizada e midiatizada por dois ministros, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, o que mais pode ser tão absurdo nesse país?

Entre tiros e drogas, morre-se pelo terrorismo aplicado por traficantes ou pela polícia. Morre-se pela ausência do Estado, pela inoperância do sistema de segurança nacional, ou pela falta de atendimento nos hospitais públicos (chegando a alguns privados). Morre-se também pelo desespero, pela fobia de sair às ruas com medo de ser morto por qualquer uma dessas ações.

Entre as mazelas midiáticas e as sociais, até a academia não consegue dar conta de analisar sociologicamente estes fenômenos urbanos, que de lenda não têm é nada e de catastrófico podem gerar uma grande tragédia grega bem ao estilo de Homero.

Por outro lado, ainda é pouco o debate que a mídia faz sobre as mudanças de conceitos moral e ético, limites e democracia, justiça e direito, espetáculo da informação e notícia.

O debate é pouco e estamos reproduzindo o discurso ou nos apropriando de velhos chavões para justificar a tendência que a sociedade tem de seguir o caminho do caos.

Que tipo de revolução queremos

Poucos trazem à pauta a discussão de políticas públicas de prevenção à violência, do cuidado com a criança de hoje, pensando no marginal de amanhã, na possibilidade de abrir novos espaço culturais para trabalhar com jovens, de buscar na educação (nas diversas formas de educar) uma nova sociedade.

Trazer pautas que reforcem a necessidade de uma reforma política eficiente, que resultem em quebra de paradigmas que estão ultrapassados e que possam abrir outros canais de atuação parlamentar. Pensar a sociedade inserida nesse grande debate de transformação social. Essa é a grande revolução. Cadê os intelectuais com seus discursos libertadores? Cadê a nossa riqueza musical para retratar essa realidade de forma poética? Cadê a imprensa comprometida com a revolução social?

Por que tudo está tão parado? Faltam torturas para que os poetas, músicos, artistas, autores, jornalistas se tornem criativos, ousados, intelectuais?

É preciso pensar que tipo de revolução queremos fazer como imprensa e como sociedade para não cairmos no comodismo de deixar as coisas sem rumo, sem sentido.

Como se tudo isso não fosse da nossa calçada, e sim, da do vizinho.

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Socióloga e jornalista, professora da Universidade do Estado da Bahia e da Faculdade São Francisco de Juazeiro, BA