Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Carol Knoploch

‘Finalmente o novo programa de Eliana sairá do papel. A apresentadora volta ao ar em abril, com atração semanal, por volta das 22 horas, voltada para o público adulto. O programa deve ter games, namoro e reality show.

‘Terá homens de um lado, mulheres do outro e a Eliana. Vivemos numa guerra por audiência com o segundo colocado e por isso não posso adiantar mais nada’, comentou o presidente da Record, Alexandre Raposo, há um mês e meio no cargo.

Por falar na guerra com o 2.º lugar, a Record está de olho em mais afiliadas do SBT no Nordeste.’



TV PAGA
Etienne Jacintho

‘Quem é o público da TV paga?’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/03/05

‘A Globosat encomendou uma pesquisa sobre os hábitos de consumo dos assinantes de TV por assinatura ao instituto de pesquisas Ipsos Marplan. A intenção do grupo da Globo, que possui 21 canais pagos, é fazer um mapeamento desse público para auxiliar as agências de publicidade e os anunciantes na hora de investir em um programa ou canal.

Esse mapeamento foi feito dentro do total de assinantes de TV paga – independentemente de possuírem ou não os canais Globosat -, que têm um bom poder aquisitivo. Sabe-se que a maior parte do público de TV por assinatura é das classes A e B. Para facilitar a leitura do resultado, a Marplan dividiu o universo de assinantes – cerca de 12,9 milhões de pessoas em 3,7 milhões de lares – em sete grupos: os bem informados, as mulheres atuais, os ligados, as descoladas, as dedicadas, os boa gente e os absolutos.

Os bem informados representam 16% da base da pesquisa. São, em sua maioria, homens de 18 a 39 anos, com escolaridade superior e economicamente ativos. É um time interessado por noticiários, documentários e programas culturais, além de ter o hábito de assistir a filmes legendados.

O equivalente feminino é a mulher atual, que também representa 16% do total de assinantes. Ela tem de 25 a 49 anos e escolaridade superior. Suas preferências na TV são documentários, programas de entrevistas, shows, noticiários e atrações turísticas.

Entre os adolescentes e jovens, a pesquisa identificou dois perfis. As descoladas, de 13 a 24 anos, são consumistas, solteiras e ainda dependem financeiramente dos pais. A classe A é predominante nessa categoria, que soma 13% da base da pesquisa. Elas gostam de programas de música e clipes, seriados, minisséries e ainda assistem a atrações infantis. Já os ligados (15% do total) têm de 13 a 24 anos e são solteiros. Eles também curtem música e clipes, além de programas de humor e esportes – automobilismo, futebol e lutas.

As dedicadas são donas de casa com mais de 45 anos e não ativas economicamente. Elas representam 18% da base e suas preferências na telinha são os programas femininos, de auditório e infantis, novelas e séries, filmes e shows. Na categoria boa gente (18% do total de assinantes) estão os homens com mais de 25 anos, casados e chefes de família. Essa categoria engloba homens da classe C. Ele vê eventos esportivos diversos e também noticiários de esporte.

O último grupo é o dos absolutos, que reúne homens e mulheres de 18 a 49 anos, com escolaridade superior e opinião formada. Eles somam 4% da base da pesquisa e assistem a documentários, programas culturais, filmes – principalmente policiais – e esportes.

Por enquanto, a pesquisa será ferramenta apenas para o mercado publicitário e não refletirá na programação dos canais Globosat.’



Comunique-se

‘TV Paga identifica seu público no País’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/03/05

‘A Globosat, programadora de canais de TV por assinatura, divulgou sua primeira pesquisa de hábitos do consumo e estilo de vida do consumidor brasileiro de TV paga. A pesquisa foi encomendada pela Globosat e feita pelo Instituto Ipsos Marplan a partir do seu banco de dados. Ela é voltada essencialmente para atender ao mercado publicitário já que, ao contrário da TV aberta, em que o índice de audiência tem peso decisivo na alocação de espaços publicitários, na TV paga é a segmentação do público por programa que detém o peso principal, pois os índices.

Em vez de insistir nos interesse publicitários, nossas pesquisas deveriam monitorar e analisar de forma independente o conteúdo e formato do nosso principal meio de comunicação, a TV, e a nossa principal fonte de informações, o telejornalismo.

Pesquisas como o Projeto de Excelência em Jornalismo da Universidade de Columbia são muito importantes para todos os jornalistas, americanos ou brasileiros. No Brasil, temos problemas, modelos e práticas profissionais semelhantes. Estudos independentes e de qualidade talvez evitassem tantos mal-entendidos, distorções e injustiças. Nem tudo na TV é pesquisa de audiência ou comportamento do telespectador/consumidor. Estudos regulares e aprofundados sobre o conteúdo da TV e do jornalismo também podem contribuir com o nosso tradicional ‘achismo’ sobre quase tudo, inclusive sobre o jornalismo. É importante refletir sobre os problemas enfrentados hoje pelo jornalismo americano. Talvez consigamos evitar certas armadilhas. Em relação aos caminhos da mídia, como dizem os ‘sábios’ publicitários, ‘eu sou você…amanhã!’



ENTREVISTA / BORIS CASOY
Fabíola Reipert

‘Casoy critica mudança’, copyright Agora, 21/03/05

‘Jornalista nega briga com direção da Record, mas reclama das mudanças

Há sete anos à frente do jornalismo da emissora de Edir Macedo, Boris Casoy nega que tenha ameaçado pedir demissão por conta de desentendimentos com a direção da rede, mas reclama das constantes alterações no horário do ‘Jornal da Record’. Atualmente, o telejornal é exibido das 20h15 às 21h, com média que varia de 3 a 6 pontos no Ibope, horário em que a Globo exibe os tradicionais ‘Jornal Nacional’ e a novela das oito. O jornalista recebeu o Agora na semana passada em seu estúdio na Record, com a qual tem contrato até novembro de 2006. A seguir trecho da conversa:

Agora – As mudanças de horário do ‘Jornal da Record’ prejudicaram a audiência do telejornal. Incomoda?

Casoy – Incomoda. E isso é discutido aqui dentro. Tenho de defender a audiência do jornal. O problema não é estar neste ou naquele horário. O problema são as constantes mudanças. Isso me incomoda mais do que o horário em que eu esteja.

Mas ‘A Escrava Isaura’ entrega o horário para você com audiência alta…

Casoy – A novela entrega com 11, 12 pontos. Mas a concorrência é grande. Competir com a novela da Globo e com o ‘Jornal Nacional’ é extremamente difícil. Na minha opinião, quem assiste a telejornal tem um hábito. O telespectador fica perdido com as mudanças de horário. A gente vai para um horário, começa a crescer e, ao mudarmos, temos o problema de audiência novamente.

É verdade que outro dia você ameaçou rescindir o seu contrato?

Casoy – Não teve isso. Tenho uma ótima relação com a Record.

Antes de renovar seu contrato você pensou em se aposentar?

Boris Casoy – Estou com 64 anos e um dia vou ter de parar. Mas não me imagino fazendo outra coisa. Só não gostaria de parar profissionalmente em decadência.

O que mudaria no telejornal?

Casoy – Não tem muito o que mudar. Ele é um jornal competitivo. Um jornal feito por pouca gente. Eu gostaria de evoluir em algumas coisas. Teremos uma sucursal e um correspondente no exterior.

O que você acha do ‘JN’?

Casoy – Qualquer avaliação que eu fizer será agressiva porque é concorrente ou cuidadosa porque são profissionais que o fazem. Tenho discordâncias, mas é um jornal de tradição, que merece respeito.

Você sempre disse que tem total liberdade de expressão na Record. Nunca houve restrição?

Casoy – Nunca. Nos momentos em que poderia haver qualquer problema, eu conversei, fui dialogar. Existe uma lenda de que há restrições na cobertura religiosa. Sei que a emissora é ligada a uma igreja, mas no telejornal a gente busca dar cobertura igual a todas as religiões.

Se tivesse de falar sobre o ‘chute da santa’, como abordaria?

Casoy – Do mesmo jeito que cobri no SBT. Condenei, mas permiti que a Record e a igreja se expressassem.

Voltaria ao SBT? Há rumores de que eles te querem de volta.

Casoy – Voltaria. Sou um profissional. Mas não tive nenhum convite formal.

Considera o jornalismo da Record mais forte do que o da Globo?

Casoy – Considero-o diferente para o telespectador escolher.

A Globo deveria ter colocado o Pedro Bial para escrever a biografia do Roberto Marinho?

Casoy – O Pedro Bial é competente. Tem uma biografia boa a defender. Tenho certeza de que ele foi cuidadoso. Ele pode até ter puxado sardinha, porque trabalha lá, mas nos limites do que um bom jornalista faz.

Já viu o ‘Big Brother’?

Casoy – Já. Não gosto, mas quis ver o que era aquilo. é um fenômeno da televisão e de massa. Liberou o gosto que as pessoas têm pela fofoca.’



CAPÃO REDONDO NAS TELAS
Ana Paula Sousa

‘Destinos fugazes’, copyright Carta Capital, 23/03/05

‘Quando, em 1998, a câmera pilotada pelos irmãos Teresa e Mauricio Eça cruzou pela primeira vez as ruas de muita terra e pouca largura do Capão Redondo, extremo sul de São Paulo, Jefinho, porte miúdo e olhar manso, gravou em vídeo seus sonhos. Certo de que o crime não o laçaria, mirou a câmera e disse: ‘Meu futuro é casar, viver sossegado, longe do mundo das drogas. Assim eu vou levando, trabalhando’.

Com os sonhos partidos. Sentado num balanço, rodeado por árvores salpicadas de sol, ele olha para a câmera, com o mesmo olhar manso, e conta que já matou, que já roubou: ‘O fim disso vai ser só quando eu morrer. Eu acho que eu não vou conseguir. Não, eu não vou sossegar’.

A câmera que captou a transformação de Jefinho só deixaria o Capão Redondo em 2004. Nesses seis anos de flagras e relatos, mostrou que na ponta da zona sul o destino é ligeiro e implacável. ‘Você vira a esquina e pode tomar um tiro. Você pega carona com um colega e se vê envolvido num roubo de carro’, define Mauricio Eça, autor do documentário Universo Paralelo, junto com Teresa Eça e com o rapper Cobra, do grupo Conexão do Morro.

Já exibido na TV Senac, o filme integrará a mostra O Estado das Coisas, do festival é Tudo Verdade, que acontece de 29 de março a 10 de abril, em São Paulo, e de 31 de março e 10 de abril, no Rio. Nascido como um projeto desbravador, Universo Paralelo chega às telas com certo atraso.

De 1998 para cá, a periferia tomou de tal modo o cinema – com ficções como Cidade de Deus e Carandiru ou com documentários como O Rap do Pequeno Príncipe… e Fala Tu – que o projeto tende a ficar com pinta de ‘mais um’. Mas a lentidão, decorrente da falta de dinheiro e não de uma idéia, acabou por ser um mérito.

O tempo construiu histórias, como a de Jefinho, e propiciou uma rara intimidade com esse universo. Berço do rap paulistano, o Capão Redondo forma, com o Jardim ângela e o Parque Santo Antônio, o dito ‘triângulo da morte’. Não à toa, estranhos não são bem vistos naquelas quebradas. Ter transposto essa barreira é a conquista de Universo Paralelo.

Diretor do premiado clipe Diário de um Detento (1997), dos Racionais MC’s, e dos clipes dos grupos Conexão do Morro e 509-e, Eça virou ‘mano’ por adoção. Da contradança de violência e criatividade que viu à sua frente, tirou uma idéia: fazer um filme de ficção sobre as vidas erguidas na periferia.

Com a irmã, passou a colher os depoimentos de Cobra. Mas as histórias que o rapper contou viraram o plano de ponta-cabeça. ‘Vimos que, para entender aquele universo, só mesmo com um documentário’, justifica Teresa. ‘Depois disso, quem sabe, estaríamos preparados para fazer uma ficção sem cair naquele erro comum de mostrar só o pitoresco.’

Cobra tornou-se uma espécie de mestre-de-cerimônias do filme. Era ele quem fazia as apresentações e alinhavava os contatos para as entrevistas. As visitas aconteciam, em geral, aos sábados e domingos. Em seis anos, a diminuta equipe nunca ficou mais do que três semanas sem aparecer no Capão. Se, nos primeiros contatos, escutavam apenas histórias-chavão, com referências a Deus ou conduzidas por uma espécie de ‘marketing bandido’ – no estilo ‘sou um cara perigoso’ -, aos poucos o pé-atrás foi sumindo.

Dia após dia, conforme ganhavam a confiança dos moradores e as mentiras escasseavam, os diretores foram percebendo que uma pergunta se impunha: Por que você entrou no crime ou por que você não entrou? ‘Todo mundo lá, principalmente os garotos, teve que tomar essa decisão um dia.’ Cobra, à frente da câmera, relembra, cheio de graça, o dia em que tomou essa decisão:

– Uma vez a gente foi na alameda Itu roubar um cara que pagava o meu pai. Catei um revólver desse tamanho, pegamo o busão e fomo pra lá. Mas, na hora de enquadrar o cara, um motoqueiro parou do lado do carro dele e, cê não acredita, o maluco roubou antes da gente! Isso foi o deixa da vida pra mim. Mano, eu não nasci pro crime. Cada um tem um dom, eu não tenho o dom pro crime.

DJ Lah, do grupo de Cobra, abandonou o revólver quando, brincando, quase matou um amigo. Leed, que tinha um medo danado de assaltar, parou por causa de uma tragédia: ao praticar o primeiro roubo, tomou um tiro nas costas e ficou numa cadeira de rodas. Dexter, do 509-e, deixou o crime pela música:

– O crime é um atrativo assim muito forte. Ele te dá coisas que fazem você se render. O rap é o grande responsável pela minha mudança. Eu saí do crime de cabeça erguida, e entrei nele também de cabeça erguida, e em grande estilo. O rap é a música que eu considero a mais revolucionária do mundo. Traz auto-estima.

Como diz Eça, as histórias mudam, mas são cíclicas. ‘é um círculo que não acaba. Mesmo a história que o músico conta no rap pode acabar acontecendo com ele.’ O diretor recorda o garoto que foi ator num clipe, fazendo o papel de vítima do tráfico, e, meses depois, foi assassinado em circunstâncias semelhantes à do personagem.

Assim descrito, Universo Paralelo pode parecer excessivamente pessimista ou mundo-cão. Mas todos os relatos resguardam uma humanidade que tempera os instantes ferozes. Além do mais, a impressionante rota de Jefinho tem também a sua contramão.

O Conexão do Morro, por exemplo, estava começando a carreira em 1998 e hoje está no quarto CD. Fernando FF começa o filme atrás das grades do Carandiru, acusado de participar de um resgate de presos, e termina em liberdade, absolvido:

– Você pôr o pé pra fora, parece que tá caindo um elefante nas costas. Uhhhh! Você põe o pé pra fora, você, uhhhh. Essa sensação que eu tô sentindo agora é a brisa, é o vento…

E, claro, muita coisa ficou de fora, como a entrevista do ladrão de banco que casou no meio do filme e não quis que a mulher soubesse do seu passado, o menino de 10 anos que falava como um homem de 25, com trejeitos de bandido, e ainda boa parte do que dizia Jefinho. ‘A mãe dele pediu para que alguns detalhes de sua ação como bandido fossem retirados’, conta Teresa.

O letreiro que informa, no fim de Universo Paralelo, que Jefinho morreu é o momento mais violento do filme. é uma violência silenciosa, sem efeitos especiais e duramente previsível. Como anuncia Cobra, no Capão Redondo uma pessoa tem 46 vezes mais probabilidade de morrer do que nas regiões nobres. ‘Em São Paulo, o terceiro maior centro consumidor de Ferrari fora da Europa, as estatísticas nunca estão do nosso lado’, alerta. Mas Cobra é um dos que vão contra ela, e segue fazendo sua música.

Na história de Cobra e de outros rappers, Mauricio Eça encontra conforto: ‘é uma realidade terrível, mas, nesses seis anos, acho que a periferia mudou para melhor. Os moradores estão mais articulados, têm mais auto-estima e tentam se impor’. Os filmes que antecederam Universo Paralelo teriam contribuído para isso? ‘Muitos filmes só reforçaram estereótipos e transformaram a tragédia em historinha. Mas, ao mesmo tempo, fizeram os moradores da periferia pensar que, se estão fazendo filmes sobre eles, é porque são alguém.’’