Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

CBC desiste de exibir programa sobre seita chinesa

A emissora de TV Canadian Broadcasting Corporation (CBC) sofreu críticas por retirar de sua grade de programação um documentário amplamente anunciado sobre a seita espiritual chinesa Falun Gong, após receber ligações de diplomatas chineses no Canadá. O canal do governo canadense desistiu da exibição de ‘Beyond the Red Wall: The Persecution of Falun Gong’ (Além da parede vermelha: a perseguição da Falun Gong, tradução livre) horas antes do horário programado para a versão em inglês ir ao ar – a versão em francês já havia sido exibida, sem maiores conseqüências. A própria versão em inglês já havia sido exibida, mas no meio da noite.


A decisão da CBC foi criticada por jornalistas canadenses e por membros da Falun Gong, além de ter deixado os telespectadores confusos com o sumiço do programa. A emissora é o principal veículo de comunicação do Canadá a cobrir as Olimpíadas de Pequim, na China, em 2008. Segundo Paul Knox, professor de jornalismo da Universidade Ryerson, em Toronto, é lógico se pensar que a retirada do documentário teve relação com um temor do canal de que a cobertura das Olimpíadas pudesse ser prejudicada.


Esta sugestão foi refutada pelo porta-voz da CBC, Jeff Keay. Segundo ele, não há ligação entre a retirada do programa da grade e a cobertura dos Jogos – que gera lucros substanciais com a venda de espaços publicitários. Keay afirmou, entretanto, que a decisão foi tomada após um telefonema de um ‘consultor cultural’ da embaixada chinesa em Ottawa. Por esta conversa, pareceu que as autoridades chinesas não haviam tomado conhecimento das exibições anteriores – e certamente não gostariam de ver a próxima.


Perseguição


Peter Rowe, produtor do documentário, afirmou que teve de fazer um número maior que o normal de mudanças para satisfazer a CBC, e que o filme teve de ser assistido por advogados antes de ser liberado. A Falun Gong foi criada no início da década de 90 e ganhou rapidamente milhões de adeptos. Em 1999, após uma manifestação popular pelo reconhecimento oficial da seita – que reúne meditação, rezas e exercícios físicos -, ela foi proibida na China, considerada perigosa pelo Partido Comunista. Desde então, seus membros passaram a ser perseguidos pelo governo chinês. Centenas de praticantes já foram mortos ou encarcerados e levados a campos de trabalho forçado. Com informações de Ian Austen [The New York Times, 9/11/07].