Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Chamem o professor Bechara!

Já que a nova ortografia tirou do ostracismo velhas letras como o ‘K’ e o ‘W’, conviria cobrar explicações dos especialistas sobre a pronúncia correta de nomes estrangeiros, sobretudo orientais. Ou adotar certas convenções na base do decreto.

No português (europeu ou americano) jamais tivemos sinais capazes de emitir corretamente um nome como Mahmoud ou Muhamad. O nosso ‘h’ é insuficiente para reproduzir a sonoridade gutural dos idiomas orientais. Não adianta aspirar o início de Hamas como se faz com o ‘h’ em inglês – o correto seria usar, como o fazem franceses e anglo-saxões, algo parecido com o ‘j’ em espanhol, bem rascante, no caso o ‘kh’.

Antes do revival do ‘k’ alguns usavam o ‘ch’ mesmo correndo o perigo de confundir seu som com o do antigo grupo ‘ch’ (igual ao ‘x’). A solução seria o ‘kh’ como se faz na Europa para pronunciar o nome da poeta russa Akhmatova, ou do antigo secretário-geral do Partido Comunista soviético, Khrushev.

A mesma coisa

Então, para complicar, aparecem nomes hispânicos como Alejandro com o ‘j’ arranhando a garganta. Se vamos usar pronunciá-lo como ‘janela’, teremos que enfrentar a fúria de todos os Alejandro castelhanos. E também os Jaime.

Convém chamar o professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras. Aproveitem para pedir as suas luzes para a pronúncia do recém-renascido ‘w’: Anwar deve ser pronunciado como ‘Anvar’ ou ‘Anuar’? Awila lê-se como Auila, Avila ou deve ser iberizado como Ávila?

Wiliam pronuncia-se Uiliam ou Viliam? Washington é Uashington ou Vashington?

O professor Bechara tem a sabedoria, a ponderação e a paciência para dirimir qualquer controvérsia. No Oriente Médio não teria problemas: Shalom e Salaam significam a mesma coisa, não têm problemas de grafia e pronúncia. Infelizmente, ninguém pensa nela.