Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cobertura embedded revela outro lado da guerra

A cobertura jornalística de guerras embedded gera polêmicas de natureza ética e põe à prova a credibilidade da matéria. O profissional se submete a normas de conduta do exército de que faz parte e cria empatia com os militares, mas para uma jornalista com experiência embedded no Afeganistão o método mostra um lado diferente da guerra.

O termo embedded, em inglês, significa embutido. Ele faz referência ao jornalista que se desloca junto com as tropas em uma guerra, possibilitando um maior contato com o campo de batalha. O termo foi usado pela primeira vez na cobertura da Guerra do Iraque, em 2003, mas há controvérsias quanto ao seu início, pois há relatos de coberturas jornalísticas semelhantes na Guerra da Criméia, em meados do século 19.

O jornalista José Arbex Jr., em seu livro Jornalismo canalha, publicou sua definição do termo: ‘O jornalista embedded é aquele que aceitou se submeter a uma série de 50 normas estabelecidas pelo exército dos Estados Unidos como condição para acompanhar as tropas. As normas previam, entre outras coisas, que ele não poderia reportar nada que não fosse aprovado pelos chefes do seu regimento, o mesmo valendo para as transmissões de imagens. Tampouco poderia se deslocar para áreas consideradas perigosas.’

‘É óbvio que cria uma certa empatia’

Patrícia de Campos Mello, jornalista do Estadão, esteve embedded junto às tropas americanas no Afeganistão em 2009. Durante uma entrevista coletiva, ela também falou sobre as normas impostas pelos militares, mas negou qualquer controle do conteúdo a ser publicado, e explicou o motivo: ‘Lá ninguém entendia português.’ ‘Você recebe um folheto enorme sobre o que você pode ou não pode fazer. Por exemplo, você não pode perguntar a opinião dos soldados sobre a guerra e não pode informar localização exata das missões, isto até por uma questão de segurança; mas lá não existe controle algum das conversas’, contou.

Sobre as restrições no acesso às informações, Patrícia enxerga que o embedded dá oportunidade para um outro tipo de cobertura. Além das hard news, cobertura de fatos com análises complexas e densas, é possível relatar a situação de quem atua no conflito. ‘Fatalmente, se vê muito pouco da guerra, mas também se vê os momentos espontâneos dos soldados. Eles acabam virando seus amigos e falando coisas que não falariam normalmente, como, por exemplo, que eles não sabem o que fazem lá e que eles acham a guerra uma imbecilidade.’

A proximidade com os soldados, para Patrícia, também torna a cobertura um desafio. ‘Você está sendo levada por um exército que está te alimentando, que dorme na barraca com você, é óbvio que cria uma certa empatia’, afirma a entrevistada. ‘Cobrir embedded é só uma parte da cobertura, é só um pedaço da guerra’, completou.

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Estudante de Jornalismo, PUC-SP