Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Coletiva de imprensa, a única chance

A agência de comunicação social de um determinado governo estadual redige um press reelase e envia a toda imprensa. A pauta: as próximas ações dos poderes públicos – estado e município – para o combate à proliferação do mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue. No dia seguinte, os jornalistas chegam no horário marcado para, em entrevista coletiva, falar com o governador, o prefeito e representantes das Forças Armadas.

Como é de praxe, mesmo após o repasse de informações gerais sobre o tema, os jornalistas se organizam em um canto para, juntos, fazerem seus questionamentos diante das informações. Cada um, a seu modo – e de acordo com a linha editorial do seu veículo de imprensa, bem como pelo foco da pauta –, faz as devidas perguntas. Argumentações, contra-argumentações, anotações. Tudo vai bem, sereno e dentro do esperado quando, de repente, um repórter de rádio, transmitindo ao vivo para um programa esportivo, dispara no meio de todos: ‘Governador, qual sua expectativa para o início do campeonato regional de futebol?’

Alguns minutos de silêncio e de olhares estranhos depois – até do próprio governador que, diante de pergunta que nada tem a ver com o assunto tratado, sorri sem graça: ‘Já vai começar o campeonato? Nem sabia…’ ‘Sim’, diz o repórter. E o governador ensaia uma resposta improvisada, sem saber direito quem são os times, os jogadores. E tudo diante dos olhares cínicos dos outros jornalistas, que sorriem com a situação.

Uma mísera palavra

Apesar de engraçado, o caso citado – real, diga-se de passagem – é bem comum entre jornalistas. Qual o repórter que nunca aproveitou a presença daquela ‘autoridade’ em algum evento público para tirar uma dúvida que falta para fechar aquela matéria cuja fonte principal – a tal ‘autoridade’ – nunca tem tempo de atender ou nunca é encontrado quando procurada via assessoria de imprensa? Na verdade, as coletivas de imprensa são, para muitos, a única chance de falar com certas fontes face a face, para fazer aquela pergunta certeira.

E se não fossem as coletivas? Bem, nesse caso é tentar insistir com a assessoria de comunicação da fonte para, finalmente, conseguir aquela entrevista… às vezes tão rápida, tão curta, tão necessária, tão importante, tão, tão… tão impossível. E, ainda, torcer para aquele seu editor ter a devida paciência e compreensão em lembrar que, um dia, ele também esteve na situação de caçar a todo custo um rápido depoimento, uma mísera palavra que pode vir a ser a manchete de amanhã.

Do contrário, só na próxima coletiva. Sabe Deus quando.

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Jornalista, redator, escritor e fotógrafo