Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Colunista precisa ir a Wall Street

Na quarta-feira, 31 de março, Miriam Leitão que já há algum tempo, por méritos reconhecidos, ganhou de alguns a alcunha de ‘a jornalista do apocalipse’, mostrou-se preocupadíssima com uma possível saída de Henrique Meirelles do Banco Central, pois, assim, alertou a profeta em sua coluna deO Globo, ‘o BC ficaria sem qualquer economista que tivesse passado pelo mercado’. A profecia não se cumpriu e Meirelles ficou.

Ainda bem porque, segundo a coluna, que trazia o título de ‘BC estatal’, palavrinha que causa ojeriza às elites, esta saída não poderia ocorrer em pior hora, pois ‘é necessário começar um ciclo de aperto na política monetária’. Faltou à sempre tão bem informada colunista ler oWall Street Journal de dois dias antes. Tivesse se dado ao trabalho de, ao menos, ler a capa do respeitado diário americano, que leva o nome da rua considerada o coração financeiro do mundo, talvez chegasse, ainda que com algum esforço, à conclusão de que os parafusos que ela sempre acha que faltam em nossa economia estão muito bem ‘apertados’, obrigado. Para oWall Street Journal de 29 de março, ‘todos os dias os brasileiros estão tão ocupados comprando carros, máquinas de lavar e TVs planas que nem perceberam os efeitos da crise econômica pela qual o mundo passou’.

Chegou finalmente o amanhã

Recentemente, o diário britânicoThe Guardian foi mais longe, apontando a saúde financeira do Brasil como motivo para o favoritismo de Dilma: ‘Analistas que descartavam Rousseff agora sugerem que ela é a favorita para vir a comandar os rumos de uma economia crescente’, disse o jornal em sua edição de 14 de março.

Como se vê, o paradoxo entre o que dizem nossos analistas de salão com sua visão apocalíptica e a visão otimista dos mais especializados veículos da imprensa internacional é da ordem do absurdo. Faz me lembrar o dia em que passei por um curso de idiomas cuja fachada é totalmente pintada com as cores dos Estados Unidos, com direito à Estátua da Liberdade estilizada, e notei que a atendente vendia cursos de inglês trajando uma camisa com o rosto de Che Guevara, com direito a uma pequena bandeirinha de Cuba na lapela. Quando aparecem na TV, geralmente trajam preto, cor apropriada, mas sabe-se lá a roupa que os jornalistas de nossa grande imprensa usam no sofá de casa.

E os paradoxos não param por aí. Para quem não sabe, Miriam Leitão, que eu apelidaria de ‘a economista dos números sem contexto’, foi militante de esquerda, chegando a ser presa. Faz me lembrar Cazuza: ‘Aquele garoto que queria mudar o mundo e hoje assiste a tudo em cima do muro’… De mãos dadas com os tucanos, claro. Só falta assumir o lado.

Os velhos barões de nossa mídia sabem bem que o pior e mais penetrante autoritarismo é o que se disfarça de democracia. Enquanto isso, ‘para o `país do futuro´, chegou finalmente o amanhã’, lêem nas bancas de Wall Street economistas que sabem muito bem o que é mercado.

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Jornalista