Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Com oferta reprimida, procura vai aumentar

O sucesso da recente ocupação dos principais redutos de drogas do Rio de Janeiro pelas Forças aliadas – Marinha, Polícia Federal, Polícia Militar e Polícia Civil – abre a discussão sobre o futuro do tráfico não apenas no Rio de Janeiro, como também nas demais capitais do país. A grande expectativa é sobre a reação dos traficantes, diante do que ocorreu no Rio, e como fica o mercado da droga com a redução da oferta. Para os analistas de plantão, o governo tem que investir rápido nas campanhas de recuperação dos dependentes porque a política de negócio de qualquer mercado indica que a procura estimula a oferta – e isso significa preço alto e bons negócios para os narcotraficantes.

Naturalmente que o custo-benefício do comércio da droga, depois do que ocorreu no Rio, terá o seu risco elevado, pelo efeito cascata que a repressão ocasionará em todo o país, mas pergunta-se: desde quando o tráfico deixou de ser uma operação de alto risco? Para quem atua na venda a varejo da droga, a única opção é matar ou morrer. O importante é abastecer a demanda de consumidores, que, com a oferta reprimida, vai aumentar. Não há dúvida de que os grandes investidores do tráfico, que atuam longe dos morros, já estão pensando em estocar o produto para, quando a ‘poeira abaixar’ e o carnaval chegar, derramar a droga no mercado varejista.

Mercado em baixa

Somente uma facção do tráfico, em atividade na Pedreira Prado Lopes (PPL), no bairro São Cristóvão, região Norte de Belo Horizonte, movimenta quase um milhão de reais por mês com a venda de pedras de crack, segundo informação que recebi de um informante que trabalha neste antigo reduto de droga da capital mineira. Ainda segundo assa fonte, cerca de 20 vendedores da droga cooptados pelos traficantes atuam nas imediações da rua Pedro Lessa, que dá acesso à Pedreira. Cada um destes ‘aviões’ vende, em média, 120 pedras por dia, ao preço de R$ 10,00 cada, o que significa um faturamento mensal de R$ 700 mil.

Este faturamento inclui apenas a venda de crack, cuja pedra pesa, em média, 0,5 grama. O seu tamanho minúsculo, o preço baixo e a facilidade de transporte – mais o seu efeito imediato – representam o grande trunfo desta pasta sobre os seus principais concorrentes, a cocaína e a maconha, também muito vendidos nas favelas de Belo Horizonte.

Com o mercado em baixa no Rio, espera-se uma redução da oferta da droga na região sudeste, onde está o seu centro consumidor, provocando a alta do produto e um certo desespero dos dependentes cariocas, que deverão encomendar o produto de outras praças.

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Jornalista