Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comportamento ‘imperial’

No dia 11 de maio, falando ao ‘Último Segundo‘ sobre o Rock in Rio deste ano, Caetano Veloso declarou que não gostava da postura de muitos artistas de rock de língua inglesa que, segundo ele, ‘comportam-se como imperadores romanos em filmes de Hollywood dos anos de 1950’. O artista referia-se ao primeiro episódio da franquia Rock in Rio em 1985, no Rio de Janeiro. O compositor, de 68 anos de idade, comentou que, apesar de nunca ter participado de nenhum dos eventos, esteve presente no primeiro deles, como parte da troupe de Lulu Santos.

Na ocasião, Caetano ficou chocado com o desrespeito aos artistas nacionais presentes na festa. Quando o cantor inglês Rod Stewart seguia para o palco, contou ele, todas as portas dos camarins de artistas brasileiros foram abruptamente fechadas. Como se por ali fosse passar Nero, ou algum outro imperador romano. Veloso não esqueceu o desrespeito:

‘… poxa, o Lulu ia cantar também. Achei chato. Tem de ser respeitado. Os ídolos de rock agem como se fossem imperadores romanos em filme de Hollywood. Acho isso cafona! Fico com saudade do ambiente de jazz quando vejo essa porcaria. Adoro rock, mas não gosto desse negócio dos artistas internacionais fingirem que são Nero em um filme dos anos 50.’

Naquele fim de tarde, no local onde será construído o Parque Olímpico para os jogos Olímpicos de 2016, Lulu Santos fez, na minha opinião, a melhor apresentação de sua carreira. Rod Steward (de quem sempre gostei muito) fez uma boa, mas burocrática exibição. E ainda saiu do Brasil sem pagar a conta do hotel…Caetano Veloso não poderia ser mais feliz, em sua declaração ao ‘Último Segundo’.

‘O rock errou’

Já não é a primeira nem a segunda vez que músicos de rock internacionais tratam mal não só seus colegas brasileiros em seu próprio país, mas também a própria imprensa. A apresentadora e jornalista Astrid Fontenelle, do canal pago GNT, quando fazia parte da equipe da MTV brasileira entrevistou o astro de rock Jon Bon Jovi (John Bongiovi), em 1994, e o definiu como ‘a pessoa mais antipática com quem teve contato’. Bongiovi não foi o único rude com a imprensa.

Outro exemplo: alguém, por acaso, ainda se lembra da entrevista de Madonna feita por Marília Gabriela em 2009, para o SBT? Monossilábica, antipática e sempre séria, a atitude blasé da cantora foi inexplicável, mal-educada e desrespeitosa. Mesmo com o inglês truncado da apresentadora brasileira e o sript inadequado e ‘profundo’ demais para a americana (lembrem-se, ela estava na fase pré-Caballah…), a atitude da cantora foi inaceitável. Um desrespeito a todo o público brasileiro.

A entrevista virou sucesso no YouTube, entre usuários brasileiros e americanos. Foi exibida e editada com o título ‘Madonna dando coices em Marília Gabriela’. Também foi dividida em rounds por outro usuário, tamanha a animosidade latente entre as duas. Foi um momento infeliz e embaraçoso, provocado principalmente pela atitude insolente e incabível da artista americana.

Caetano sempre teve relações tensas com a imprensa. Antes, durante e depois da ditadura. Agora, como colunista do jornal carioca O Globo, continua mantendo o clima pesado com parte da mídia. Como no caso da defesa de sua irmã, recentemente acusada em alguns veículos da mídia de embolsar mais de um milhão de reais através da Lei Rouanet (o assunto já foi abordado de forma mais profunda aqui no Observatório da Imprensa).

Rusgas à parte, desta vez o compositor baiano acertou em cheio e falou por todos nós, brasileiros, que já não suportamos mais esse tipo de comportamento infantil e egocêntrico de gente que supostamente deveria honrar as tradições libertárias herdadas da contracultura dos anos de 1960. Como já disse o desafeto de Caetano, o músico Lobão (principal acusador de Maria Bethânia e inimigo declarado da MPB): desta vez ‘o rock errou’…

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Mestre em Planejamento urbano e regional, consultor e tradutor