Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunicação da realidade manipulada

Encontramos na mídia um veículo de extremo poder de manipulação de opiniões. Através do processo de construção da notícia, o jornalismo, em muitos casos, para não dizer quase todos, apresenta ao telespectador/leitor uma ‘realidade irreal’. Uma realidade existente apenas nos interesses de uma determinada empresa midiática, ou mesmo de um jornalista.

É verdade que muito do que a imprensa transmite ao público tem relação com a realidade, sendo que muito do que é repassado sofre modificações no seu contexto e na sua abordagem que agradam não ao receptor, e sim, aos meios de comunicação, de modo que se constrói até mesmo um novo fato, uma nova notícia em cima do que realmente aconteceu. Essa é uma realidade artificial criada e apresentada pela imprensa para guiar e manipular a opinião pública.

É através dessa manipulação que a imprensa retém uma grande força que influencia o cotidiano de cada um, colocando todos em convivência e conivência em um mundo que não existe. A mídia apenas apresenta as notícias classificadas como fatos jornalísticos. A decisão e os critérios de classificação para dizer se determinado fato é ou não jornalístico fica por conta do meio midiático. Determinado acontecimento poderia ser de necessária importância para nós, mas para eles, a mídia, pode não passar de uma futura dor de cabeça caso tal notícia chegue ao conhecimento da massa e contrarie seus interesses e dos seus patrocinadores. Notamos, com isso, um pequeno exemplo do poder que a imprensa discorre sobre nossas vidas.

Direitos e ideais populares

O jornalismo que está aí, o jornalismo manipulador e de amnésia, não contribui em nenhum ponto para que na sociedade haja uma criticidade, uma análise de todo um contexto existente em torno de uma notícia, de uma situação. Quando cito o termo amnésia me refiro à rapidez e à instantaneidade existente no repasse das notícias por todos os meios responsáveis em divulgá-las, seja nos telejornais, na rádio, no impresso e agora também, acompanhando a evolução tecnológica, na internet. Essa velocidade no repasse da informação, ou melhor, desinformação, acontece disfarçada com a desculpa da existência de milhares de informações que a população tem por direito saber.

Verdade inquestionável. Mas outra verdade é que o público também tem por direito receber informação de qualidade que proporcione ao telespectador/leitor uma absorção analítica do que foi transmitido. Outro fato que contribui para isso, delimitando-nos aos telejornais, é a falta de ‘verdadeiros’ âncoras. O âncora, além de apresentar o telejornal, tem também como função analisar e comentar de forma crítica o que acabou de informar. Mas, aqui no Brasil, os que insistem em existir fazem apenas simples comentários que não irão acrescentar nada mais ao telespectador.

Em tempos de ditadura muitas notícias e fatos foram restringidos ao conhecimento público – um aspecto, digamos, ‘normal’ a um regime totalitário. O que é de nos questionarmos é a permanência ainda hoje desse tipo de ação, de demonstração de poder, agora pela mídia, que deveria, ao contrário, nos representar pela liberdade. A imprensa brasileira não busca e nem a interessa provocar nos brasileiros um sentimento revolucionário e de desejo aos seus direitos, aos seus ideais populares.

Uma sociedade consciente

É verdade que, enquanto jornalistas presos a uma empresa, obrigatoriamente devemos representar os interesses dessa, fazendo um jornalismo competente. Competente no intuito de deformar a informação, de inventar, criar opiniões favoráveis aos interesses particulares da mídia, excluindo qualquer direito da população do saber da verdade? A construção da notícia vai além, representa não só a possível distorção de um fato, mas a construção de um mundo imaginário e irreal aos olhos de quase toda população, que em grande parte absorve toda essa desconstrução dos fatos.

Mas nem tudo está perdido. Com a ajuda de alguns poucos jornalistas que ainda existem comprometidos de forma responsável com o ofício do jornalista e com o caráter social da profissão, é possível que aconteça um diálogo direto com a população. Uma conversa que esclareça o que vem sendo construído e deformado pela mídia e que precise na divulgação da realidade.

Outro ponto essencial para que isso mude é a participação da futura geração de jornalistas. Estes devem ter um olhar mais crítico sobre seu papel de transmissor de informações e formador de opiniões. Deve-se pensar no seu papel social como representante da massa e, a partir daí, buscar ajudar a edificar com a transmissão da verdade uma sociedade consciente do que acontece em sua volta.

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Bacharelando em Comunicação Social, UEPB, Campina Grande, PB