Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

GOVERNO LULA
Carlos Chaparro

O caos prospera também nas falas do governo, 20/06/07

‘O XIS DA QUESTÃO – Com frases desastradas, Luiz Inácio Lula da Silva e Guido Mantega fizeram exercícios de construção mental de um país imaginário, que politicamente lhes convém. Produto imaginário no qual, evidentemente, não cabe, nem como hipótese, o descalabro operacional que tomou conta dos nossos aeroportos.

1. Falas escondem a realidade

Depois de quase um ano de perplexidade nacional, tivemos, enfim, uma explicação para a incompreensível crise nacional dos aeroportos. E devemos ao ministro Guido Mantega a luz que finalmente iluminou o assunto e varreu de vez a perplexidade que angustiava a Nação. Vejam só o que ele ontem nos disse, em tom doutoral, na frase densamente científica, racional, recheada de argumentação inquestionável: ‘É a prosperidade do País. Há mais gente viajando, mais aviões nas rotas, aumento no fluxo de tráfego’.

Portanto, aí está: o sofrimento e as humilhações a que, desde novembro de 2006, os passageiros de avião, aos milhares, diariamente, vêm sendo submetidos nos aeroportos brasileiros, não fazem parte de uma crise inexplicável, nutrida pela incompetência governamental. A crise, garante o professor Mantega, integra o cenário de prosperidade nacional.

E porque assim é, o ministro nem de crise quis ouvir falar. Com a segurança de absoluto dono da verdade, destruiu a pergunta de um repórter mais atrevido com uma frase peremptória, seca, suficiente. Bastaram-lhe oito palavras para restabelecer a verdade: ‘Não há caos aéreo. Há um problema aéreo’.

Aliás, que problema não é nem existe. Pela simples razão de que a ministra Marta Suplicy já lhe dera solução, no sábio conselho passado por TV, rádio e jornal aos passageiros em estado de sofrimento: ‘Relaxem e gozem’. E a ministra manifestou também a certeza de que ‘os transtornos logo seriam esquecidos’, como efeito da inspirada terapia recomendada.

Aos que ainda resistem à argumentação ministerial, convém lembrar a sentença presidencial que há dias estabeleceu nova ‘verdade’ histórica no País – aquela proclamada no ‘Café com o Presidente’, segunda-feira passada: ‘O Brasil vive o seu melhor momento desde que a República foi proclamada’.

2. País imaginário

Que Brasil é esse de que nos falam o Presidente da República e o ministro Mantega?

O Brasil do emprego mal remunerado e do desemprego sem amparo, ou o Brasil dos lucros bancários?

O Brasil do luxo e da ostentação de meia dúzia de ricos; ou o Brasil sub-nutrido e sub-educado das gigantescas e crescentes periferias urbanas?

O Brasil dos engodos (‘… a gente vai ter mais crescimento econômico, mais geração de emprego, mais distribuição de renda, mais exportação, mais importação, mais riqueza produzida…’, prometeu o Presidente no seu ‘Café’ conosco, segunda-feira passada), ou o Brasil das exclusões sociais, da violência, da corrupção, da mediocridade política?

O Brasil do aliado senador Renan, que em três anos pôde comprar três fazendas, ou o Brasil dos pobres endividados pelo crédito vinculado?

O Brasil das aposentadorias miseráveis ou o Brasil do aumento de 140% para assessores palacianos de confiança? – lembrando-se que essa melhoria salarial servirá, também, para aliviar as contas do PT, já que o pagamento do ‘dízimo’ mensal por parte dos comissionados responde por 15% das receitas do partido.

Na verdade, um e outro, Luiz Inácio Lula da Silva e Guido Mantega, expressaram a construção mental de um país imaginário, que politicamente lhes convém. Produto imaginário no qual, evidentemente, não cabe, nem como hipótese, o descalabro operacional que tomou conta dos nossos aeroportos.

Poderíamos até admitir, em defesa das picardias retóricas Presidente, do seu ministro da Fazenda e da sua ministra do Turismo , que as frases ditas não passaram de atos falhos. A verdade, porém, é que as disseram, e não como pessoas comuns, mas como membros do governo empenhados em esconder, minimizar ou ignorar o caos aeronáutico.

Mesmo como atos falhos, os ditos governamentais não mudariam o significado que têm, de falas enganadores. Porque, concordando com Lacan, penso que o ato falho é um discurso perfeito, porque verdadeiro. Assim, tenham sido as malfadadas frases produzidas pelo agir consciente ou gritadas pela rebeldia do inconsciente pouco preocupado com os efeitos, as ações verbais realizadas tentaram passar à opinião pública uma versão mentirosa da realidade, para a ocultação da verdadeira dimensão e significado dos fatos.

3. Enfim, fatos novos

Em termos de tática de comunicação, as frases ditos cumpriam a papel imprudente de preencher o vazio de informações. Porque, na verdade, no plano concreto das decisões e ações governamentais em relação à crise aeronáutica, fazia tempo que nada de efetivo acontecia.

E uso os verbo ‘Fazer’ e ‘Acontecer’ no pretérito imperfeito, porque, hoje, sexta-feira, surgiram finalmente ações governamentais de enfrentamento da crise. Obedecendo a ordens do presidente, dadas com meses de atraso, o comando da Aeronáutico anunciou, finalmente, um plano de enfrentamento da crise, com providências disciplinares, técnicas e administrativas para pôr ordem na casa. Ou seja: a crise existe.

Os fatos novos agora produzidos expulsarão do noticiário e da discussão pública, as infelizes frases ditas pelo presidente Lula e pelo ministro Mantega. Mas a frase de Marta Supliccy, essa veio para ficar, com status e força de bordão nacional, para o alívio de dores e angústias de quem sofre: ‘Relaxe e goze’.

É isso aí, dona Marta.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 2007), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

MODA & MÍDIA
Marcelo Tavela

Agências voltadas para moda crescem e mostram que ainda há espaço no setor, 22/06/07

‘No último mês, as primeiras páginas dos principais jornais do país foram invadidas por modelos em roupas inusitadas e artistas nas passarelas, gerando assunto para quem só costuma falar de moda de seis em seis meses. É mais ou menos nesse intervalo que acontecem as edições do Fashion Rio e a São Paulo Fashion Week, os dois principais eventos de moda do País, que geram milhões de reais – com uma boa fatia indo, cada vez mais, para as agências de comunicação.

‘Não pára. O Fashion Rio tem demanda o ano inteiro. Dois, três meses antes a gente começa a se preparar. E até um mês depois ainda tem todo o trabalho de finalização: enviar fotos, fazer clipping… É uma loucura’, descreve Beth Garcia, supervisora do núcleo de moda da Approach, agência responsável pela comunicação do evento.

Ela não exagera. Só de jornalistas, a última edição recebeu 800 pedidos de credencial, além de um público geral estimado em 40 mil pessoas. Para dar conta, a Approach contrata 15 pessoas temporariamente para cada Fashion Rio. ‘A imprensa que convive nesse meio precisa e espera uma atenção especial. Tem que ter um charme e um mimo’, completa Beth.

Alem da comunicação, muitas agências que trabalham com moda fazem toda a produção do desfile. No São Paulo Fashion Week, a Alice Ferraz Comunicação e Marketing é responsável por 14 dos 48 desfiles, além de cuidar de dois lounges durante o evento.

‘Temos que entender bem o caminho em que cada empresa quer ter seu nome apresentado. Tem todo um trabalho de arquitetura da marca. Um mês antes, já fazemos as reuniões com cada estilista e com cada marca. E começamos o planejamento dos desfiles, que é a parte mais difícil’, conta a própria Alice, cuja empresa, no mercado há cinco anos, já detém a conta de 80 clientes na área de moda.

‘Fazemos o SPFW desde que a empresa começou, e aprendemos o que cada estilista quer, quem serão os convidados, qual as disposições em que cada um ficará e quais sãos os VIPs e formadores de opinião presentes’, diz, completando sem titubear qual o problema mais recorrente: ‘Escalar a primeira fila. Mas já aprendemos a solucionar’.

Na última edição, a agência testou como forma de divulgação um blog em sua página, o Fashion Hits. Foram mais de 6 mil impressões de releases e fotos pelo blog. ‘Tornou-se uma nova ferramenta para atender os jornalistas’, comemora Alice.

Dia-a-dia

Mas, fora dos grandes eventos, como é o trabalho de uma agência de comunicação que trabalha com moda?

‘A gente compra muitas revistas internacionais, para acompanhar o que está acontecendo lá fora – a internet agora ajuda muito. Viajamos também para fazer pesquisa. Temos o clipping de tudo o que sai. E fazemos reuniões quinzenais para discutir tudo isso’, descreve Thereza Duarte, da TNT Assessoria de Estilo.

Geralmente, a assessoria recebe o pedido de pauta, e uma personagem muito própria das agências de moda entra em ação: o produtor. ‘São eles que vão às lojas fazer a busca de acordo com o que cada publicação propõe. Para ser produtor, tem que ter um senso estético apuradíssimo, mas adequar o olhar de acordo com cada revista’, explica Thereza. ‘Mas há também o cuidado de selecionar e designar os produtores de acordo com o perfil de cada revista’. Para adiantar o serviço, algumas agências mantêm um mostruário – os highlights – no escritório.

‘Assessor de moda tem uma característica específica: mantêm fontes de informação, como os jornalistas. Ler os grandes colunistas de moda da mídia internacional’, afirma Heloisa Marra, que presta consultoria para RPM Comunicação. ‘A área de moda tem uma dinâmica própria. As revistas fecham com dois, três meses de antecedência, e você tem que antecipar a informação’, diz Beth Garcia.

Uma das prerrogativas foi citada por todas as entrevistadas: gostar e entender muito de moda. ‘Mas tem que desmistificar o glamour’, opina Beth. ‘Saber que você convive com aquilo, mas não faz parte daquilo. Não pode se contaminar. É um trabalho jornalístico como outro qualquer’. Alice Ferraz emenda: ‘Não somos estilistas. Nossa função é mostrar o que o cliente tem de melhor’.’

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Moda e economia, 22/06/07

‘De um modo geral, as agências que trabalham com moda se dividem nas especializadas, focadas exclusivamente na área de estilo, e em núcleos de agências maiores. Entender de outras áreas pode ser necessário para lidar com um dos pilares que sustenta o crescente interesse na moda: um mercado que fatura mais de R$ 20 bilhões por ano e é o segundo maior empregador do País. ‘Antes era coisa de perua; agora virou mega-indústria. Caiu a fixa’, aponta Thereza Duarte.

O Fashion Rio e SPFW já ganharam eventos concomitantes voltados para o mercado. Na semana carioca, a vendas do Fashion Business movimentaram R$ 304 milhões internamente, e US$ 11 milhões para exportação. Em São Paulo, o Fashion Marketing, seminário organizado pela estilista Glória Kalil, discute estratégias e oportunidades para a indústria com convidados internacionais e representantes do governo.

Tudo isso faz com que os assessores de moda também tenham que lidar com o economês. ‘Puxamos o melhor de quem trabalha conosco. Se uma pessoa fala melhor sobre economia, ela vai falar sobre economia de moda’, diz Alice.

‘A Approach nasceu, em 1995, trabalhando com moda, mas foi meio que por acaso. Eu fui repórter de Cidade, e comecei a fazer assessoria para moda como se fosse uma editoria qualquer. Hoje, os diferentes núcleos se complementam’, detalha Beth.’

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Bons contatos são um trunfo, 22/06/07

‘Saber se relacionar também – tanto dentro da agência como com a imprensa e até com outras assessorias – é outro trunfo. ‘O tempo todo, tudo é relacionamento. Você tem que equilibrar o que o jornalista quer com o que o seu cliente quer’, aponta Alice. ‘Moda tem uma linguagem e uma proximidade muito próprias’, completa Beth.

A troca de informações entre agências também é recorrente, tanto para que eventos não sejam agendados no mesmo dia como no sentido de se ajudar. ‘Isso acontece muito em função dos mais jovens, que têm uma mentalidade mais colaborativa. E será cada vez maior. Claro que há rivalidades, mas todo mundo se comunica muito’, diz Heloisa. A consultora pode ser considerada uma ‘novata’, na função desde março. Antes, passou 17 anos no Caderno Ela, do Globo.

‘Quando mudei para assessoria, vi que o trabalho jornalístico continuava na mesma intensidade. No meu primeiro dia como assessora, não me senti fora de uma redação. Às vezes, é até maior’, diz Heloisa, que cobriu Fashion Rio e SPFW para o G1. ‘Há ainda um preconceito nas redações, mas assessoria de imprensa é fundamental. É uma parceria com o jornalista’.

Um caminho para os interessados em ingressar neste nicho cada vez mais crescente são os cursos. Em São Paulo, o Senac oferece curso de Assessoria de Imprensa de Moda, mas novas turmas só devem ser formadas no fim do ano. No Rio, uma opção é o curso do Senai/Cetiqt.

Depois é encontrar o seu espaço. ‘Tem muita gente fazendo moda, mas há ainda poucos fazendo comunicação. Há espaço’, avisa Alice. ‘Quando a TNT começou, há 12 anos, tinha dois concorrentes diretos. Hoje são 40. E assessorias informais conseguem ‘abiscoitar’ marcas pequenas. O mercado está quente’, informa Thereza Duarte. ‘Moda tem uma só dela: muda tudo de seis em seis meses. Não há monotonia e sempre se cria espaço’, diz.’

ELEIÇÃO NA FENAJ
Comunique-se

C-se promove debate entre chapas da Fenaj, 21/06/07

‘O Comunique-se inicia aqui um debate entre as chapas que concorrem às eleições da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), que serão realizadas nos dias 16, 17 e 18/07. A proposta do portal é encaminhar as mesmas perguntas para representantes das duas chapas (Chapa 1 – Orgulho de ser Fenaj e Chapa 2 – Luta, Fenaj) e publicar as respostas lado a lado.

A intenção das perguntas desta que é a primeira da série é justamente ser o mais abrangente possível, oferecendo aos entrevistados ampla possibilidade de resposta para que os leitores possam tirar suas conclusões sobre o perfil das chapas. A ordem das respostas foi decidida por sorteio realizado pela redação. Sérgio Murillo, candidato à reeleição na presidência da entidade, responde pela Chapa 1, enquanto as respostas da Chapa 2 são assinadas pelo coletivo que a compõe.

Todo jornalista sindicalizado há mais de três meses e com os compromissos quitados com seu órgão de classe pode participar das eleições. A votação poderá ser realizada nos sindicatos ou por meio de urnas volantes que percorrerão as redações.

Abaixo, seguem as perguntas e respostas.

Comunique-se – Por que disputar as eleições da Fenaj? O trabalho não é pouco e não está exatamente recheado de glórias pessoais. Por que fazê-lo?

Chapa 2- Porque é preciso mudar o estado de coisas na Fenaj. Porque não é mais possível suportar a intimidação patronal nas redações, as degradantes condições de trabalho, os baixos salários, o desmantelamento da nossa profissão. Porque nós, da Chapa 2, entendemos que o engajamento pessoal nas causas sociais, políticas e sindicais é necessário – com independência em relação a partidos, a governos e a patrões. Seria muito cômodo delegar a terceiros certas tarefas que, como vocês afirmam, não estão recheadas de glórias pessoais, mas de muito trabalho, incertezas, problemas. Nós da Chapa 2 preferimos enfrentar esse desafio e honrar nossas convicções, ao invés de cair na acomodação e no negativismo.

Chapa 1 – Represento um projeto coletivo construído com a participação de praticamente todos os sindicatos de jornalistas do País. Temos compromissos históricos com as lutas e os interesses da nossa categoria. Além do mais, é uma honra imensa dirigir uma entidade com a representatividade e o respeito que tem a FENAJ.

2- Qual é o principal vício a ser combatido no jornalismo brasileiro, assumindo o significado mais amplo possível para o termo?

Chapa 2- Esta é uma pergunta de natureza muito ampla e que permite diferentes respostas. Talvez seja mais adequado falar-se em vícios, assim no plural. Esses vícios têm origem, em sua maior parte, no fato de os principais meios de comunicação no Brasil pertencerem a um seleto grupo de grandes empresários; e na arrogância destes, que editorializam ao máximo o conteúdo jornalístico de seus jornais, revistas e emissoras. A produção do noticiário é condicionada, assim, por uma série de fatores, a começar pelo reduzido número de fontes de informação, quase sempre as que têm afinidade política e ideológica com os donos do veículo. Neste contexto, a autonomia do jornalista, sua condição de trabalhador intelectual, freqüentemente é desrespeitada. A democratização da comunicação social no Brasil é, portanto, uma de nossas grandes bandeiras. Defendemos a expansão da mídia pública, combatendo, também nesta, a possibilidade de manipulação, pelos poderosos, da informação que deve se apresentar limpa, abrangente, precisa.

Chapa 1- A falta de reportagem e, naturalmente, de repórteres. As empresas, por causa de erros administrativos, na crise econômica prolongada que atravessamos, demitiram em massa, atingindo principalmente o pulmão do bom jornalismo: a reportagem. É muito comum encontrar jornais repletos de colunas de opinião e releases de assessorias. Com a ausência de repórteres e estrutura para o trabalho dos jornalistas, impera o opinianismo e o jornalismo das fontes oficial. Perde a profissão e, principalmente, o cidadão que tem o direito de ser bem informado.

Comunique-se – Como sua chapa vê os cursos de graduação em jornalismo no país? Para além da questão do diploma, até que ponto a Fenaj deveria interceder pela qualidade do ensino?

Chapa 2- Há uma proliferação de cursos, muitos dos quais não oferecem a qualidade necessária à formação de bons profissionais. A Fenaj deve cobrar do MEC que exija das escolas e faculdades que garantam essa qualidade, seja por meio da existência de bons laboratórios de jornalismo, seja pela manutenção de corpo docente preparado e qualificado, seja pela oferta de um leque de disciplinas que compreenda uma ampla formação humanística. O item 17 de nosso Programa, intitulado ‘Efetiva fiscalização do MEC sobre as escolas de jornalismo’, é claro quanto a isso: ‘O Ministério da Educação tem a obrigação de fiscalizar as instituições de ensino superior para que ofereçam cursos de jornalismo com a devida qualidade e os laboratórios necessários à apropriada formação de jornalistas.’

Por outro lado, há um potencial para todos os jornalistas formados, pois apenas 10% dos cidadãos têm acesso a jornais, e a grade de emissoras de rádio e televisão ainda se ressente de mais informação jornalística. Além disso, há possibilidade de vasta ampliação da mídia pública. A democratização dos meios de comunicação e o combate ao oligopólio, a valorização da comunicação comunitária e social, são medidas que ampliam a possibilidade de criação de milhares de postos de trabalho. Como a política de comunicação está errada, os empregos minguam. O número de faculdades não corresponde ao mercado de trabalho real. Precisamos discutir com o MEC essa realidade, pois atualmente os recém-formados não encontram emprego e são utilizados para pressionar os veteranos a aceitarem jornadas maiores e salários menores, até porque falta um trabalho de conscientização também dos jovens jornalistas para que não aceitem condições aviltantes de trabalho.

Chapa 1 – Desde o início do século 20, os jornalistas brasileiros perceberam que o jornalismo tem um ethos próprio e que para exercer a profissão é preciso mais do que talento para a escrita e boa vontade. A categoria pediu a exigência da formação de nível superior específica para o exercício da profissão e o jornalismo brasileiro mudou para melhor depois que ela tornou-se lei, com a regulamentação da profissão, em 1969. Estranhamente, a regulamentação da profissão e a exigência da formação de nível superior específica passaram a ser questionadas política e judicialmente. Mas a FENAJ, a maioria dos Sindicatos e os jornalistas que integram a chapa Orgulho de ser FENAJ têm a convicção de que a exigência da formação específica para o exercício da profissão contribui para a qualificação do jornalismo brasileiro e democratiza o acesso à profissão. Ao contrário do que ocorria no passado recente, quando se tornava jornalista quem era parente ou amigo de dono de empresa jornalística, os cursos de Jornalismo ou de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo permitem o ingresso mais justo na profissão. A FENAJ e a maioria dos Sindicatos dos Jornalistas têm lutado pela melhoria da qualidade do ensino de jornalismo no País. Atua em conjunto com entidades do campo do ensino, como o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), com ações e campanhas para qualificar não apenas a formação e a pesquisa em jornalismo, mas toda a educação superior. Combate a criação de cursos seqüenciais de jornalismo e também os tecnológicos e os demais cursos de curta duração que tenham o objetivo de substituir a graduação. Tem ainda buscado interlocução com o Ministério da Educação para opinar sobre diversas questões que dizem respeito ao ensino do jornalismo, à avaliação dos cursos existentes à abertura de novos. A FENAJ teve a ousadia de propor um programa permanente de qualidade do ensino e de discuti-lo democraticamente com a comunidade acadêmica e com o empresariado. O Programa de Qualidade de Ensino (parceria com a Intercom, a Enecos, a Compós e o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo), completa 10 anos de formulação neste 2007. É um patrimônio de todo o campo do Jornalismo. Além de se preocupar com a formação do jornalista, a chapa Orgulho de ser FENAJ propõe-se a seguir o caminho apontado pela atual direção e a continuar a investir na qualificação dos profissionais. Como nas demais profissões, o jornalista qualifica-se para o exercício profissional com o curso superior, mas necessita de requalificação ao longo de sua carreira profissional. Neste exato momento estamos dando mais um passo importante na luta por um ensino de qualidade. Em cooperação com o Conferp (Conselho Federal de Relações Públicas) vamos promover um fórum no próximo dia 28, com a participação de diversas entidades da comunicação, justamente para formar uma agenda comum em defesa da qualificação do ensino de comunicação no Brasil.

Comunique-se – O jornalista brasileiro é pouco interessado na atividade sindical, boa parte dos profissionais não se sente representado pelas entidades de classe. Como a Fenaj pode reverter este quadro?

Chapa 2- Este quadro não depende exclusivamente da Fenaj. A apatia dos trabalhadores brasileiros em geral (e não apenas os jornalistas) foi um produto da chamada ‘onda neoliberal’, que destruiu direitos, atacou os sindicatos como algo ultrapassado, e gerou enorme desemprego, atemorizando aqueles que conseguiram permanecer empregados. Mas a Fenaj pode, sim, dar passos importantes para fazer reduzir a distância entre os jornalistas e as suas entidades sindicais. Para começar, ela precisa atuar efetivamente como coordenadora das lutas da categoria. Os patrões, com suas redes e sucursais, estão presentes em boa parte do território nacional, ao passo que os sindicatos lutam dentro dos limites de suas bases territoriais. A Fenaj, unificando lutas dispersas, dará mais força às reivindicações da categoria. A entidade também tem a obrigação de socorrer os sindicatos menores, auxiliando-os em suas demandas e valorizando, com isso, os jornalistas das médias e pequenas localidades ou dos Estados mais pobres.

Recolocar as lutas específicas dos jornalistas brasileiros como parte das lutas pela liberdade de expressão, pela afirmação da comunicação como atividade de caráter social; superar o atual isolamento dos jornalistas em relação aos demais trabalhadores em comunicação social; tecer uma rede de apoio social à luta por informação precisa e abrangente; transformar a Fenaj em uma voz forte e, principalmente, uníssona, dos jornalistas brasileiros, mediante consultas regulares a todos, são também medidas que motivariam a categoria a participar das entidades sindicais.

Chapa 1 – Taí outro vício do jornalismo: Afirmações peremptórias sem qualquer comprovação. Temos um dos mais altos índices de filiação – mais de 40%. Entre as categorias representadas pela CUT, a média não passa de 30%. Os jornalistas têm orgulho de pertencerem aos Sindicatos. É claro que também sofremos os reflexos de um modelo ideológico e econômico que aposta na individualização e na fragmentação das profissões. Estamos especialmente preocupados com o ‘envelhecimento’ das nossas entidades. Contaminados por essa ideologia individualista e, amedrontados pela ‘democracia’ dos nossos patrões, os jovens jornalistas têm enorme resistência de participar do movimento sindical. Estamos conscientes deste problema e adotamos políticas de aproximação com as escolas para reverter essa tendência.

Comunique-se – Uma das exceções que confirmam essa regra foi o natimorto projeto do Conselho Federal de Jornalismo. Calorosas manifestações foram ouvidas dos dois lados, mas a troca de idéias e o debate de fato foi superficial. Qual é a posição de sua chapa sobre a regulamentação da atividade jornalística pelo Estado?

Chapa 2- De fato, o debate tem sido insuficiente, e muito envenenado por posições hipócritas dos proprietários dos meios de comunicação, que não desejam submeter-se a qualquer tipo de controle social. Por isso acreditamos que é preciso realizar um Plebiscito sobre o assunto, que seja precedido de um amplo debate. Neste Plebiscito os jornalistas – após ouvirem as diferentes posições, que precisam ter assegurado o direito à livre manifestação – poderão votar e dar sua opinião sobre o projeto do CFJ. A verdade é que, embora o projeto do CFJ tenha sido aprovado em um congresso da categoria, até o presente momento os jornalistas brasileiros não o conhecem bem, e a proposta atualmente defendida pela direção da Fenaj, formulada em colaboração com a OAB, é bem diferente da versão original.

A atual direção da Fenaj é fechada a qualquer colaboração crítica. Pretender debater qualquer questão relativa ao CFJ torna o interlocutor um ‘traidor’, na concepção da atual diretoria. O atual presidente, em debate virtual disponível no sítio da Fenaj, disse textualmente que a Chapa 2 deveria assumir sua posição contra o conselho. Reafirmamos que não somos contra o CFJ, mas não aceitamos o espírito de seita da direção com relação a esse assunto. Há questões que precisam ser esclarecidas. Por exemplo: a relação entre conselho e entidades sindicais (os sindicatos e a própria Fenaj); a questão do financiamento; os poderes do órgão e os critérios do exercício desse poder. São todas questões relevantes e os jornalistas não as debateram suficientemente. Os jornalistas precisam ser ouvidos, até para conhecer a proposta, pouco difundida e assimilada. Parece que a direção da Fenaj tem medo de perder suas posições com a abertura do debate. Prefere acusar indevidamente seus críticos.

Chapa 1- A pergunta já carrega um enorme preconceito em relação ao projeto. Não foram ouvidas ‘calorosas manifestações’ dos dois lados. Só um lado falou. O debate público foi abortado pelos donos da mídia e seus arautos. O projeto da FENAJ estava no parlamento para a discussão e aperfeiçoamento. Foi rejeitado por imposição das empresas, sem qualquer audiência pública. A tradução do espírito democrático dos barões da mídia. Causa espanto à grande parte da sociedade brasileira o fato de os jornalistas não terem um conselho profissional, a exemplo de outras categorias, como os médicos, engenheiros, advogados e tantos outros. Os jornalistas brasileiros têm sua profissão regulamentada, mas não têm um órgão autônomo para fazer valer em todo o País essa regulamentação. O que se vê é um total desrespeito ao que determina a lei e a incapacidade das Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) de atender aos pedidos de fiscalização encaminhados pelos Sindicatos dos Jornalistas. Os jornalistas que integram a chapa Orgulho de ser FENAJ defendem a manutenção da regulamentação da profissão, com a exigência da formação de nível superior específica para o exercício profissional e com a criação do Conselho Federal dos Jornalistas (CFJ). Entendemos que a organização dos jornalistas (independente do Estado, que atualmente é o responsável pelo registro profissional) em seu conselho profissional é a garantia da autonomia da categoria, da defesa das prerrogativas dos profissionais no exercício da profissão e da defesa dos princípios éticos do jornalismo.

Comunique-se – Qual seria o modelo ideal de Federação de Jornalistas do Brasil?

Chapa 2- A Fenaj tem uma característica democrática, que é a eleição de sua diretoria pelo voto direto dos jornalistas filiados. Esse é um atributo muito importante e que deve ser mantido. No entanto, as eleições envolvem um número relativamente pequeno de jornalistas, porque os sindicatos filiados à Fenaj têm atualmente um baixo número de jornalistas sindicalizados. A Fenaj precisaria mudar no sentido de chegar até a base da categoria, e fazer-se mais conhecida por seus méritos como entidade representativa. Isso exige uma grande dose de democracia, que pressupõe a democratização dos sindicatos filiados e uma abertura maior às críticas e contribuições dos diferentes setores da nossa categoria.

Entre as mudanças necessárias na estrutura da Fenaj, apontamos duas, que constam de nosso programa: a) adoção da proporcionalidade na composição da diretoria, ‘permitindo-se com isso a participação, nos rumos da entidade, dos diferentes grupos de jornalistas que venham a disputar suas eleições’. Assim, caberia ‘a cada chapa inscrita que obtenha pelo menos 10% dos votos o mesmo percentual do número de cargos, garantidas as aproximações matemáticas, tendo preferência na ordem de escolha a chapa mais votada, em seguida a que obtiver mais votos em segundo lugar e assim sucessivamente’; b) levando em conta o princípio da renovação, que também é essencial à democracia, assumimos o compromisso público de lutar para modificar o Estatuto da entidade, de modo a não mais permitir reeleições consecutivas infinitas para os cargos de direção, inclusive por meio da troca de cargos entre as mesmas pessoas. Em resumo: não basta haver eleição direta. Tem que prevalecer a postura democrática.

Chapa 1 – Confesso que não entendi bem a pergunta. Se é sobre o aspecto sindical, temos atualmente um excelente modelo de organização. A FENAJ congrega todos os sindicatos de jornalistas do País e se orgulha de sua gestão democrática. Somos a única federação nacional de trabalhadores a fazer eleições diretas (com o voto de cada jornalista brasileiro) para eleger sua diretoria e sua Comissão Nacional de Ética; a diretoria submete as principais questões e decisões ao Conselho de Representantes, instância deliberativa formada por um representante de cada sindicato; mantemos ainda a tradição democrática de realizar congressos nacionais de dois em dois anos para debater os problemas da categoria e da comunicação, nos quais são traçadas nossas estratégias e definidas as ações prioritárias; fazemos a interlocução permanente com outras entidades do campo democrático; atuamos nas esferas de participação da sociedade como é o caso do Conselho de Comunicação Social; participamos ativamente das discussões e mobilizações nacionais, como estamos fazendo agora pela derrubada da Emenda 3 etc etc,etc… No entanto, também lutamos por um outro modelo sindical que preveja a unificação dos trabalhadores em empresas de comunicação. Há muitos anos iniciamos a discussão sobre a reforma sindical brasileira. Temos como objetivo estratégico, deliberado em congressos da categoria, a construção de sindicato único por ramo de produção.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Entrevista, agora, é só por e-mail?, 21/06/07

‘Não sou Forrest Gump, mas também acho que a vida é uma caixinha de surpresas. Minha caixa de e-mails é um bom exemplo.

Chega esta época do ano e começam a pipocar pedidos de entrevistas para monografias e trabalhos de faculdades de Comunicação. Normal. Fico lisonjeado com os pedidos e um pouco atrapalhado para responder tantas perguntas, a bem da verdade.

Nunca surgiu uma pergunta sequer, entre todas as que me fizeram, que fosse boba, superficial ou descabida. O que é uma vantagem e tanto se comparado à minha época de PUC, quando cometíamos barbaridades e condenávamos ao sofrimento – e ao riso, sejamos sinceros – boa parte das vítimas, err, entrevistados…

A questão, cada vez mais, é o conteúdo dos e-mails que chegam. O que deveria ser apenas um pedido de entrevista virou… uma entrevista completa!

Algum problema? Sim, vários.

Em primeiro lugar, há uma tremenda falta de orientação por parte dos professores. Como eles deixam que um dos principais elementos da apuração, a réplica instantânea, se esvaia na facilidade do envio de uma mensagem à distância?

Uma boa entrevista conta com a observação do jornalista, e o raciocínio a partir do que é dito pelo entrevistado. Todos sabem que as entrevistas mais marcantes são boas conversas, ‘papos entre amigos’ que resultam em informações relevantes, recheados de revelações ou curiosidades que garantem a atenção de quem as lê, ouve ou assiste.

Como um professor autoriza – ou até recomenda, como já vi – entrevistas por e-mail, fatalmente unilaterais?

Para piorar, há a atitude dos alunos. A questão não está apenas em enviar perguntas por e-mail. Muitas vezes, não são duas ou três. Dez é um número muito comum. Já cheguei a receber quinze perguntas. Por um lado, entende-se: o solicitante quer que o seu trabalho saia completo, bem-feito. Por outro, Jesus, eu não teria tanta cara-de-pau.

Se eu recebo uma lista de perguntas, preciso dedicar um tempo para respondê-las. Como serei eu a redigi-las, e na maioria das vezes o que respondo será reproduzido ipsi literis, não existe o ‘responder rapidinho’. Até porque a maioria das questões não é de ‘sim’ ou ‘não’. Em suma, preciso parar minha vida para respondê-las, mesmo que seja por meia hora.

Fossem as solicitações do tipo três ou quatro perguntas, até vai. Mas dez? Quinze?

Este ano, os pedidos passaram a chegar com uma novidade. Ao invés de pedidos educados – que, graças a Deus, ainda é a maior parte – e prazos razoáveis para respostas, alguns dos que chegam vêm, digamos, ‘objetivos’ demais.

‘Bruno Rodrigues, estou fazendo o trabalho tal e gostaria que você respondesse às perguntas abaixo. Meu prazo é até às 17h de hoje. Obrigado’.

Ou seja, eu viro uma espécie de SAE (Serviço de Atendimento ao Estudante), e online! Uma coisa real-time, vapt-vupt, tipo jornalismo na internet, tá ligado?

Menos. Neste caso, peço que tenham um pouco de trabalho e me dêem uma ligada. Nunca deixo de protestar, ainda que delicadamente, e de fazer papel de professor. Explico que se o aluno pautar a atividade de apuração no envio de e-mails, no raciocínio do ‘não tenho tempo, o entrevistado que se vire’, o Jornalismo só tem a piorar, e muito. É como se cada um fizesse a sua parte, e para pior.

O pedido de entrevista por e-mail não faz parte do dia-a-dia das redações? Faz, sim, mas geralmente ele é feito a alguém que já se conhece, a alguém que quer, desesperadamente, ser personagem da sua matéria, ou a alguém que você já perguntou se é problema enviar as questões via internet.

Entrevista boa não é só aquela que precisa de ‘olho no olho’, como diz o clichê. Interação pode existir por telefone, por exemplo. Ou via MSN. Ou até, em ultimíssimo caso, em uma *troca* de e-mails – e nunca um ‘ping’ aqui, um ‘pong’ ali, e ponto final.

E você, concorda comigo, ou acha que é assim que a banda toca, agora?

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No dia 03/07, inicio mais uma edição de meu curso ‘Webwriting e Arquitetura da Informação’ no Rio de Janeiro. Serão cinco terças-feiras seguidas, sempre à noite. Para mais informações, é só ligar para 0xx 21 21023200e falar com Cursos de Extensão, ou enviar um e-mail para extensao@facha.edu.br. Até lá!

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Périplo pela informação, 19/06/07

‘Olá, amigos. Estamos às vésperas do Pan, e as redações começam a se incendiar com a finalização dos projetos de cobertura do maior evento esportivo da história do Rio de Janeiro, e um dos três maiores da história esportiva do Brasil. Como em qualquer redação, os preparativos vão ficando prontos e… um monte de coisas ainda faltam ser feitas. Vou me ater a uma delas, que particularmente vem me chamando a atenção: o registro de informações de Pan-Americanos passados.

Alguém já tentou levantar os recordes pan-americanos de modalidades como levantamento de peso, pentatlo moderno ou remo? Se tentou, vai entender bem o que eu estou dizendo. É um verdadeiro caos. Para início de conversa, a ODEPA (Organização Desportiva Pan-Americana) não tem um site oficial. Ou seja, as informações devem estar nas confederações nacionais ou nas federações esportivas, certo? Não, claro que não…

A maioria das confederações brasileiras não possui essa informação à disposição de quem as acessa (honrosas exceções à natação e ao atletismo, que possuem sites excelentes, funcionando como ótimas fontes de consulta), dificultando o trabalho de pesquisa. Passa-se, então, para o telefone.

Diversos esportes, como ciclismo, remo e outros não têm, mesmo em suas confederações, nenhum registro dos melhores tempos de seus atletas nas diversas modalidades que compõem o esporte. Conversando com um técnico, ouvi o seguinte desabafo: ‘Tenho vergonha de pertencer a um esporte cuja confederação não tem sequer os recordes brasileiros para passar à imprensa justamente na hora em que estaremos em evidência, que é no Pan. Este mesmo técnico se comprometeu a enviar os dados corretos.

Pelo visto, o Pan vai mostrar muito mais do que festa e alegria: mostrará um país absolutamente despreparado para lidar com o esporte, seja em que nível for. Salvo, claro, exceções como natação, atletismo, vôlei e poucas outras.

E ainda querem uma Olimpíada verde-e-amarela…

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Monstruosidade humana!, 21/06/07

‘Armar o bote na tarde

de olho na estrada

e na morte

(Nei Duclós in Novos Poemas)

Monstruosidade humana!

O considerado José Guido Fré, jornalista paulistano e contumaz municiador desta humilde coluna, passeava o arguto olhar pelo portal Terra quando encontrou esta obra-prima da monstruosidade humana:

EUA: professora que engravidou aluno é condenada.

Impressionadíssimo, Zefré garante que começou a ficar assustado com as coisas que acontecem com o pessoal da parte de cima do Equador:

‘Pensei que o filme de ficção do governador brutamontes da Califórnia tinha se transformado em realidade!’

E, desgraçadamente, o texto não esclarecia tão grande fealdade:

Uma ex-professora substituta de uma escola de Cleveland, nos Estados Unidos, foi condenada a três dias de prisão e cinco anos de condicional por ter mantido relações sexuais com um aluno de 17 anos há três anos. Christine Scarlett, 40 anos, recebeu a acusação de agressão sexual e disseminação de material obsceno à juventude.

(…) Christine tem três filhos, dois do seu casamento e um da relação com seu ex-aluno Steven Bradigan, que hoje tem 22 anos.

Zefré concluiu que tudo aconteceu pela ausência de preposição; o título seria, então, professora que engravidou DE aluno é condenada, porém Janistraquis não se convenceu totalmente:

‘Considerado, pode até ser que nosso leitor tenha razão, mas o texto não esclarece se Steven Bradigan, hoje com 22 anos, foi ou não engravidado pela professora; e como sabemos que tudo pode acontecer na pátria de ‘ET’ e ‘Guerra nas Estrelas’…

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História da República

O considerado JPH (não é menor de idade, só não quer aparecer e odeia pseudônimos, confessa), pois JPH, empresário em Santos, enviou excerto de matéria do jornal Valor Econômico, no qual abrigava-se esta preciosidade:

País vive melhor momento desde a proclamação da República, diz Lula.

BRASÍLIA – O Brasil vive o seu melhor momento econômico desde que a República foi proclamada. A avaliação é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em seu programa de rádio ‘Café com o Presidente’ de hoje, disse que ‘finalmente’ o país conseguiu combinar estabilidade econômica com crescimento.

JPH disse que, em manhã certamente desmareada por ressaca daquelas brabas, a fala presidencial deixa amargor na boca de qualquer um, como café sem açúcar:

É muito descaramento desse homem! A gente lê, escuta e vê na televisão imagens de um país miserável e corrupto e ele vem com uma dessas!

É mesmo, JPH, é mesmo, porém o que impressionou Janistraquis foi Lula ser tão versado em História da República.

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Nei Duclós

Leia no Blogstraquis a íntegra de Tocaia, um dos novos poemas desse sempre inspiradíssimo poeta-guerreiro, que tem os olhos no mundo e cabelos ao sopro do vento aragano.

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Morrer de novo

Deu na apreciada seção Erramos, da Folha de S. Paulo:

COTIDIANO (13.JUN, PÁG. C4) Por erro da Redação, parte das notas de falecimento e de missas publicadas na edição de 12/6 foi repetida na edição de ontem. Leia na seção ‘Mortes’ de hoje as notas de falecimento que deixaram de ser publicadas.

Aliviado, Janistraquis exalou:

‘Ainda bem, considerado, ainda bem! Vi numa das notas o nome de um velho amigo e achei que ele tinha morrido duas vezes…’

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Problema é o pé

Lia-se na utilíssima seção Consumo (cidadesua@uol.com.br), da Folha de S. Paulo:

Leitor reclama de chuteira que abriu após três meses de uso

Luiz Ricardo Jacintho comprou uma chuteira da Adidas, modelo F50, para praticar futebol soçaite. Ele joga duas vezes por semana e disputa campeonatos.

Com menos de três meses de uso, porém, a chuteira começou a se desfazer, diz Jacintho. Apareceu uma abertura do lado esquerdo em um dos pés, a palmilha ‘esfarelou’, e o pano, com o símbolo da marca, soltou-se.

Janistraquis, que nos tempos de menino foi um ponta-direita ensaboado, de tão liso, garante que a culpa não é da chuteira:

‘Considerado, quando a perna é de pau, a falta de jeito entorta o pé e o peso do corpo se encarrega do resto; e se, além disso, o obstinado também é cabeça-de-bagre, esta costuma pender para um lado e assim não tem chuteira que agüente!’

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Microfone aberto

O considerado Juarez Medina Pires, analista financeiro em São Paulo, enviou notícia das agências internacionais, notícia abrigada sob o título Jornalista é demitida por comemorar morte de deputado:

Beirute — A jornalista Sawsan Darwill, apresentadora de um dos mais populares telejornais do Líbano, foi demitida porque, num intervalo do programa, festejou o assassinato de um deputado anti-Síria e ainda revelou que torce pela morte de um ministro. Acontece que os microfones estavam ligados, todos escutaram as palavras de Sawsan e o dono da emissora, Nabih Berri, que é presidente do Parlamento e líder da oposição favorável à Síria, achou melhor demitir a moça para não passar recibo de amigo de terroristas.

Juarez enviou a notícia como exemplo de azar, caso mais ou menos parecido com aquele episódio protagonizado pelo ministro Rubens Ricúpero na Rede Globo, em 1994, porém Janistraquis considerou grande injustiça a demissão de Sawsan Darwill:

‘Ora, considerado, ninguém pode perder o emprego por festejar o passamento de alguém, principalmente um deputado…ou senador.’

Em tese, a posição é correta.

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Registro

Janistraquis, que atualmente dedica-se à pesquisa sobre os arranca-rabos e cus-de-boi mais curiosos da História do Brasil, suspendeu o trabalho para me ditar esta frase lapidar, fruto de sua observação da cena política nos últimos cinqüenta anos:

‘Considerado, posso garantir que Tarso Genro é, apenas e simplesmente, a versão petista e sulina do nordestino e pessedista Armando Falcão. Sem algumas das qualidades deste, registre-se.’

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Thomas Traumann

A coluna cumprimenta o jornalista de Época pelo seu já indispensável boletim intitulado O Filtro. Trata-se, como o próprio Traumann anuncia, de um roteiro ‘do que há de mais revelante e original nos principais jornais do país. Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, este boletim irá mostrar como os principais acontecimentos podem afetar a sua vida.’

Janistraquis acorda com ele e dorme com ele. Refiro-me a’O Filtro, é claro.

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Esquisitices

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a falta de vergonha enxerga-se extenso capinzal lá pros lados de Sobradinho, onde pastam alguns bois de Renan Calheiros, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando implicou com algumas informações:

— A Torre Eiffel, em Paris, tem 300m de altura, o equivalente a um prédio de 75 andares, diz a notícia. Isso só seria válido se o pé-direito do prédio tivesse 4m. Como, em geral, os edifícios têm um pé-direito de três metros, a Torre Eiffel equivale a um prédio de 100 andares.

— A Muralha da China, ao contrário do que o jornal afirma, não está intacta. Boa parte dos 6.700km não existe mais.

— A ilha de Páscoa se situa a 3.600km do continente americano e não do continente chileno.

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Nota dez

Sob o título Mistérios Gozosos, o considerado mestre Sérgio Augusto, melhor jornalista cultural do Brasil, escreveu no caderno Aliás, do Estadão:

Está difícil relaxar e incutir otimismo num país corroído por uma avacalhação aparentemente incurável, terminal. Temos um ‘rei’ que optou pela censura; um presidente que optou pela gafe; um Congresso inclinado a dar mais um golpe na vontade popular (desta vez impondo a ditadura do caciquismo partidário, mediante a adoção do voto em lista fechada); e um candidato às Sete Maravilhas do Mundo entregue às baratas pela prefeitura carioca.

Leia no Blogstraquis a íntegra desse artigo deverasmente avassalador.

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Errei, sim!

‘REFLEXOS DE DOR – Título da seção Filmes na TV, do Caderno 2 do Estadão: Pecados de Houston são reflexos de dor num olho dourado. ‘Que poético, considerado; que poético…’, extasiou-se Janistraquis, diante desta canhestra tentativa de plágio.’ (agosto de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livro livros, dos quais três romances. O mais novo é ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

MERCADO EDITORIAL
Wilson Baroncelli

CBM terá sede em São Paulo e estuda lançar jornal em Brasília, 20/06/07

‘Há cinco meses atuando como diretora de Comunicação Corporativa do Grupo CBM – Companhia Brasileira de Multimídia, para onde foi a convite do empresário Nelson Tanure em janeiro deste ano, Maria Amalia ‘Maya’ Bernardi só agora vai montar sua equipe. A razão é que, mal entrou, ficou responsável por procurar um prédio para abrigar a sede e reunir as operações da CBM em São Paulo. Encontrou e assinou contrato na última semana com um vistoso prédio de 17 andares das Organizações Mofarrej no centro nevrálgico da cidade, a av. Paulista, no nº 402, esquina com a rua Carlos Sampaio. O edifício só não vai abrigar a operação da TVJB porque esta está instalada em Alphaville, na produtora do Gugu. A reforma para adaptar o prédio da Paulista às necessidades da CBM começará a ser feita imediatamente e também está a cargo de Maria Amalia. A mudança será no fim de setembro. Tarefa cumprida, ela agora parte montar sua equipe, que por enquanto tem só o publicitário Marcelo Cosi como gerente. Mas além de gerir as áreas de relações com a imprensa, relações públicas, comunicação interna e comunicação institucional, cabe a Maria Amalia cuidar da integração entre as pessoas, empresas e negócios da CBM. Segundo ela, este foi um pedido especial de Tanure.

J&Cia apurou que a CBM estuda lançar um jornal destinado ao público A/B da Capital Federal. Há até um nome provável para tocar o projeto: Carlo Iberê, que já começou na empresa, vindo da CNI, onde era gerente de Comunicação. A empresa confirma a intenção, mas informa que os estudos são ainda incipientes.

Paulo Markun já imprime sua marca na TV Cultura

Nem bem esquentou a cadeira de presidente da Fundação Padre Anchieta/TV Cultura, da qual tomou posse oficialmente no último dia 14, Paulo Markun tomou algumas medidas administrativas, operacionais e de programação que já dão uma idéia do que pretende em sua gestão. Na área administrativa, reduziu de oito para quatro as diretorias da FPA (Administrativa e Financeira, Marketing e Vendas, Engenharia e Produção), que trabalharão em sistema colegiado, dividindo as mesmas sala e infra-estrutura de apoio (secretárias e outras facilidades). Ainda nessa área, colocou à disposição da Produção os carros que antes eram de uso exclusivo de diretores, mandou fechar a portaria de entrada e saída para veículos da diretoria e o restaurante executivo, que era subsidiado pelo bandejão.

Em termos operacionais, criou nove núcleos de Conteúdo, coordenados por Pola Galé: Jornalismo, que absorve telejornalismo e documentários (o titular é Paulo Roberto Leandro, que também acumula inicialmente Cidadania e Serviços), Música (Fernando Faro), Arte e Cultura (Hélio Goldsztejn), Teledramaturgia (Jefferson Del Rios), Infanto-Juvenil (Âmbar de Barros), Educação (Fernando Almeida, que também é vice-presidente), Eventos e Publicações (Gabriel Priolli) e Rádio (a confirmar). A partir desses núcleos é que será montada e gerida a grade de programação, produto de discussões conjuntas. A criação desse sistema de núcleos permite a transversalidade de conteúdos, uma sinergia que antes não existia entre várias áreas de programação. Um exemplo disso são os boletins enviados por Ricardo Soares, diretamente da Colômbia, que já estão no ar nos telejornais da casa – ele é do núcleo de documentários e há alguns anos vem fazendo um trabalho sobre as FARC; outro exemplo é o que será a cobertura do Festival Literário de Paraty, onde estarão envolvidos os programas Roda Viva (Jornalismo) e Metrópolis, Vitrine e Entrelinhas (os três do núcleo de Arte e Cultura).

O novo presidente também tirou do ar o programa Sumo TV, da Cellcast, cujo contrato foi assinado nos últimos momentos da antiga diretoria – e que foi criticado pela mídia -, por inadequação à programação da emissora. Está sendo reativado o Teatro Franco Zampari, como centro de produção da tevê, que tem como primeiro evento um show em homenagem aos 80 anos de Fernando Faro, que vai ao ar nesta 5ª.feira (21/6). Outra novidade é o Portal Roda Viva, que conterá todos os programas transcritos, resultado de acordo firmado com a Fapesp.

Definida a programação da Rede Pública de TV. Empregados da TVE fazem campanha para que o Rio seja a cabeça de rede

Estréia em 13/8 a nova grade de programação das emissoras públicas de TV, reunidas após a fusão. Nela, haverá um jornal maior do que o existente hoje na TVE, em horário diferente do atual, com a ancoragem dividida entre dois apresentadores, no Rio e em Brasília. A TV Cultura deve participar com o programa Roda Viva. A partir de 2/12, com a entrada do padrão digital, a grade será refeita.

No Rio, a Associação de Funcionários da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto), que congrega servidores e celetistas da TVE e Rádio MEC, reuniu-se e elegeu representantes para acompanhar os trabalhos dos Grupos de Fusão estabelecidos pelo Governo Federal para definir as bases da emissora unificada. Iniciaram também uma campanha pela manutenção da marca TVE e da atual estrutura da TV no Rio.

No último dia 15, uma comissão de representantes do Sindicato dos Jornalistas e da Associação de Funcionários teve audiência com o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, que se comprometeu a apoiar a campanha. Antes disso, em 24/5, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Aziz Filho, reuniu-se em Brasília com o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, em busca de apoio semelhante. Ainda esta semana entra no ar o site www.tvpublicabrasileira.com.br, como reforço para a campanha, que conta com uma comunidade no Orkut. Os empregados têm o cuidado de não usar a máquina pública, fazendo tudo fora das emissoras, como pessoas independentes e nos seus horários de descanso.

A Acerp é uma Organização Social sem fins lucrativos, supervisionada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Congrega a TVE, com emissoras geradoras no Rio de Janeiro (778 pessoas trabalhando) e no Maranhão (219), além da Rádio MEC (104). Esta última deve se fundir com as emissoras da Radiobrás.

Santa Catarina

Em crise, O Estado circula só nos finais de semana

O tradicional jornal catarinense O Estado circulou pela última vez como diário neste final de semana. Em crise e paulatinamente definhando desde que a RBS começou a investir por ali (1986), esse que já foi o maior jornal de Santa Catarina, com uma circulação diária de cerca de 20 mil exemplares, ultimamente não tirava mais do que 5 mil, chegando quando muito a 7 nos finais de semana. Por conta disso, informou em nota oficial no último domingo (17/6), sob o título Sacrifício Inevitável, que estava suspendendo por tempo indeterminado sua edição diária, passando a circular somente nos finais de semana. ‘Os motivos que levaram a esta decisão são até certo ponto de conhecimento da sociedade catarinense’, informou a nota. ‘A implantação da medida, porém, só veio a ser posta em prática depois de muita reflexão, angústia e sofrimento. A resolução tornou-se inadiável.

As dificuldades que a empresa vinha enfrentando, representadas por um pesado passivo trabalhista e fiscal, praticamente inviabilizaram a edição diária do jornal já que não havia mais como compatibilizar o preço da crise com os custos operacionais, circunstância que gerou uma equação impiedosa’. Passivo, aliás, que vem de longa data, tanto que o empresário José Matusalém Comelli, dono do jornal, em 2000 foi condenado a cinco anos de reclusão por sonegação fiscal e apropriação indébita – dívidas com o INSS. No ano passado, o jornal tentou se reerguer, com a entrada de empresários locais como sócios, mas a estratégia aparentemente não deu resultado. Chico Alves, da SC Jornais, braço da agência de publicidade Central de Comunicação, que vinha respondendo ‘informalmente’ pela edição do jornal (este já não tinha mais redação própria), até o fechamento desta edição dizia não ter sido comunicado de como ficaria a situação. Consultado, tampouco o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina tinha informações sobre os seus desdobramentos. A única pista sobre o futuro de O Estado vem da própria nota oficial de domingo: ‘A medida que com tristeza ora anunciamos não será definitiva e durará pelo tempo que for necessário para o saneamento e recuperação da empresa de modo a preservar sua atividade econômica e sua função social’.

(*) Wilson Baroncelli é editor-executivo do informativo Jornalistas&Cia. Está escrevendo interinamente a coluna durante as férias do titular, Eduardo Ribeiro.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Pedrada no reino da Globo, 18/06/07

‘Ainda bem que era uma microssérie. A tortura foi um pouco menor. Tentei assistir a todos os capítulos com a maior boa vontade. Mas confesso que não resisti a tanta bobagem. A adaptação para TV de A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, exibida na semana passada pela Globo, é muito, muito, ruim. Muito, muito, chata. De duas, uma. Ou o jovem diretor Luiz Fernando Carvalho não entende nada de linguagem televisiva ou o pior, ele odeia o público e meio televisivo. Para ele deve ser realmente muito difícil, quase impossível, contar uma história de forma simples e clara. Assim como o herói Quaderno, ele também pretende ser o gênio da raça ao produzir a maior obra da TV brasileira. Não faz por menos. E como dizia a minha velha mãe: filho, pretensão e água-benta nunca são demais!

Luiz Fernando de Carvalho conseguiu o impossível. Fazer de um épico de Ariano Suassuna, um antiprograma de TV. Um programa que não dá para assistir. Os labirintos de uma obra difícil se tornaram becos sem saída que se perdem na incompreensão. Não é hermético para TV. É ruim na telinha ou na telona. Da parte do diretor, faltou humildade para contar uma boa história numa linguagem pertinente ao meio. Contar uma história que quase todos entendessem. Adaptar literatura para TV é difícil. Exige humildade, competência e talento. Assim como Quaderno, o herói da microssérie, o gênio da Globo insiste na construção da uma obra televisiva que ignora o público.

Responsável pelos projetos ‘cabeça’ na Globo, mais uma vez, Luiz Fernando Carvalho conseguiu a proeza de nos legar uma microssérie ainda mais incompreensível do que o Hoje é dia de Maria. No cinema, dirigiu Lavoura Arcaica, um dos piores filmes brasileiros que assisti nos últimos anos. Faz o mesmo gênero ‘é ótimo porque ninguém entende’.

Desastre anunciado

A crítica de TV que odeia TV adora tudo que o Luiz Fernando produz. Dizem que sua linguagem cinematográfica é boa demais para TV. Então a culpa é do meio. De qualquer maneira, apesar do fracasso de audiência ver A Pedra do Reino deixa Globo em terceiro lugar aqui), não faltaram elogios e explicações para as metáforas utilizadas pelo diretor. O problema é que metáfora que precisa de explicação na TV ou em qualquer lugar é uma péssima metáfora.

A baixa audiência também é justificada pelo mau gosto do público telespectador. Gentinha que não entende a ousadia de uma verdadeira ‘obra de arte’ para TV. A culpa é daquele mesmo telespectador que vive há muitos anos entorpecido e ‘emburrecido’ pelas mesmas novelas de sempre.

Dizem que é para ganhar prêmio e prestígio. Mas colocar no ar essas microcrises talvez tenha outra explicação. Agora podem alegar que o grande público é muito conservador, careta e que não gosta de boa literatura na TV. Gostam e querem novelas em todos os horários. Ninguém jamais culparia a incompetência do diretor na escolha de obras e na adaptação para TV.

Próxima vítima

Essa tal ‘estética hermética’ ou ‘narrativa não-linear’ tanto para a TV quanto para o cinema, não tem pé nem cabeça. Incompreensível é elogio. No reino de Luiz Fernando Carvalho nada faz o menor sentido. E o povo que não é bobo, mesmo o telespectador viciado em novelas da Globo, mudou de canal ou desligou a TV. Menos mal.

Não dava mesmo para assistir. Eu bem que tentei. Qualquer coisa, até mesmo filme non sense americano com uma tal Lara Croft no SBT ou novela ruim com muita violência na Record é melhor do que essa verdadeira pedrada no reino da Globo e do pobre do Ariano Suassuna. Ele não merecia.

Tenho certeza de que até mesmo o grande autor do Auto da Compadecia, o ilustre professor das maravilhosas aulas-espetáculo que lotam teatros por todo o Brasil, não conseguiu assistir ou entender essa proposta de TV para quem não gosta de TV.

Agora só nos resta aguardar a próxima ‘pedrada’ do genial diretor global contra a literatura brasileira na TV. Segundo o Projeto Quadrante da Rede Globo (ver aqui) uma das próximas vítimas será Capitu, de Machado de Assis. Ele também não merecia.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

COMUNIQUE-SE
Cassio Politi

Notícias importantes que o C-se não publicou, 25/06/07

‘Retorno após 15 dias de um descanso oportuno. E o que encontrei na semana passada foi um noticiário fraco no Comunique-se. É grande a quantidade de informações relevantes que passarama em branco. Listo abaixo matérias que li por aí, mas que não saíram no Portal.

* Fátima Bernardes saiu do ar durante o Jornal Nacional de terça-feira (19/06) porque passou mal. Tentou voltar no segundo bloco, mas saiu de novo. Em vez de William Bonner, foi Heraldo Pereira, de Brasília, quem fechou o telejornal com o tradicional ‘boa noite’. Publicada na coluna Zapping, a notícia foi líder de audiência da Folha Online na tarde de quinta-feira (21/06). O segundo lugar também ficou com uma nota sobre o caso, como mostra a imagem ao lado (clique para ampliá-la), extraída da home da própria Folha On-Line.

* Em seu blog, Mino Carta anunciava desde segunda-feira (18/06) que a CartaCapital publicaria um estudo do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), que sugere que O Estado de S.Paulo, O Globo e Folha de S.Paulo foram tendencisos (contra Lula) na cobertura das eleições de 2006. Estranhei que nada tivesse saído no Comunique-se ao longo da semana. Tive a esperança de que a redação estivesse estrategicamente preparando uma matéria especial para sexta-feira ou sábado. Doce ilusão. A revista foi às bancas e nada foi noticiado. A pesquisa dá margem a discussão, é claro. Uns podem concordar com os resultados, outros vão discutir a forma como foram tabulados. Alguém possivelmente criticaria o enfoque dado pela revista. Enfim, o debate seria ótimo, desde que o Comunique-se não privasse os leitores da informação.

* No blog Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim também abordou, desde o começo da semana, o assunto destacado por Mino, mas a redação não estava atenta.

* A jornalista Patrícia Maldonado trocou a Record pela Band. Ela apresentava o programa Tudo a Ver. Seu rosto se tornou figurinha fácil na tela da Record nos últimos anos. Saiu na Folha Online em 21/06.

* A pedido da Igreja Universal, o Canal Brasil foi impedido pela Justiça de exibir um documentário veiculado em 1989 pelo extinto ‘Documento Especial’ (ex-Manchete, SBT e Band). O documentário mostra os primórdios da igreja de Edir Macedo, com imagens de exorcismo e sacolas de dinheiro. Saiu na Folha de S.Paulo dia 15/06.

* A Editora Abril lançará uma nova revista, chamada ‘A Semana’, inspirada na norte-americana The Week. Foi o que informou o Meio & Mensagem Online em 18/05.

Slogan

Não basta dizer que o Comunique-se tinha o dever de noticiar isso tudo. Deveria trazer informações mais aprofundadas, pois Jornalismo é a sua especialidade. Aliás, deveria trazer ainda mais informações do que acontece nas redações e no mercado.

Mais ou menos 12 anos atrás, o Estadão criou um slogan. Peço licença para pegar a frase emprestada: ‘Está faltando assunto? Leia o Estadão’. Não apenas o Estadão, mas todos os jornais, revistas, sites e blogs. Assista aos telejornais e ouça rádio. O mínimo que se espera de um veículo especializado é que preste muita atenção aos temas que cobre. Já imaginou um cronista esportivo que não assiste a nenhum jogo? Já pensou num crítico de cinema que deixa de assistir aos filmes?

Foco

Houve uma confusão editorial na matéria ‘Youtube brasileiro divide audiência entre filmes domésticos e profissionais’ (20/06). Nada se fala sobre a participação do jornalismo no novo YouTube. Das duas, uma: ou a apuração foi feita pela metade ou a linha editorial mudou. Será que o Comunique-se trará o resumo das novelas na semana que vem?

Haja tempo

A reportagem ‘Comunique-se promove debate entre chapas da Fenaj’ (21/06) talvez não seja digna de receber o Prêmio Esso. Mas poderia ser inscrita no Guiness Book, o livro dos recordes. Foram 3.007 caracteres em um mesmo parágrafo. Acredite: 50 linhas em apenas um parágrafo.

Haja paciência

O nariz-de-cera é candidato a virar padrão no Comunique-se. Na matéria ‘Jornalista ameaçado fica sem proteção policial’ (15/06), a pergunta é: cadê a notícia? Está no quinto parágrafo.

A matéria ‘Blog Kibe Loco ironiza jornalista esportivo’ (13/06) começa assim: ‘O publicitário Antonio Tabet é famoso por incluir inúmeras figuras pouco conhecidas em seu blog Kibe Loco para produzir suas piadas e brincadeiras’. Como se não bastasse ser um nariz-de-cera, as informações são questionáveis. Tabet é famoso mesmo? Ou é o autor de um blog famoso? Além disso, o Kibe Loco não inclui apenas figuras pouco conhecidas. O presidente Lula, Ronaldinho Gaúcho, Daniela Cicarelli e tantos outros dividem espaço com ilustres desconhecidos, como o Jeremias Muito Louco.

Portal da Tarde

A atualização da home page do Comunique-se dá sono. A manchete de sexta-feira (15/06) ficou no ar até 11h40 de segunda-feira (18/06). Não haver atualização no fim de semana é até compreensível para um veículo especializado. Mas um site de atualização permanente acordar tarde, aí não dá.

E as outras?

Não é claro o critério de publicação de notas relacionadas ao mercado de comunicação empresarial, se é que existe critério. Aparece no canal Vaivém do dia 19/06 a nota ‘Mandarim Comunicação é a nova assessoria do CTE’. Excelente que o mercado receba essa informação. Mas quantas outras assessorias conquistam ou perdem novas contas todo mês e nada é publicado? O mercado de assessoria precisa entrar na pauta.

Assessorias

Eis que vem a manchete: ‘Agências voltadas para moda crescem e mostram que ainda há espaço no setor’ (22/06). Faltaram dados consistentes para mostrar que a realidade é a que o título sugere. O único dado da reportagem é: uma assessoria contrata 15 profissionais ‘temporariamente’ para o Fashion Rio. Isso representa um crescimento efetivo?

Até concordo com a linha da matéria, pois também tenho a percepção de que esse mercado ligado a moda está em crescimento. Mas só a percepção não basta: a reportagem perdeu a chance de comprovar, por meio de números, que há um efetivo crescimento.

Cassio Politi é jornalista. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net, e no site UOL News, do Portal UOL. Ministra cursos de extensão sobre Jornalismo On-Line e Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2 mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor de Cursos e Seminários.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Terra Magazine

Veja

Comunique-se

Carta Capital

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