Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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TV PÚBLICA
Antonio Brasil

A morte possível e anunciada da TV Brasil, 18/2

‘E a novela continua. Hoje, segunda-feira, o congresso brasileiro deve votar a medida provisória e misteriosa que criou a Empresa Brasileira de Comunicação e TV Brasil. Há grande expectativa na mídia, nos meios políticos e total indiferença dos principais interessados: o público brasileiro. Não fomos ouvidos ou consultados antes, durante ou depois da implantação desse megalomaníaco projeto salvador da TV brasileira. Mas, pra variar, de uma forma ou de outra, seremos convocados para pagar a conta do sucesso ou mais provável do fracasso dessa nova aventura. Com fundo ou sem fundo de telecomunicações, em verdade, tanto faz! O dinheiro acaba sempre saindo do nosso bolso.

Mas pelo andar da carruagem, o governo, mais uma vez, deve conseguir aprovar a medida com pequena margem na Câmara e ser derrotado no Senado. A história das últimas votações importantes do governo tende a se repetir. Ou seja, deve ‘mangabeirizar’ (neologismo para o fracasso da implantação do ministério para assuntos misteriosos do misterioso Prof. Mangabeira). O grandioso e igualmente misterioso projeto da TV Brasil pode naufragar nas próximas horas.

Na última semana, surgiram vários artigos na imprensas defendendo a necessidade da implantação ‘comme il faut’ da TV Brasil, o acerto da utilização de medida provisória e anunciando inclusive ameaças terríveis caso o governo seja derrotado. Para o ex-presidente da Radiobrás Eugenio Bucci:

‘Na hipótese de naufrágio da EBC, a TV Brasil poderá continuar suas transmissões abrigada pela velha Radiobrás – esta deveria ser extinta para dar lugar à nova empresa, mas se manteve em atividade. Assim, os que pretendiam derrotar a MP para forçar o fechamento da TV Brasil caíram do cavalo.’

Vocês entenderam a essência e a força do argumento? O ex-presidente da Radiobrás literalmente nos ameaça com a manutenção da velha empresa caso não a substituirmos pela EBC. Ou seja, não há garantias concretas de que o país será melhor, se beneficiará da nova estrutura. Mas, certamente, estaremos muito piores, caso mantivermos a Radiobrás.

Pois eu arrisco uma solução. Por que não acabar de vez com a Radiobrás, uma empresa que o próprio ex-presidente concorda que deve ser extinta e aproveitarmos a oportunidade para ‘naufragar’ o mostrengo da EBC da TV Brasil? Aproveitaríamos o tempo para pesquisar, analisar e debater com a sociedade brasileira as nossas alternativas para uma TV pública de verdade.

Aproveito para indicar outra alternativa mais lógica e realista. Por que não utilizar os enormes recursos disponíveis para a EBC numa reestruturação das televisões públicas brasileiras que já existem como a TVE do RJ, TV Cultura de SP e as demais TVs públicas regionais? Concordo que temos que acabar com Radiobrás. Mas substituí-la simplesmente pela EBC, sem maiores discussões e debates pode ser ainda pior. Não perdemos nada com o fim da Radiobrás. Afinal, ela nunca existiu.

A televisão pública brasileira tem muitos mistérios. Tudo bem. Sempre foi assim. Mas hoje cabe ao Congresso brasileiro evitar que o naufrágio da EBC se transforme na morte de um sonho. Não temos necessariamente que cair do cavalo. Devemos sim, apoiar e prestigiar o passado e a experiência das nossas TVs públicas. Elas podem ser limitadas, mas certamente ficarão muito piores com a EBC da forma como está sendo proposta.

Devemos sim, evitar a centralização de poder da TV pública brasileira em Brasília ou em qualquer outra parte do País. Devemos acreditar que uma TV pública de verdade, distante do governo, de qualquer governo e mais próxima do público é possível.

Mas pode não ser tão urgente e prioritária.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

 

Marcelo Tavela

‘Discussão sobre sede é irrelevante’, diz Tereza Cruvinel, 25/2

‘A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e o Centro de Informações das Nações Unidas (Unic) firmaram na segunda-feira (25/02) um acordo de cooperação, visando à troca de material e treinamento de pessoal das duas entidades. Após a reunião, parte da cúpula da EBC comentou episódios recentes relativos à empresa, como a discussão entre deputados sobre mudar a sede da emissora para Brasília. ‘Essa discussão é irrelevante’, disse Tereza Cruvinel, presidente da EBC.

Sede

No debate na Câmara, a discussão sobre o local da sede da empresa voltou à tona. ‘Essa discussão é irrelevante’, afirma a presidente sobre a aprovação da MP na Câmara. ‘Acho que as bancadas de Brasília e do Rio cometeram um equívoco. Há a falsa idéia de que, mudando a sede, leva-se a TV. Na prática, não muda nada’, continua. ‘A única coisa que muda é o foro. Não se vai levar a TVE para Brasília’, completa Orlando Senna, diretor-geral da EBC.

Tramitação da MP

‘Consideramos todas as contribuições do deputado (Walter) Pinheiro (relator da MP) positivas. As mudanças no conselho são legítimas, assim como a contribuição’, avalia Tereza sobre a criação da Contribuição para Radiodifusão Pública.

Para a votação no Senado, Tereza está otimista, mesmo esperando mais dificuldades. ‘A MP obteve 336 votos na Câmara, o suficiente para aprovar uma emenda constitucional. No Senado, não vai ser a mesma coisa, mas estamos confiantes. Teremos uma audiência pública amanhã’, diz.

Jornalismo e debate

Helena Chagas, diretora de jornalismo da empresa, disse que o jornalismo da TV Brasil completa uma ‘primeira fase’ em março, e implantará a próxima até julho.

‘O primeiro momento consistiu um colocar o Repórter Brasil [telejornal da emissora, com duas edições diárias] no ar. Tivemos um mês para isso, foi rápido e considero uma experiência bem sucedida. A segunda fase é aprimorar o Repórter Brasil e criar uma linha de programas de reflexão, com entrevistas e debates’, informou. ‘É o que chamamos de programas jornalísticos especiais’, definiu Orlando.

Correspondentes

Em março, a TV Brasil estreará seu primeiro correspondente fixo, em Angola, e há a expectativa de que até o fim do ano ter jornalistas na Argentina, Venezuela e Estados Unidos. ‘Tudo depende de orçamento. Com Buenos Aires e Caracas, teríamos alguém em cada ponta da América do Sul. E Estados Unidos tornou-se inevitável com as eleições’, diz Helena.

Programação e transmissão

Para o próximo mês, também é esperada a estréia de mais programas, mas ainda não haverá uma mudança total na programação. ‘Sempre dissemos que a TV teria uma renovação gradual, mediante a avaliação da grade atual. Não contávamos com o atraso das atividades do Congresso; esperávamos que a MP fosse votada no fim do ano passado. Sem a aprovação, é como se mover sobre areia movediça’, compara Tereza. ‘Até a identidade visual é provisória, e ainda não podemos abrir licitação para escolher a definitiva’.

Tereza sustenta que a grande renovação se dará com os programas independentes, mas que só terão impacto no próximo ano.

ONU e mais parcerias

A colaboração com a ONU possibilitará a EBC de usar conteúdo produzido pelo serviço de rádio e televisão das Nações Unidas. Já estão definidos o uso do programa ‘21st Century’ e ‘UN in Action’. Haverá produção de material conjunto, e o Unic participará do treinamento de profissionais da EBC para questões internacionais.

‘Carlos Júnior, o correspondente em Angola, já está escrito no curso de cobertura em áreas de guerra que estamos organizando com o exército’, acrescenta Giancarlo Summa, diretor do Unic.

Já há conversas para parcerias semelhantes com a PBS, a TV pública americana, com emissoras européias e africanas, como a Televisão Pública de Angola, que dará apoio a Carlos Alberto Júnior em Luanda.’

IMPRENSA NA JUSTIÇA
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Folha Universal dá destaque a declarações de Lula sobre ações da Iurd, 25/2

‘As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada sobre as ações de fiéis, pastores e da Igreja Universal contra três veículos e três profissionais de imprensa ganharam capa da Folha Universal desta semana. O jornal dedica a edição 829 à reação de Lula ao ser questionado sobre os processos. A manchete ‘Respeito’ vem acompanhada do texto ‘Guerra na Justiça de fiéis da Igreja Universal contra dois grandes jornais revela que o preconceito contra os evangélicos não acabou. E levanta uma questão: Em nome da liberdade de imprensa, até que ponto jornalistas podem agredir uma instituição religiosa?’ e a opinião do presidente sobre o caso.

A matéria intitulada ‘Imprensa tenta intimidar evangélicos’ trata do que o jornal define como ‘preconceito religioso’ da mídia com os fiéis da Universal. O personagem principal é Cláudio Bendia, corretor de imóveis que falou ao Domingo Espetacular do dia 17/02, em reportagem de mais de 14 minutos sobre as ações da Iurd contra a Folha de S. Paulo e à jornalista Elvira Lobato e os futuros processos que outros fiéis prometem entrar contra O Globo.

Como fez o programa da Record, a Folha Universal estimula os leitores a entender que a palavra ‘seita’, usada pelo Globo, é discriminatória, além de deixar claro que a Folha será alvo de novas ações nas próximas semanas.

‘Lula: quem escreve o que quer, ouve o que não quer’ utiliza a declaração do presidente a um repórter da Folha de S. Paulo sobre as ações.

O presidente não vê como uma ameaça à liberdade de expressão as ações movidas contra o jornal de São Paulo.

Na mesma página, um box chama a atenção para a tentativa da Folha de unificar as ações em um único processo, para facilitar a defesa, negada pela Justiça. Entretanto, não informa que, até agora, o jornal saiu vitorioso em sete ações movidas por fiéis.’

Folha vence sétima ação do caso Universal, 25/2

‘O jornal Folha de S.Paulo contabilizou na sexta passada (22/02) a sétima decisão favorável da Justiça sobre o caso envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Fiéis da Igreja e a própria instituição se sentiram ofendidos por uma reportagem da jornalista Elvira Lobato, ‘Universal chega aos 30 anos com império empresarial’ (para assinantes), de 15 de dezembro de 2007, dizendo que o dízimo dos fiéis era esquentado em paraísos fiscais, em referência à financiadora ligada à Universal, chamada Unimetro.

A Justiça tem argumentado que a jornalista não cita qualquer fiel em especial e que, se os religiosos viraram motivo de chacota em suas comunidades por causa da reportagem, a ação deveria ser movida contra estas pessoas e não contra a jornalista ou o jornal Folha de S.Paulo.

Entre as duas últimas decisões favoráveis à Folha está a do juiz Romário Divino Faria, de Tarauacá (AC). O juiz invalidou a ação do fiel Cléber Andrade dos Santos, com a argumentação de que ele não havia sido citado na matéria.

‘Em nenhum momento cita o reclamante (Cléber) na reportagem e que a ação é temerária, pois as reclamadas (Folha e jornalista Elvira Lobato) foram surpreendidas com o ajuizamento de mais de 45 demandas, distribuídas nos mais diversos rincões do país, questionando, sempre sob o mesmo e ilógico fundamento, a referida matéria e as petições com conteúdos idênticos, inclusive com o mesmo erro de interpretação da reportagem’, afirmou o juiz Divino Faria.

A outra ação indeferida estava no nome de Jackson Luiz Gonçalves, que pediu o direito reclamado em nome da Igreja. Como a Universal é pessoa jurídica de grande porte, não haveria como a ação ser arrolada em Juizado Especial de pequenas causas.’

LEI DE IMPRENSA
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Cristovam Buarque defende fim da Lei de Imprensa, 25/2

‘‘Temos que garantir toda a liberdade de imprensa e, ao mesmo tempo, a toda pessoa ofendida o direito de ir à Justiça, mas sem prender o jornalista.’ A declaração foi dada pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que defendeu, na semana passada, o fim da Lei de Imprensa.

Para o senador, a liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal, que suspendeu alguns dispositivos da Lei de Imprensa, não tira do jornalista qualquer responsabilidade no exercício da profissão, mas permite ‘que o ofendido reclame seus direitos na Justiça’.

O PDT, através do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), ajuizou ação no Supremo Tribunal Federal pedindo a revogação da Lei de Imprensa, datada de 1967. Um dia depois, o ministro Carlos Ayres Britto revogou, temporariamente, artigos da lei de 1967.

As informações são da Agência Senado.’

WEBJORNALISMO
Bruno Rodrigues

Para enfrentar o cliente, 25/2

‘Se o comércio eletrônico, até hoje, ainda é motivo de desconfiança, imagine a redação para a mídia digital.

Texto para a web? Besteira. É a velha história: pega-se este folheto ali, junta-se com uns textinhos prontos acolá, e está ótimo. ‘Para que um webwriter?’, pensam alguns (muitos). E olhe que estou sendo gentil. A pergunta real seria: ‘O que é mesmo um webwriter?’. Você, com certeza, já passou por isso.

O maior inimigo do redator online é o próprio cliente, ou aquele que você quer como cliente – o que fica mais complicado ainda quando o seu alvo é sua fonte de dinheiro. Mas há como se desviar destes problemas.

Abaixo, há cinco dicas preciosas que, é claro, não valem para velhas raposas já bem colocadas no mercado, mas são valiosas para quem está começando:

Dica 1

TENHA POSTURA DE VENDEDOR – Você está oferecendo um produto novo, nunca se esqueça disso. As empresas não conhecem o que você está vendendo, têm pouca noção do que se trata e precisam acreditar que vale a pena gastar dinheiro com texto para a web. É preciso muita, muita persuasão. Gaste saliva, tenha paciência, insista.

Dica 2

COLOQUE TUDO NO PAPEL – Persuasão, só, não adianta. Qualquer companhia, para absorver uma idéia nova, precisa que ela seja bem explicada. Coloque no papel, ainda que em tópicos, uma definição de webwriting, sua visão sobre o assunto e, principalmente, os benefícios que um bom webwriting pode trazer para um site web.

Dica 3

CRIE UMA PÁGINA COMO EXEMPLO – Às vezes, não há lábia ou lápis que funcione. Para que isso não aconteça, crie um site fictício (não vale blog) com o que seria um bom webwriting – no caso, o seu bom webwriting. Navegue pelo site com o seu prospect, ou pelo menos insista que ele entre em seu endereço.

Dica 4

MOSTRE O QUE OUTRAS EMPRESAS ESTÃO FAZENDO – Dê exemplos de sites empresariais com um bom texto. Isso irá demonstrar como as companhias estão dando atenção ao conteúdo, e o quão saudável para a imagem das empresas é ser bem compreendido.

Dica 5

MOSTRE O WEBWRITING COMO PROLONGAMENTO DO JORNALISMO – Não deixe seu possível cliente perdido. Explique para ele que você ainda é da área de Comunicação (e não Informática) e continua a aplicar alguns princípios básicos da redação tradicional. Em resumo, acalme-o explicando que você conhece muito sobre internet, mas sua alma ainda é uma máquina de escrever.

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Estão abertas as inscrições para a segunda turma da pós-Graduação em Gestão em arketing Digital da FACHA, no io de Janeiro, da qual sou Coordenador. Com 16 isciplinas, entre elas E-commerce, Gestão de Contas, Gestão de Conteúdo,Gestão do Conhecimento, Inteligência de Mercado, Marketing de Relacionamento Online e Otimização em Mecanismos de Busca, o objetivo do curso é preparar profissionais capazes de tomar decisões no campo do marketing para a mídia digital e atualizar os que já estão no mercado. Para mais informações, posholos@facha.edu.br.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

ELEIÇÕES NOS EUA
Milton Coelho da Graça

Você acredita mais em McCain ou no NY Times?, 22/2

‘Não se trata de discutir se um senador de 71 anos, candidato a presidente da República, pode ter uma amante de 40 anos toda glamorosa e lobista. Renan teve uma de 39 e não foi por isso que perdeu a presidência do Senado brasileiro. Clinton também não perdeu a Casa Branca, mesmo tendo mentido inicialmente sobre o quê exatamente fazia com a estagiária Monica Lewinsky no Salão Oval da Casa Branca com a porta fechada.

A pergunta que as revelações do New York Times provocam sobre John McCain é mais complicada: o povo americano deve eleger um presidente que se gaba de ter ‘os mais elevados padrões éticos’, mas, em sua carreira parlamentar, já foi apanhado em algumas mentiras e suspeitas de ‘levar por fora’? Uma dessas suspeitas inclui possível relação romântica com a sra. Vicky Iseman, sócia de um escritório de lobby (e, pela foto, elegante e sedutora) a serviço de grandes empresas de telecomunicações.

O NY Times publicou na quinta-feira (21/02) longa matéria escrita por quatro de seu primeiro time de repórteres, como parte de uma série de perfis dos candidatos à presidência. A matéria inclui a revelação por antigos assessores de McCain, de que, na campanha presidencial de 2000 (quando McCain disputou contra George W. Bush a indicação pelo Partido Republicano), seriamente desconfiaram de que seu chefe tinha um caso romântico com a sra. Iseman. Ela era freqüentadora assídua do gabinete e procurava acompanhar o senador em vários compromissos. E os dois viajaram juntos a Miami para um jantar de levantamento de fundos com vários clientes dela (e também na volta a Washington) em avião executivo de um desses clientes.

Mas a matéria do NY Times não fica apenas na revelação desse aparente caso de amor.

Relembra, por exemplo, que a sra. McCain (em segundo casamento), rica herdeira de uma grande cervejaria, foi associada de Charles Keating, na construção de um shopping center. E McCain, coincidentemente, defendeu com ardor no Senado os interesses de Keating, também dono de uma financeira, falida em 1989 com um prejuízo aos cofres públicos de 2,8 bilhões de dólares. Keating foi para a cadeia. McCain escapou só com uma ‘repreensão’ e conseguiu se reeleger em 1992.

No livro que escreveu em 2002 – ‘Valeu a pena lutar’ – McCain assim recordou o episódio Keating: ‘Gostaria muito de pensar que nunca fui um homem cujo favor possa ser comprado. Desde minha adolescência, teria considerado uma reputação como essa como a mais vergonhosa ignomínia imaginável.’ E mais adiante: ‘Se não reprimo a memória, essa recordação ainda provoca um vago mas real sentimento de que perdi algo muito importante.’

Daí em diante, segundo o NY Times, McCain se tornou um cruzado da incorruptibilidade, censurando todas as formas de ‘sedução’ de parlamentares – presentes, refeições e dinheiro – por isso até ganhando a inimizade de muitos companheiros senadores do Partido Republicano.

Os repórteres do NYT também ouviram amigos de McCain ainda o consideram uma pessoa honrada, como o editor de opinião do jornal The Arizona Republic, William Cheshire, que assim o definiu: ‘Ele é essencialmente uma pessoa honrada. Mas pode ser imprudente.’

E a continuada relação com lobistas só não chega a confirmar essa imprudência porque outros candidatos à pesidência também fazem a mesma coisa. Por exemplo, o chefe de gabinete de McCain no Senado é um ex-lobista. Que havia trabalhado anteriormente nesse mesmo gabinete até 2001, quando saiu para ser lobista.

Mc Cain e vários amigos consideraram o artigo do NY Times como ‘calunioso’ e o jornal recebeu milhares de cartas de leitores contra, a favor e coluna do meio. Até o Vietnã está indiretamente nesse debate porque há algumas semanas desmentiu formalmente que o McCain tenha sido torturado como prisioneiro de guerra.

Compare com os casos Renan e Clinton. Deixe de lado sexo e amor. Você confia mais nos repórteres do NY Times ou em McCain? E, se você fosse americano, ainda votaria nele para presidente?

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

ESPORTES
Marcelo Russio

O choro dos campeões, 20/2

‘Olá, amigos. Na última semana, três dos maiores ídolos esportivos do Brasil choraram copiosamente diante das câmeras: Ronaldo, Romário e Guga. A imprensa cobriu todos os eventos de forma exemplar, inclusive deslocando seus correspondentes para Paris, onde Ronaldo foi operado, dando espaço amplo à sua cirurgia nos noticiários. Mas uma coluna me chamou a atenção pela forma ampla como comentou a coincidência: a assinada por Ruth de Aquino, na Revista Época.

Com rara sensibilidade, Ruth soube explorar o tema com competência e atenção, ouvindo um profissional da área de psiquiatria e relembrando outros brasileiros geniais dos esportes que, cada um à sua maneira, ia às lágrimas em determinados momentos de suas carreiras.

A coluna mostrou um jeito muito interessante de se abordar um assunto que facilmente passaria despercebido pela maioria: a emotividade que passa a fazer parte da personalidade do homem brasileiro em geral. Hoje, nossos atletas mostram em larga escala algo que poucos mostravam há 50 anos: o choro. Retornando à Copa do Mundo de 1958, vemos Pelé, aos 18 anos, aos prantos, enquanto Zagallo e Zito, mais experientes, choram de um jeito contido, como que tentando segurar a emoção que os invadia.

Hoje vemos verdadeiros gênios do esporte chorando sem qualquer pudor diante das câmeras. Talvez pelo crescimento da imprensa como um todo, e pela impossibilidade de se esconder determinados arroubos de emoção de tantas câmeras e microfones, o brasileiro parece ter, finalmente, aprendido a chorar. Como Oscar Schmidt, uma verdadeira lenda do basquete, que nunca se envergonhou de chorar em público.

A coluna de Ruth de Aquino desta semana me fez pensar em como é importante ter contato com uma visão externa ao esporte, para poder ver com outros olhos e pensar com outra cabeça para poder tirar conclusões que os olhos e a cabeça ‘viciados’ na visão esportiva demorariam para conseguir enxergar, se enxergassem.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

De novo a cueca, 21/2

‘Para mim

as palavras morreram

definitivamente.

(Álvaro Alves de Faria in Decisão)

De novo a cueca

O considerado José Truda Júnior, que enxerga longe lá do alto do seu minarete em Santa Teresa, avistou no UOL:

Rabino é assaltado e pede socorro em hebraico

(O Globo Online, Bom Dia S.Paulo, Diário de S.Paulo, CBN )

SÃO PAULO – O rabino Adam Abraham Iliovits, de 67 anos foi vítima de assalto na noite desta segunda-feira. Morador da Rua Haddock Lobo, nos Jardins, ele foi rendido por volta de 21h por três homens armados. O rabino receberia visita de um amigo no fim da noite. Quando a campanhia da casa tocou, os bandidos ordenaram para o religioso ligar para o celular do conhecido e adiar o compromisso. Em hebraico, ele pediu ‘socorro’. O amigo então chamou a polícia.

A Polícia Militar cercou a casa minutos depois, mas os bandidos haviam fugido com eletroeletrônicos, relógios, R$ 3 mil, duzentos dólares e talões de cheque da vítima. Um dos criminosos, Reinaldo Rodrigues, de 30 anos, vestido com trajes de judeu ortodoxo foi preso nas imediações e a PM conseguiu recuperar parte do que foi roubado e também 200 dólares que haviam sido escondidos na cueca.

Truda não perdoou:

Lembra dos dólares na cueca do assessor do irmão do Genoíno? Pois aí está o que acontece quando o exemplo vem de cima!

(Janistraquis gostaria de saber como é ‘socorro’ em hebraico.)

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Dá pra confiar?

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, onde o tempo está sempre carregado, embora as nuvens não chovam nem saiam de cima, pois Roldão examinava o Correio Braziliense quando foi atingido pelos raios do desleixo jornalístico:

Na seção ‘O TEMPO EM BRASÍLIA’ de 16 de fevereiro, último dia de vigência da hora de verão deste ano, a hora do nascente do Sol (07h07) e a do poente (19h43) foram publicadas corretamente.

No dia seguinte, 17/2, já na hora astronômica normal do fuso de Brasília, era de se esperar que ambas as horas fossem atrasadas em 60 minutos; o Sol nasceria às 06h07 e se poria às 18h43, porém publicaram as seguintes horas: nascente 06h24 e poente 17h53, ou seja apenas menos 43 minutos na hora do nascente e, em ‘compensação’, menos 1h50 na hora do poente.

Completo samba do crioulo doido. Se não podemos confiar nessa informação inquestionável, como confiar no noticiário do jornal em geral?

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A bola não cai!

Na terça-feira, 19/2, a coluna completou cinco anos de Comunique-se. Janistraquis e eu queríamos festejar à sertaneja, com cachaça e carne-de-sol, porém estamos os dois, qual almas irmãs, a amargar doloridíssima inflamação do nervo ciático. Mas não deixaremos a bola cair!!!

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Pronúncia certa

Sob a coluna da semana passada, a propósito da nota de abertura, intitulada Estocôlmo ou Estocólmo?, escreveu o considerado Nelson Franco Jobim [15/02/2008 – 01:08]

(Colunista / Comentarista / Crítico-Baguete Diário – RS)

No Nordeste, é grélha. No RS, é grêlha. Este país é muito grande e querer padronizar é uma pausteurização desnecessária do ambiente.

O colunista concorda, ó Jobim, porém não nos referíamos à fala de cada região, mas de noticiário de TV que chega a todo o país. É preciso, então, eleger um critério e nada melhor do que o respeito à ortoépia, a qual determina a exata prolação das palavras. Segundo esta, a pronúncia de grelha é grélha.

Lá no sertão, diz-se que recruta é arreculuta, forma abominada por quem terminou o curso primário; e um amigo do colunista, jornalista e filho de Ubá, defendeu a horrenda frase ‘isso é pra mim fazer’, com a seguinte explicação: ‘É assim que a gente fala por lá…’.

Ora, o mestre Ary Barroso também era de Ubá e daria nota zero a quem dissesse semelhante desgraça no seu programa de rádio Calouros em Desfile.

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Palavras mortas

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto encima esta coluna. Álvaro Alves de Faria, poeta brasileiro auto-exilado em Portugal, deixa fluir seus fados no livro Sete anos de pastor, Coimbra, 2005. E clique aqui para visitar o excelente site do autor.

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Leitura obrigatória

Nosso mestre Deonísio da Silva, raro intelectual que não escolhe adversários na luta em favor da literatura brasileira, escreveu no Observatório da Imprensa, sob o título Leituras de Bravo! — Não houve apenas Machado. Houve Rosa. E Graça:

A propósito de Sagarana, observadores descuidados gostam de lembrar um terrível engano de Graciliano Ramos, que, num concurso, teria, por inveja e outros sentimentos mesquinhos, votado contra Sagarana. Ao contrário, ensejou um momento de grandeza entre dois escritores igualmente talentosos, pois o episódio do concurso foi esclarecido numa conversa que os dois tiveram em 1944, quando o mineiro foi apresentado ao alagoano.

Leia aqui a íntegra do esclarecedor artigo.

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Uma questão de gosto

O considerado Carlos Abumrad, da editora CLC, despacha de seu bunker no bairro paulistano de Pinheiros:

Caro Japiassu, na sua coluna divulgada pelo Comunique-se em 3 de janeiro, consta esta nota, onde o pronome se deveria estar depois do que e não depois do verbo. Como nesta frase de Machado de Assis: ‘Justo é que se dêem todas as honras a um personagem tão desprezado’.

O olho do mestre

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cujo excerto é a epígrafe da coluna; está inserido em Sertões de Dentro e de Fora, um dos livros do poeta, o qual anuncia outros mais. O considerado Talis Andrade, que submeteu-se àquela operação, está enxergando muito além da Taprobana.

Acontece, ó Abumrad, que a moderna filologia é muito liberal nessa questão e parte do princípio, corretíssimo, de que a gramática não deve agrilhoar o idioma. A concordância pronominal é questão de gosto e o se pode, tranqüilamente, colocar-se depois de que, como atesta a sintaxe lusitana. O colunista achou mais harmonioso escrever que Talis Andrade submeteu-se à operação para evitar o ciciante se submeteu.

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Boa conversa

A coluna sugere uma visita ao programa Papo com o Mauro, do Esporte Interativo (canal 10 da parabólica), no qual o considerado Mauro Beting, competente apresentador, recebe bons convidados para um animado bate-bola. Numa dessas noites de sábado, Janistraquis e eu demos boas risadas com as aventuras do craque Paulo César Caju.

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‘As presenças’

Janistraquis esperou o final da transmissão de Rio Preto 2, Santos 1, e, já furioso desde as seis da tarde por mais uma derrota vascaína diante do Flamengo (2 a 1), injusta derrota, diga-se, desabafou:

‘Considerado, não agüento mais o narrador a dizer que o programa tal terá ‘as presenças’ de fulano, beltrano, sicrano e outros mais; por que ‘as presenças’?!?!?!.’

É justa a impaciência de meu dedicado assistente; afinal, o programa poderia muito bem começar com ‘a presença’ deste, daquele, daqueloutro e tantos e tantos.

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Coisa ociosa

Assim como José Sarney na política, segundo a perversa frase de Fernando Lyra, nas elucubrações do Direito Constitucional o professor Yves Gandra da Silva também pode representar a ‘vanguarda do atraso’. Janistraquis escutou na Jovem Pan uma sua digressão a respeito de quando começa a vida, já que o assunto eram as células embrionárias, e comentou, em meio a um ataque de espirros:

‘Considerado, poucas discussões são mais ociosas do que essa; ora bolas, em muitas favelas, em inúmeros rincões por esse mundo afora, a vida não começa nunca…’.

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Nota dez

Sob o título A desordem da Ordem esbarrou no STJ, o considerado Elio Gaspari escreveu:

O SUPERIOR Tribunal de Justiça rebarbou uma lista de seis nomes enviados pela Ordem dos Advogados do Brasil para o preenchimento de uma vaga aberta na corte. Fez isso com astúcia, dando a impressão de que nenhum doutor do plantel conseguiu o quórum de 17 votos. Foi mais diplomático que o Tribunal de Justiça de São Paulo. No ano passado ele devolveu, por inepta, uma lista da OAB local. Um de seus candidatos a desembargador havia sido reprovado nove vezes em concursos para juiz de primeira instância. No Rio, há alguns anos, um dos nomes oferecidos pela Ordem anexara documentos falsos ao seu processo.

Leia no Blogstraquis a íntegra deste artigo deverasmente demolidor.

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Errei, sim!

‘NINGUÉM MENOS – Da esforçada Folha de S. Paulo, deitando e rolando sobre os resultados da Eurocopa: ‘Restam ainda seis jogos para a URSS terminar a etapa inicial, jogando num grupo que tem Hungria, Noruega, Chipre e ninguém menos do que a Itália, vice-campeã mundial de futebol’.

Janistraquis tem certeza de que a Itália não é vice-campeã mundial de futebol. E sugere que a expressão ‘ninguém menos’, deve ser evitada por redatores de bom gosto quando não há gente metida na história….’. (dezembro de 1991)

(N. da R.: a vice-campeã da Copa de 90 foi a Argentina.)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

ROUBO
Eduardo Ribeiro

O furo foi do Terra Magazine, mas…, 20/2

‘O roubo de informações da Petrobras, informação que ganhou as manchetes de toda a mídia nacional e de boa parte da internacional, teve origem numa matéria produzida pela revista eletrônica Terra Magazine, do portal Terra. Mas certamente você e a imensa maioria das pessoas deste País que lê jornal, vê televisão, ouve rádio e se informa pela internet não soube disso. E por quê? Porque infelizmente existe na imprensa brasileira uma espécie de síndrome do crédito, não financeiro, obviamente, embora esse também ataque fortemente os assalariados (ou boa parte deles), mas a do crédito que atribui a outrem o mérito de ter obtido em primeira mão uma informação que, pela qualidade e relevância, precisa ser repercutida.

Reconhecer e dar nome ao furo é o mínimo que se espera de quem dirige um veículo, de quem edita uma matéria, de quem escreve um texto, mas muitas vezes não é isso o que se vê em nossa imprensa, como foi exatamente esse caso do Terra Magazine que deu de colher para a mídia nacional e internacional um filé mignon, sem ter tido o merecido reconhecimento.

Justiça seja feita, neste caso, para a Folha de S.Paulo, que deu o merecido crédito ao Terra Magazine, o mesmo acontecendo com o ombudsman do jornal, Mário Magalhães. Talvez algum outro veículo tenha feito o mesmo, mas se isso aconteceu não chegou ao conhecimento deste colunista.

Em conversa com este J&Cia, o editor-chefe do Terra Magazine, Bob Fernandes, fez questão de esclarecer que o furo não foi só dele, mas de toda a equipe da revista eletrônica, e que não encara a falta de crédito como uma coisa pessoal. Diz ele: ‘Infelizmente, é um defeito na forma de trabalhar da imprensa brasileira. Já passei por isso em outras ocasiões, quando estava em IstoÉ e Carta Capital. Episódios como esse só depõem contra aqueles que fingiram que não viram de onde surgiu a informação’.

Desse episódio, no entanto, sobra o ensinamento de que o jornalismo pode e deve ser brilhante, instigante e desafiador, qualquer que seja a plataforma em que se abrigue.

O próprio Bob é um exemplo fascinante dessa assertiva, ele que deixou o glamour de ser o redator-chefe da conceituada Carta Capital, dirigida por Mino Carta, para, após um ano sabático, assumir o Terra Magazine, onde está desde abril de 2006. Mudou de plataforma, mudou de veículo, mas não mudou de hábitos. Continuou a fazer jornalismo de qualidade e a buscar a boa informação, incluindo os furos, sem medir esforços para isso.

A recompensa veio recentemente. Editor-chefe da edição brasileira do Terra Magazine, ele agora passou a responder pela publicação para toda a América Latina.

Bob lembra que ‘até agora, só o Brasil tinha produção de conteúdo noticioso, pois nos demais havia apenas colunistas. Agora, passaremos a ter em todos eles também o mesmo jornalismo aprofundado, com análises, notícias exclusivas, bastidores e antecipação de tendências que existe aqui’.

Segundo garante, essa sua primeira experiência de internet tem sido estimulante, mas o obrigou a se reciclar. ‘A velocidade de apuração é a mesma que no meio impresso, mas, dependendo do tema, precisamos pôr logo no ar o que é mais substantivo para depois ir complementando. Mudei completamente a minha forma de trabalhar’, garante.

Que muitos outros Bobs despontem pelas redações Brasil afora. O jornalismo agradece.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

FONTES CONFIDENCIAIS
Carlos Chaparro

O perigoso jogo da ocultação das fontes, 18/2

‘O XIS DA QUESTÃO – Que bom seria se cada um dos que escrevem e editam matérias elaboradas sobre a fragilidade da ocultação das fontes fizessem a si próprios a seguinte pergunta: tenho eu a certeza de que são verdadeiras todas as revelações feitas nos textos que escrevo e nos títulos com que seduzo os leitores?

A série de reportagens do Washington Post que em 1974 levou Richard Nixon a renunciar à presidência dos Estados, de autoria dos jornalistas Carl Bernstein e Robert Wooward, e que ficou conhecida como ‘Watergate’, foi, sem dúvida, um dos mais notáveis feitos jornalísticos do século passado. A revelação jornalística do escândalo da espionagem eletrônica montada pelos partidários de Nixon na sede do Partido Democrata pôs à prova os mecanismos de auto-defesa da democracia americana, e surpreendeu o mundo.

Como todas as revelações feitas foram comprovadas pela contudência dos fatos, quase ninguém deu importância ao detalhe de a célebre reportagem ter sido feito com base em informações de uma fonte não revelada. E escrevo ‘quase ninguém’, porque o ombundsman do jornal (cujo nome não tenho agora à mão), em diversos momentos ao longo da publicação da série, criticou severamente os dois repórteres autores da histórica reportagem, pelo jornalismo sem fontes reveladas praticado.

Em seus comentários semanais, o ombudsman advertia para o risco de suspeição a que a ocultação de fontes submetia o relato jornalístico. Mas admitia que essa prática poderia ser tolerável em questões de grande relevância e apenas quando não houvesse outra maneira de obter as informações.

É também o que recomendam os manuais de Deontologia do jornalismo. E o fazem reforçados no pressuposto de que o anonimato das fontes deve ser compensado pela confiabilidade e pelo senso de responsabilidade de quem assina os textos, e pela consistência e relevância das revelações. Assim aconteceu com a série Watergate: um assunto da maior importância, dois repórteres confiáveis e um texto que se auto-validava na qualidade e gravidade das informações.

Em jornais sérios zela-se para que a ocultação de fontes jamais vá além desses limites. Mas, em matéria de ocultação de fontes, o que a Folha de S. Paulo faz com frequência abusiva, exclui o jornal da categoria do jornalismo sério.

Já houve tempo em que cheguei a colecionar, quase que diariamente, matérias da Folha que costuravam complicadas tramas de intrigas políticas, com informações articuladas por verbos no condicional, das quais resultavam, não relatos jornalísticos, mas especulações elaboradas nos bastidores da política miúda, nutrida pela fofoca interessada e interesseira. Com frequência, essas tramas conquistavam as manchetes principais do jornal. E assim serviam ao universo difuso da intriga política.

Como em tantas outras coisas da prática jornalística, a Folha fez escola, com esse seu jornalismo de especulação. E conseguiu até ‘contaminar’ o Estadão, do qual se esperaria a rejeição do paradigma da fofoca, se não por outra razão, ao menos como tática de confrontação qualitativa com o jornal rival.

Neste domingo, ao ler o Estadão, fui atraído pelo título que gritava, no alta da página A11: ‘Lula vira mediador na disputa de cargos entre Dilma e Sarney’. Pode até ser que tudo o que na matéria se revela seja verdadeiro e possa ser comprovado. Mas nada nela tem a sustentação de qualquer fonte . Nem de fontes nem de provas.

A reportagem, assinada por Christiane Samarco, constrói uma história que pode até ser verdadeira, e que tudo venha a ser comprovado. Mas, ao final, uma pergunta me assolou: será que tudo isso aí é veraz?

Se encontrasse quem escreveu e quem editou a matéria, tentaria superar as minhas dúvidas com um questionamento que raramente se faz aos profissionais sobre os quais recai o dever de zelar pela confiabilidade do jornalismo: você, que assinou a matéria, e você, que a editou, têm a certeza são verdadeiras as revelações feitas na reportagem e no título que a torna tão sedutora?

Que bom seria se cada um dos que escrevem e editam fizessem a si próprios essa pergunta, sempre que colocam nas ruas matérias elaboradas sobre a fragilidade da ocultação das fontes.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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