Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Comunique-se

MERCADO DE TRABALHO
Sérgio Matsuura

Ministro do Trabalho cria grupo de estudos para discutir regulamentação do jornalismo, 25/07

‘O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, afirmou nesta sexta-feira (25/07) que o grupo de estudos criado para discutir a regulamentação da profissão de jornalistas é uma de suas obrigações como ocupante do cargo.

‘Já que a obrigatoriedade do diploma está sendo discutida, cabe a mim, enquanto ministro do Trabalho, criar mecanismos para que sejam discutidas, de forma tripartite, as melhores formas para encontrar dinamismo nas relações de trabalho, sempre garantindo os direitos dos trabalhadores’.

A portaria que institui o grupo foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira e prevê a participação de ‘três representantes do ministério, três representantes das categorias profissionais e três representantes das categorias econômicas’. Eles terão noventa dias para apresentar o relatório final.

Para Fenaj, discussão era dívida do Governo

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio Murillo de Andrade, congratulou a atitude do ministro, mas lembrou que o governo Lula tinha firmado um compromisso com a categoria desde o julho de 2006, quando o presidente vetou projeto que regulamentava a profissão.

‘É uma reivindicação da FENAJ desde que o presidente Lula vetou, em julho de 2006, a mudança na legislação que rege a categoria. O ministro Lupi, mesmo que tardiamente, está cumprindo um compromisso do governo com os jornalistas e com a sociedade’.

Entretanto, Murillo não comemora a decisão, já que a criação do grupo é apenas o primeiro passo para a formatação de um projeto de lei.

‘Temos que ver como vai ser a dinâmica do grupo, mas a expectativa é positiva. Normalmente esses grupos de estudos resultam em políticas públicas ou projetos de lei’.

Campanha pelo diploma continua

O presidente da Fenaj disse ainda que a mobilização nacional em torno da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo não será abandonada. A semana de luta, marcada para acontecer entre os dias 11/08 e 17/08, não será suspensa por causa da atitude do governo.

‘São duas situações diferentes. O que o Supremo vai julgar é a exigência do diploma para o exercício da profissão. É um dos artigos, para nós a principal, dentre outros da regulamentação’, disse Sérgio Murillo de Andrade.’

 

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

Não podemos esquecer nossos mortos, 25/07

‘Em julho de 2004 – há exatos 4 anos -, a área de jornalismo online no Brasil perdia o seu pioneiro, Fernando Villela, o FerVil.

Ele parou o carro em um sinal em um subúrbio do Rio, enfiaram o cano de um revólver pela janela entreaberta, veio o susto e pam, foi-se FerVil – que tinha 30 anos.

Há um ano, escrevi sobre a morte de Fernando e aqui torno a lembrar, de propósito, a perda do meu amigo. Prometi que o faria.

Nossa memória é curta, principalmente quando o assunto incomoda. Afinal, ficar lembrando, todo santo ano, de quem foi para o andar de cima? ‘Tô fora’, pensa a maioria.

Mas não dá, sinto muito. E olhe que a questão aqui não é sentimental, já que esta merece mais silêncio que texto.

O que eu desejo é que FerVil seja lembrado como deve, como o primeiro de uma nova era da Comunicação no Brasil.

FerVil é tão importante quanto foi Chatô, Roberto Marinho ou Haroldo de Andrade; tão fundamental quanto Roberto Duailibi, Roberto Civita ou Zuenir Ventura. Nossos heróis, vivos e mortos.

Duvida? Aguarde uns dez anos e verá.

Isso, é claro, se alguém fizer algo para que FerVil não seja esquecido.

Escrever sobre ele é pouco. No início do ano passado sugeri ao ‘Comunique-se’ a criação de uma categoria especial para o jornalismo online no ‘Prêmio Comunique-se’ com o nome do FerVil, Fernando Villela. Ninguém mais esqueceria o Fernando e, indiretamente, a violência que o levou.

Faltou insistência da minha parte, confesso. Vou retomar a cruzada.

E você, acha que os grandes profissionais da área de Comunicação do Brasil, vivos ou mortos, estão recebendo as láureas que merecem ou mal damos atenção aos nossos ‘heróis’?

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Reproduzo aqui o texto que escrevi no dia seguinte ao assassinato de FerVil:

‘Eu estava com meu filho no colo, fazendo hora em frente a um jornaleiro. Era 1996, e uma das primeiras edições da ‘Revista da internet.br’ estava com destaque nas bancas. E lá estava o Fernando, posando para a foto do editorial que ele assinava como editor da primeira publicação brasileira

sobre internet.

De lá pra cá, FerVil acompanhou minha vida, e eu a dele, em alguns momentos à distância, em outros bem de perto. Estive com ele há poucos dias, no grupo de estudos de webwriting. Ele havia aceitado o convite para participar, e em nossa última troca de e-mails, eu pedia: ‘não some, cara, eu sinto falta de você, e toda a nossa área carece de sua inteligência’. O Fernando brincou: ‘Não se preocupe, não, Bruno ‘ ressuscitei de vez’.

Quando lancei meu livro, pedi que o Fervil escrevesse o prefácio. Só podia ser ele, mais ninguém. Ele era a minha referência. No meu primeiro curso de webwriting, foi FerVil que chamei para ministrar uma palestra. Ele estava de malas prontas para ir trabalhar em São Paulo, no iG, e me perguntou se eu achava que ele devia mesmo ir. ‘Fernando, sou suspeito’, disse. ‘Você só tem a acrescentar, em qualquer lugar’.

Nos reencontramos, eu, ele o Vicente Tardin, do site ‘Webinsider’, querendo marcar um almoço que nunca saiu. Há pouco mais de um mês, ele reapareceu no meu curso, como aluno. Quando adentrou a sala, parei tudo, e, num misto de brincadeira e reverência, perguntei: ‘Você veio me dar aula, não é’. FerVil ficou vermelho. ‘Só pode ser brincadeira, Fernando!’. Era – e não era. Ele queria se reaproximar do jornalismo online, do webwriting, do bom e velho mercado, após alguns anos trabalhando com conteúdo para telefonia celular. E queria entrar de cabeça no meio acadêmico. ‘Você sabe que deixou uma lacuna’, eu disse. ‘Os estudantes precisam de você’. Ele só sorriu.

Na noite desta segunda-feira, FerVil foi assassinado em uma tentativa de assalto, dentro do carro, ao sair do trabalho. Assim, de um jeito que não merece mais uma linha de explicação.

Realmente há algo mais a dizer?’’

 

 

TELEVISÃO
Carla Soares Martin

Museu da Televisão Brasileira fica sem prédio, 25/07

‘O museu da televisão brasileira, um projeto da atriz Vida Alves, de 80 anos, ficou sem prédio para funcionar. Tudo começou quando o edifício previsto, a Casa das Retortas, no Brás, São Paulo, passou da tutela do município para o Estado.

A prefeitura tinha dado o aval para o museu funcionar lá. Desde maio deste ano o museu da televisão brasileira está previsto em lei municipal. Agora, vai continuar sem teto, sem nada. Não há, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, nenhum projeto de onde o museu funcionará. ‘O museu está em fase de espera para a destinação de recursos’, disse a assessoria.

A Secretaria do Estado da Cultura afirmou que vai transformar o prédio em Museu da História de São Paulo.

Nos bastidores, o que se comenta é que um desentendido entre a TV Cultura e a TV Bandeirantes tenha motivado a transferência da Casa das Retortas do município para o Estado. Embora a assessoria da Band não tenha se pronunciado ao Comunique-se, a coluna de Mônica Bergamo, da Folha, diz que Jonnhy Saad, o dono do Grupo Bandeirantes, não teria aderido ao projeto porque ele estaria sendo liderado por apenas uma emissora, a TV Cultura. E teria reclamado à Prefeitura, que teria tomado, em ano eleitoral, o cuidado de engavetar o projeto.

Em nota à imprensa, a TV Cultura nega. ‘Desde o início, ele (o museu) foi concebido com a participação das principais redes e, evidentemente, não irá beneficiar nenhuma emissora em particular’, afirma o comunicado.’

 

 

Antonio Brasil

A ‘nada mole’ vida dos correspondentes na China, 21/07

‘‘Só havia incertezas, dificuldades, o desconhecido à vista. O que mais um casal de repórteres poderia desejar?’

Sonia Bridi

Em tempos de Olimpíadas e submetidos a uma verdadeira avalanche de notícias e informações desencontradas sobre uma país tão diverso e distante, gostaria de recomendar ‘Laowai (Estrangeiro) – História de Uma Repórter Brasileira na China’ da jornalista Sonia Bridi pela Editora Letras Brasileiras (ver aqui).

O livro descreve os dois anos (2005 e 2006) em que ela atuou como correspondente internacional da TV Globo em Pequim, ao lado do repórter cinematográfico Paulo Zero, 50, responsável pelas fotos do livro.

Com narrativa fluente, agradável e observações bem humoradas, ‘Laowai’ é um livro bom de ler. Ótimo programa para as férias de Julho. A obra é feita sob medida para quem gosta de ‘viajar’ pelos mistérios da vida em estranhos países orientais como a China, Coréia do Sul, Índia e Vietnã.

E sobre o seu trabalho, a própria Sonia acrescenta: ‘um correspondente deve relatar a vida dos brasileiros fora do Brasil, mas o papel primordial é levar o conhecimento do mundo aos brasileiros que não têm oportunidade de conhecer outros países’.

Tudo a ver.

Além de revelar os segredos de outros países, Laowai também nos mostra as dificuldades e os ‘truques’ utilizados pelos jornalistas para evitar a ação de censores do governo durante grandes coberturas internacionais.

Quando governo tenta fazer TV e controlar correspondentes estrangeiros o resultado é sempre desastroso.

Como bem sabemos, tanto na China quanto no Brasil, é dura a vida dos correspondentes estrangeiros. Sempre ameaçado de serem expulsos ao tentar dizer a verdade.

Gostei de ler é aprendi muito sobre a vida no país das grandes mudanças. A destacar as notas de roda-pé sobre a história e cultura chinesas. São simplesmente preciosas. Mas além de aprender sobre passado e o futuro da China, também pude recordar o passado da TV brasileira.

O relato de Sonia Bridi nos remete ao trabalho pioneiro na cobertura internacional para TV de outros grandes jornalistas como a Sandra Passarinho. Nos anos 70, ainda muito jovem, foi a primeira correspondente da TV brasileira baseada em Londres. Bons tempos!

Hoje, Sonia Bridi e Paulo Zero também contribuem para a história da TV brasileira. Eles foram os primeiros correspondentes da TV brasileira na China. Nossos olhos e ouvidos no oriente e no futuro.

Antropojornalismo

Neste novo livro, Sonia complementa o seu bom e discreto jornalismo de TV com um relato detalhado sobre o processo pessoal de imersão na vida e na cultura chinesas.

‘A partir dos acontecimentos do cotidiano como alugar apartamento, liberar equipamentos na aduana, fazer exame para obter carteira de motorista, encontrar escola para o filho, descobrir onde comprar roupas para o seu tamanho ou abrir conta em banco, Sônia vai construindo um retrato pitoresco, emocionado e extremamente requintado da sociedade chinesa’.

Nessa narrativa tão particular, Sonia também avança conceitos do jornalismo ao se aprofundar em um relato mais próximo da Antropologia e da pesquisa etnográfica. Sonia é uma Laowai, uma jornalista estrangeira com olhar de antropóloga.

Sua obra é mais uma contribuição importante para a consolidação do Antropojornalismo: uma nova área de conhecimento, a interface entre a agilidade do jornalismo e a profundidade da Antropologia.

Com olhar bem humorado de jornalistas e a perspicácia dos etnógrafos, Sonia descreve o choque cultural:

‘Carne de cachorro, e de outros bichos estranhos, é consumida no Sul do país, na província do Cantão. Os cantoneses são aqueles que, segundo um ditado muito popular, ‘comem tudo o que voa e não é avião, o que tem pernas e não é mesa, o que se arrasta e não é trem, o que está na água e não é navio’.

Caso de amor

Mas Laowai não é só pesquisa, humor e história.

O livro também é uma bela história de amor. Amor pelo jornalismo, pela aventura, mas acima de tudo, o amor entre dois jornalistas – Sonia e Paulo são casados.

Os dois se conheceram no escritório da TV Globo de Nova York, há 12 anos. ‘Havia sido transferida de Londres contra a minha vontade. O Paulo me acompanhou na minha primeira matéria e vimos que tínhamos muitas afinidades’, diz Bridi.

Com o fim recente de seus respectivos casamentos, logo resolveram compartilhar não só o trabalho, como também a vida. ‘Aprendi a respeitar o destino’, fala a jornalista.

Eles partiram para a aventura chinesa com muito desprendimento, coragem e um filho pequeno, Pedro de seis anos. Quanta coragem!

O livro nos mostra as dificuldades da cobertura internacional, mas também revela os desafios de um casal de jornalistas brasileiros vivendo no exterior e tentando manter uma vida familiar, um mínimo de normalidade em um mundo tão estranho e adverso.

E é a Sonia que descreve a vida com o jornalismo e o amor: ‘Trabalhar com o marido, viajar junto, é um privilégio que poucas pessoas têm nessa profissão tão permeada de casos de separação, pois o outro cônjuge, geralmente, não suporta o ritmo de vida imposto pelo jornalista’.

Corrupção e censura

A ‘nada mole’ vida dos correspondentes internacionais. Mas em tempos de vacas magras e muito competição no jornalismo de TV, as aventuras de Sonia Bridi e Paulo Zero também representam o fim de uma era. Não creio que no futuro próximo teremos correspondentes internacionais com tantos ‘privilégios’. Sonia descreve a dificuldade para contratar motoristas e tradutores chineses e descreve as desventuras de sua ‘babá’, a Fafá, uma piauiense trazida pela família para viver na China. Os bons tempos dos correspondentes certamente estão acabando.

Hoje, poucas televisões ainda podem bancar equipes de jornalistas com repórteres e cinegrafistas em outros países nessa ‘nada mole vida’ de correspondente internacional. No futuro próximo ou no presente mais realista, o novo correspondente internacional faz tudo e trabalha sozinho. É um freelancer com pouquíssimos privilégios e mordomias. É um jornalista que precisa saber pautar, produzir e ‘vender’ suas próprias matérias.

Manual do jornalista estrangeiro

A leitura de Laowai nos mostra que a China é um país muito estranho. Muito estranho. Mas também é um país muito parecido com o Brasil. Quase tudo funciona na base do suborno e da propina. O relato de Sonia sobre as dificuldades para realizar a primeira transmissão ao vivo da China para o Brasil pela televisão estatal chinesa é ao mesmo tempo esclarecedor e um alerta para todos nós brasileiros.

‘A China é uma ditadura, uma país fechado que controla a imprensa – nacional e estrangeira – com mão de ferro’, afirma Sonia.

Segundo a entrevista recente para a Folha de São Paulo, Sonia Bridi e Paulo Zero esclarecem as dificuldades para a cobertura jornalística e suas tentativa para evitar o controle do governo:

‘Em 2005, o ‘Manual do Jornalista Estrangeiro na China’ tinha a lista de cidades que poderiam ou não ser visitadas. O controlador de Pequim sempre precisava saber de nossas viagens, bem como deveria ser avisado o controlador da cidade para onde íamos. A delegacia local é avisada sempre que um jornalista se hospeda no hotel. Você está sempre sob os olhos de alguém’.

E acrescenta: ‘Eles censuram as fontes, o acesso. Além de cobrar para fazermos imagens de qualquer monumento… Se você consegue romper o acesso, eles punem quem falou com você, para criar a cultura do medo: se você falar com o laowai [estrangeiro] você será punido. Essa é a mensagem’.

‘Lá você não abre Wikipedia, não abre blog… Vai entrar num site ou no MSN e está bloqueado. O Google não existia para a gente, já que só tínhamos acesso ao Google em chinês, o que não adiantava pra nada’.

Controlar correspondentes

Para quem ainda duvida dos perigos da intromissão do governo no trabalho dos correspondentes estrangeiros, (vocês ainda se lembram da quase expulsão do Larry Rohter do New York Times aqui no Brasil?) destaco este diálogo entre um alto funcionário da empresa estatal chinesa encarregada da transmissão de satélite e a jornalista da Globo:

‘A senhora sabe que para poder fazer essa transmissão teremos alguns gastos – diz o mais alto, escancarando os dentes amarelos de chá…

Geralmente nós cobramos uma taxa de autorização de imagem de quem vem aqui fazer documentários – prossegue ele…

O chinês ri, com muito mais segurança do que eu:

– Hahahahahaha! Por isso sugerimos que vocês contribuam com 50 mil. Dez mil, em espécie, amanhã de manhã, antes de começar a trabalhar – diz ele, agora sério, como quem encerra a conversa…

Depois, quase não durmo de raiva. Por ter sido submetida a esse achaque…

Respiramos fundo e vamos fazer nosso pedacinho de história. …

é apenas a segunda vez que uma transmissão desse tipo é feita a partir da China’.

Na China ou no Brasil, essa é a ‘nada mole’ vida dos correspondentes estrangeiros.

O livro da Sonia Bridi além de bom jornalismo é leitura obrigatória para quem ainda acredita na importância da cobertura internacional na TV e da liberdade de imprensa.

Comprova que governos não deveriam se envolver com jornalismo e televisão.

É perda de tempo, dinheiro e… não funciona.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

 

MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro

Dias de calmaria e de algumas notícias agradáveis, 25/07

‘Não sei se é mera impressão minha ou se este mês de julho está de fato mais calmo, na comparação com anos anteriores, sem grandes emoções. Temos, é verdade, o caso Daniel Dantas ocupando as manchetes como grande assunto da mídia do momento, mas nem ele abala a aparente tranqüilidade presente nas redações, que, de resto, seguem seu curso normal, com muita gente de férias ou se preparando para os Jogos Olímpicos de Pequim.

Durante semanas, o boato de maior relevância entre os jornalistas era o da venda do Estadão para as Organizações Globo, que demorou mas acabou sendo desmentido pelo primeiro. O assunto murchou.

A venda do DCI, do ex-governador Orestes Quércia, que esteve a ponto de se concretizar com os Diários Associados, também parece ter gorado, ou pelo menos arrefecido e desse modo também por lá se respira um clima de paz interior maior.

Há tempos também não se tem notícia de prejuízos graves, crises econômicas e todas aquelas notícias que, pimba, resulta em cortes profundos nas equipes, no chamado efeito passaralho.

Até a briga de Luís Nassif com a Veja acalmou um pouco, mas essa ainda repercute, porque pelo visto não falta munição para que continue, sobretudo a partir do relatório entregue pelo deputado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, sobre a Operação Satiagraha, citando nominalmente vários jornalistas.

O vaivém do mercado, que é sempre muito intenso, tem se comportado de forma tranqüila nesse julho. É uma saída aqui, como a do editor de Economia do Jornal da Tarde, Valmir Zambrano; uma contratação acolá, como a de Paulo Leandro, como novo editor de Esportes do Correio da Bahia; uma volta às origens como a de Renato Dilago, ao SBT, para ser editor-chefe do Núcleo de Produções Especiais do Departamento de Jornalismo, após temporada de cinco anos na Record; uma despedida necessária, como a de Ricardo Boechat, que encerrou sua coluna no jornal O Dia, do Rio de Janeiro, para se dedicar à coluna da revista IstoÉ e também à sua atuação na TV Bandeirantes e na rádio BandNews FM, em São Paulo.

Prêmio Internacional para O Dia, do Rio

Temos, é verdade, boas notícias, como o prêmio internacional da Sociedad Interamericana de Prensa (SIP) ganho por João Antônio Barros, de O Dia, na categoria Relações interamericanas, com a série sobre o narcotráfico.

Disse ele sobre o feito, à editora regional deste J&Cia, no Rio de Janeiro: ‘Sempre se soube que o Rio era um ponto de distribuição de drogas. Nessa série, fizemos o caminho inverso, para ver de onde ela vem. E vimos que são duas pontas de muita pobreza – do índio que planta ao negro do morro que vende -, exploradas por quem fica no meio. Foi preciso percorrer esses caminhos todos, conhecer essas pessoas por inteiro. Oitenta por cento da droga consumida no Rio vem da Bolívia, em pasta, processada artesanalmente, e precisa de refino para virar pó. A droga da Colômbia, que já sai refinada, com mecanização, vai para os Estados Unidos, que paga melhor. Na série, mostramos como as quadrilhas no Rio precisaram se adaptar para o refino, as várias etapas, como se fosse um alimento mesmo. De cada quilo da droga vendida no Rio, 10% é pura, o resto é solvente. Aqui ninguém morre de overdose de cocaína’.

E acrescentou: ‘O prêmio nunca é de uma só pessoa, mas um somatório da equipe. E das chefias: é preciso que, na retaguarda, existam pessoas que apostem em idéias malucas. Acho que o jornalista, a vida toda, faz umas dez ou quinze matérias. A maturação do trabalho é importante, mas a sorte também interfere bastante. É como um filho, a gente acalenta e dá um carinho especial. Cada uma delas tem sua história, seu sacrifício’.

Ampliação da Record Minas

Em Minas Gerais, a Rede Record prepara-se para inaugurar, em agosto, uma nova redação em Belo Horizonte e, até o final do ano, outras três unidades regionais no Estado, em Varginha, Juiz de Fora e Montes Claros. As unidades contarão com jornalistas, técnicos, viaturas e departamento comercial. A Record Minas também vai inaugurar neste semestre um prédio de seis andares na Serra do Curral, onde serão instalados os transmissores de tevê analógica e digital, e também os das rádios; e com a chegada da antena da tevê digital começa as transmissões no novo sistema ainda neste semestre.

Com esse movimento, a emissora pretende não só ampliar a cobertura regional, que hoje alcança cerca de 600 municípios, mas também aumentar sua contribuição para a rede nacional e Record News. A aposta em conteúdo local chega com o quadro Balanço Geral Bairro – que vai ao ar no programa Balanço Geral. A cada mês, a atração visita um bairro e monta lá, em parceria com o Sesc, uma estrutura de prestação de serviços e lazer, levando ao ar as gravações ao longo da semana. Além do Balanço Geral, a emissora tem outros dois programas locais: os jornalísticos MG no Ar e MG Record.

A aposta no rádio, em São Paulo

Outra boa notícia vem da Fundação Armando Álvares Penteado, de São Paulo, que inaugurará em setembro o primeiro curso de pós-graduação em Produção e Gestão Executiva de Rádio, do País, sob a coordenação de Álvaro Buffarah, atual correspondente da Voz da América no Brasil. Segundo ele, ‘o rádio está em plena fase de mudança, com a chegada das tecnologias digitais (internet, satélites, celulares) e por isso, a pós em gestão é tão importante, pois já considera estes elementos na formação do novo gestor. Além de ser a primeira a profissionalizar um cargo que até então não tinha formação específica: gestor e produtor-executivo em rádio’.

O curso terá aulas regulares, oficinas com profissionais da área e palestras com gestores das principais emissoras paulistas. Também estão previstas visitas monitoradas a emissoras de grande porte, produtoras e até a rádios comunitárias.

Dentre os professores já confirmados estão Flávio Porto, um dos mais aplicados historiadores sobre rádio do País; Roberto D´Ugo, que fez carreira na Rádio Cultura de S.Paulo, tendo ali produzido várias inovações na programação; Marcelo D´Angelo, atual diretor Editorial da Gazeta Mercantil, um dos responsáveis pela estruturação da BandNews FM; Sérgio Santos, ex-coordenador da Eldorado, atual responsável pela campanha de rádio de Gilberto Kassab, candidato à reeleição à Prefeitura de São Paulo; Marcelo Barbosa, que atua como mídia de agências de publicidade; Eduardo Paiva, coordenador da pós-graduação em Comunicação pela Unicamp; Fábio Lacerda, sociólogo com doutorado em rádio; Mônica Rebeca Nunes, pesquisadora sobre estética e semiótica em rádio; além do próprio Bufarah, também ele pesquisador de rádio.

Vamos ver se essa calmaria e essa safra de boas notícias se mantêm por mais tempo.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

 

Simone Barros Rabello

Chega às bancas a revista Mais SIM, 25/07

‘Mais SIM é uma revista mensal voltada para mulheres que optam por um modo de vida com menor impacto para o ambiente e a sociedade que acaba de chegar às bancas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.

‘Mais SIM é inspiração. Traz soluções para um estilo de vida mais sustentável, tem foco no positivo e no futuro desejável’, conta Roberta Akan, diretora de redação.

A Mais SIM (Simples, Inteligente, Moderna), da editora Sapucaia, terá tiragem de 30 mil exemplares e 122 páginas. A revista aborda de comportamento à ciência, e assuntos cotidianos como saúde, beleza e decoração, sempre voltados ao bem-estar.

‘Nossa leitora gosta de conforto, cuida de si, da carreira, da casa e da família, e quer incorporar ações éticas em sua rotina. Acreditamos que tudo é questão de postura, e nossa missão é suscitar novos formatos para as velhas atitudes’, completa a diretora.

A publicação reserva as 40 páginas finais para o suplemento Mais Vida, onde o assunto é exclusivamente sustentabilidade.

Para consolidar e fortalecer a marca Mais SIM, a editora Sapucaia investirá R$ 3 milhões em um ano, com a exploração do conteúdo da revista em eventos, licenciamento, web e outras mídias.’

 

 

Carla Soares Martin

Editora Abril lança projeto Educar para Crescer, 25/07

‘A Editora Abril lança, a partir de agosto, o projeto Educar para Crescer. O objetivo, segundo o publisher do programa, Kaike Nanne, é ampliar o conhecimento e a mobilização dos diversos públicos de suas publicações a respeito e da busca de uma educação de qualidade.

‘Quando a educação melhora, é bom para o empresário, para os pais de classe A,B, para os pais da classe C,D, para todo o País’, afirmou Kaike Nanne.

O projeto vai atuar em três frentes: 30 revistas da Editora Abril se proporão no primeiro ano do projeto a publicar 180 reportagens sobre Educação, cartilhas sobre o tema também serão encartadas em 16 revistas e haverá, em agosto, o lançamento do portal www.educarparacrescer.com.br.

As cartilhas serão direcionadas para seus diferentes públicos. Assim, uma cartilha que vai mostrar a importância de uma boa educação para o crescimento econômico do país estará em VOCÊ S.A. e Exame. Em Veja, os jornalistas apresentarão aos pais de classe alta a importância de uma educação de qualidade para a melhora da segurança e da vida na cidade. Ao público de Ana Maria e Sou Mais Eu, haverá uma cartilha voltada à melhoria da educação pública.

Os textos apresentarão um panorama sobre a educação e dicas de como o público pode atuar em sua transformação. As boas idéias, colocadas em prática, serão colocadas no site, para funcionarem como impulso na melhora da educação no Brasil.’

 

 

PRÊMIO HERZOG
Carlos Chaparro

Projeto da ONU resgata acervo do Prêmio Vladimir Herzog, 22/07

‘Neste domingo, 20 de julho, fui à Cúria Metropolitana de São Paulo participar da cerimônia de lançamento do Troféu Especial de Imprensa ONU: 60 anos da Declaração de Direitos Humanos/Prêmios Vladimir Herzog. O troféu será atribuído a cinco jornalistas, escolhidos entre as quase oito centenas de ganhadores do Vladimir Herzog ao longo ao das 29 edições do Prêmio já realizadas. E a escolha dos cinco contemplados será feita pelo voto dos próprios ganhadores do Prêmio Herzog, na condição simultânea de eleitores e candidatos.

A idéia original do representante da ONU no Brasil, o jornalista italiano Giancarlo Summa, era a de criar um novo prêmio de jornalismo, que levasse o nome das Nações Unidas, para marcar, em nosso país, o 60º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos. Para pensar o prêmio, Summa procurou Sérgio Gomes e a sua Oboré. E da ebulição de idéias surgiu o argumento de que não fazia sentido criar um novo prêmio de jornalismo sobre Direitos Humanos, porque ele já existe no País: o Prêmio Vladimir Herzog, criado no início de 1979 – este ano em sua 30ª edição.

Conversa vai, conversa vem, chegou-se ao formato oficialmente anunciado na cerimônia de lançamento, domingo passado. Formato que faz deste Troféu Especial de Imprensa ONU algo mais do que um prêmio de jornalismo. Porque terá a abrangência de uma ação de resgate do formidável acervo de conteúdos do Prêmio Vladimir Herzog. Todos os trabalhos premiado desde 1977 serão localizados, organizados e digitalizados. E o projeto já está em plena execução, com uma equipe de estagiários trabalhando nos arquivos onde o Sindicato dos Jornalistas guarda as obras ganhadoras do Prêmio Herzog.

Por tudo isso, teve enorme importância a cerimônia de lançamento do Troféu Especial de Imprensa ONU: 60 anos da Declaração de Direitos Humanos/Prêmios Vladimir Herzog, realizada na sala de reuniões da Cúria Metropolitana, entidade que tem o seu nome historicamente vinculado às lutas por direitos humanos.

De passagem, diga-se que foi um evento de enorme significação política e cultural, pois reuniu, além de representantes oficiais das Nações Unidas e dos governos federal e estadual, o cardeal arcebispo de São Paulo, D. Odilo Sherer, e representações de entidades ligadas às lutas por cidadania e direitos humanos, entre as quais a ABI, o Sindicato dos Jornalistas de São Paula, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, a OAB-SP e o Fórum dos Ex-presos e perseguidos políticos. Presentes, ainda, representantes de empresas e entidades que decidiram cooperar com a organização do Prêmio. E lá estava também Elifas Andreato, o criador artístico do Troféu Vladimir Herzog.

Depois da cerimônia, formos presenteados com o magnífico concerto ‘Justiça’, apresentado na repleta Capela do Colégio Sion pelo Coral Luther King Camerata Harmonia, sob a regência do maestro Martinho Lutero, e com a participação da atriz Eva Wilma na leitura de textos.

***

Detalhe: o acontecimento que aí fica noticiado não teve qualquer registro jornalístico nas edições de segunda-feira. Rádio, jornais, TVs, portais, todos foram previamente informados do evento. Mas ninguém apareceu. Nem a TV Cultura deu importância ao fato, a despeito do seu propalado discurso de jornalismo ético.

Daí, o mal disfarçado desalento com que, ao final, Sérgio Gomes me perguntou: ‘Chaparro, o que acontece com a pauta jornalística?’.

Penso que a pergunta do Sérgio é uma boa maneira de encerrar o texto. Mas prometo dar seguimento ao assunto na próxima semana.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Cadê o talento? E o emprego?, 24/07

‘Ninguém decifra esse rasgo puro

Essa aspereza xucra pré-concreto

Serpente de estrias insepultas

(Nei Duclós in Cerca de Pedra)

Cadê o talento? E o emprego?

Da Folha Online ao anunciar o livro:

Manual mostra como ser jornalista, da faculdade ao primeiro emprego.

O que é ser jornalista? Onde estudar? Onde se especializar? Quais as áreas mais promissoras? O livro ‘Jornalista’, da ‘Série Profissões’, da Publifolha, é uma fonte de informação para quem pensa em optar por esse curso.

Janistraquis recebeu de presente, leu, releu algumas passagens e concluiu:

‘É isso aí, considerado; trata-se de excelente mapa do caminho das pedras, mas faltou dizer onde se acha o talento.’

E depois de encontrar o talento, resta apenas aquilo que é mais fácil neste País de Todos: arranjar emprego.

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Megasindicato

O considerado Luís Felipe Tonet, jornalista paulistano que vem de longa temporada em Angola, envia o seguinte despacho de seu escritório com vista permanente e deslumbrante para os engarrafamentos da cidade:

Procurando informações sobre a nova lei de restrição de caminhões na cidade de São Paulo, encontrei matéria públicada no site do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região) intitulada Especialidade destaca a importância da regularização do setor, que falava sobre regulamentação das empresas de motofrete.

Um dos parágrafos da matéria mencionava um processo movido contra uma empresa clandestina. Não sou especialista no assunto, mas fiquei perplexo com o nome do Sindicato, modelo ‘coração de mãe’ — sempre cabe mais um…

‘O autor do processo foi o Sindicato dos Empregados em Empresas Distribuidoras de Gêneros Alimentícios, Remédios, Jornais e Revistas, de Gás (GLP), Materiais para Escritório, Peças e Acessórios para Veículos, Materiais para Construção, Empresas de Sucatas e de Materiais para Reciclagem, Locadoras de Veículos, Prestadoras de Serviço com Veiculo, Delivery, Empresas de Motofrete, Courrier e Empresas Similares do Estado de São Paulo (Seedesp).’

Janistraquis desaprova esse tipo de megasindicato, pois, ao organizar uma greve dos empregados nas empresas de sucata, por exemplo, pode paralisar quase todo o país.

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Cachaversando

O considerado poeta José Romualdo Quintão, que dentre as boas coisas da vida aprecia um gole daquela que prejudicou o guarda, pois Quintão despachou de seu alambique mineiro uma trova de própria lavra, versos educativos para quem deseja provar e aprovar uma boa caninha:

A primeira é água forte.

A do meio, boa cachaça.

A última, fraca e sem sorte,

Porque é água sem graça.

Janistraquis adorou, ó Quintão, e informa que aguarda, com a voracidade de quem está à margem do Bolsa-família, a cesta básica de cachaça prometida por nosso considerado e seu conterrâneo Camilo Viana, encomenda atrasadíssima por causa da greve dos Correios, esse serviço que deveria ser essencial.

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Mostra tua cara

Perguntinha na capa do UOL: Qual música de Cazuza marcou a sua vida?

Janistraquis olhou pra mim, desviei o olhar para a parede mais próxima e ele então disparou:

‘Considerado, seja sincero e me diga: alguma música de Cazuza deveria mesmo marcar a nossa vida?’.

Até agora não tive coragem de responder.

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Nêumanne, imortal

A coluna cumprimenta o considerado José Nêumanne Pinto, jornalista, poeta e romancista de escol, eleito terça-feira, 22/7, para ocupar a cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras, cujo patrono é Augusto dos Anjos.

O novo imortal, nascido em Uiraúna, no sertão da Paraíba, e criado em Campina Grande, vive em São Paulo desde a década de 70; é editorialista do Jornal da Tarde e comentarista da Jovem Pan e do SBT.

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Bolsa-penúria

Janistraquis examinou e examinou a capa da revista Leaders com a foto do presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, e deixou escapar, num suspiro de humilíssima penúria:

‘Considerado, eu só queria ter o que este homem joga no lixo…’

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De mineiros

Deu n’O Trem Itabirano, coluna Pão e Circo, escrita por Marcos Caldeira Mendonça, diretor do jornal:

Em época de eleição, político pinta em casa de pobre e come até fubá suado.

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Brahminhas do Timão

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão debruçado sobre a ausência de pudor é possível enxergar a inflação a nadar no Lago Paranoá, de braçada com a irresponsabilidade, pois Roldão, que nunca bebe, encontrou no Correio Braziliense um título feito por alguém presuntivamente de porre:

Fazer manchete e dar título à notícia no jornal é uma atividade que exige engenho e arte. É preciso chamar a atenção do leitor e, ao mesmo tempo, espremer a frase para caber num espaço pequeno.

Na primeira página da edição desta terça-feira, dia 15, o Correio Braziliense fez uma chamada para a compra da Anheuser -Busch, fabricante da cerveja Budweiser, pela empresa belgo-brasileira InBev. Título dado: ‘Donos da Brahma compram Budweiser’.

Imediatamente lembramos do folclórico Vicente Mateus, então presidente do Corinthians, ao agradecer as ‘brahmas que a Antarctica havia enviado’, em comemoração a uma vitória do Timão.

[Na página 14 o jornal publica notícia completa e bem detalhada do fato.]

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Nei Duclós

Leia no Blogstraquis a íntegra do soneto cujo fragmento encima esta coluna. O poeta cavalga a imaginação pelas campanhas de sua infância, com versos de homem afeito a todas as lutas.

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Pós-goebbeliano

Janistraquis está convencido de que a frase citada na reunião da OMC pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é apenas um bosquejo ideológico do PT:

‘Considerado, se uma mentira repetida muitas vezes se transforma em verdade, então está explicada a ascensão dos petistas e a assunção de Lula, que é um dos muitos fenômenos pós-goebbelianos a medrar por aí.’

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Roubo por telepatia

O considerado Léo Bueno envia notícia do Hoje Jornal, de São Bernardo do Campo; sob o título Cresce crimes do ladrão do Ipê, lê-se:

Wellington Barboza dos Santos foi preso sob acusação de praticar roubos num bairro da cidade.

Nesse processo, outros crimes foram cometidos.

Léo, cultivador de palavras, como bom poeta que é, observou o atentado contra a Língua Portuguesa e ainda anotou:

Se os crimes cresceram com o sujeito preso, talvez seja o primeiro caso de roubo por telepatia da história!

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Eis o Fiat Gere

A considerada Rebecca Fontes, assessora de imprensa em Fortaleza e que tem como principal diversão perseguir maus redatores, como ela mesma diz, despacha de seu refúgio ecológico à Rua José Vilar.

Estava a passear pelo portal Terra quando vi esta notícia no Invertia, no Últimas Notícias do dia 23/6. Lá, na rabeira, no último parágrafo, o jornalista, talvez inconformado com a falta de sentido de sua vida profissional (carga excessiva de trabalho, baixos salários, aporrinhação de chefia, etc), pisou feio na ‘tradução’ e criou uma nova categoria de veículo:

Mídia — Fiat pede desculpas à China por anúncio com Richard Gere

Meu secretário, que jogou na mega-sena, está interessado num Richard Gere, mas só se existir o modelo 4X4; é que as estradas daqui são de lascar…

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Candidatos a analfabeto

O considerado Jarbas Hatiro Senda, empresário paranaense, leu na Folha de S. Paulo uma carta do secretário de Subprefeituras paulistanas, Andrea Matarazzo, com este fragmento devidamente pinçado:

‘(…) A matéria cita memorandos trocados entre diretores da Alstom em 1997 onde ‘um diretor da Cegelec em Paris diz estar disposto a pagar 7,5% para obter um contrato de R$110 milhões da Eletropaulo’. Em 1997 eu era presidente executivo da Cesp e nada tinha a ver com qualquer assunto da Eletropaulo, muito menos contratos.’

Jarbas foi inflexível:

‘Os candidatos a analfabeto, entre os quais esse Matarazzo, costumam usar e abusar do advérbio onde; o considerado já notou esse, digamos, tique nervoso de iletrados?’

Janistraquis tem certeza de que onde se transformou numa muleta para quem esqueceu onde enfiou a gramática.

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Show da Fé

Deu no sempre bem informado Meio&Mensagem:

Band quer mudar seu horário nobre

Emissora planeja trocar Show da Fé por atração que misture jornalismo e entretenimento.

Janistraquis tem ótima sugestão pro novo horário de R.R. Soares, o missionário e líder da Igreja Internacional da Graça de Deus, que há cinco intermináveis anos começa às 21h e só acaba uma hora depois:

‘Considerado, 4 da manhã tá de bom tamanho, né não? Afinal, quem tem fé pra valer não precisa nem comer, que dirá dormir.’

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Nota dez

A considerada Maria Lucia Dahl, musa do Cinema Novo, escreveu em sua coluna do Jornal do Brasil sob o título Politicamente correto:

Estava no cabeleireiro, onde uma televisão ligada passava um desses programas cômicos insuportáveis, quando de repente apareceu um anão fazendo uma gracinha qualquer. Comentei com meu neto:

– Olha o anãozinho…

Uma senhora que também assistia ao programa ao meu lado replicou:

– Não se diz mais anão. Não é politicamente correto.

– Ah, não? – perguntei eu, espantada. – E como se diz agora?

– Pessoa verticalmente prejudicada.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo tanto instrutivo quanto divertido.

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Errei, sim!

SANTO BISPO — Ao resenhar na Folha de S. Paulo o livro de Frei Betto A Obra do Artista – Uma Visão Holística do Universo, certo professor da USP, mui justamente aposentado, escreveu: ‘Em 1658, o bispo irlandês James Ussher (1581-1656) anunciava ao mundo …’ etc. etc. e blablablá.

Boquiaberto como aficionado do ‘Cine Trash’ da Bandeirantes, Janistraquis balbuciou: ‘Considerado, como é que o reverendíssimo pôde anunciar algo em 1658 se subiu aos céus em 1656?’ Ponderei que, para quem acredita na

Santíssima Trindade, nada, mas nada mesmo, é impossível. (agosto de 1996)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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