Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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CRISE POLÍTICA

Eleno Mendonça

O cartão de Ano Novo do presidente, 2/01/06

‘Assim como o novo disco de Roberto Carlos, a entrevista ‘exclusiva’ de Lula ao Fantástico trouxe pouca novidade em relação ao repertório usual. Não por culpa do repórter Pedro Bial. Hoje já vi quem criticasse o jeito de Bial conduzir a entrevista, mas acho que ele até retrucou e mostrou contradições, o que faltou foi o outro lado, que em várias vezes se contradisse, apresentar à população declarações realmente novas. Além disso, há um limite da elegância. Foi, do ponto de vista das perguntas e, obviamente, na minha opinião, muito melhor do que a entrevista do Roda Viva, mas o que se viu foi um Lula repetindo o que vem dizendo nos últimos tempos.

Do ponto de vista econômico, como candidato que é e que não assume temendo que haja algum desastre no percurso, o presidente veio com um belo cartão de ano novo, desejando a todos um feliz 2006, cheio de empregos, alegrias e novas emoções. Ora senhor presidente, para quem sai de um ano pífio, é óbvio que 2006 se for mais ou menos já será melhor. Até porque não se pode ter dúvidas, o juro continuará caindo e Palocci gastando mais. O Cenário, portanto, tende a melhorar sim, mas vai produzir um crescimento na faixa de 4%, o que não chega a ser essa bonança toda a que se referiu o presidente.

Na entrevista, para ‘comer’ tempo e ocupar espaço, o presidente lançou mão de vários artifícios, entre os quais o da auto-suficiência em petróleo. Falou também dos resultados que espera na colheita que plantou, mas se referiu apenas às sementes positivas. Gostaria de ter visto Lula falando um pouco das sementes negativas que estão germinando e que, sim, podem afetar tanto a condução política quanto econômica. Dizer de novo que nada sabia não é justificativa. Um presidente não pode ser onipresente, claro, mas não pode fugir à responsabilidade. Se houve corrupção em seu governo, ainda que durante suas viagens ao exterior, cabe a ele a responsabilidade e não se pode fugir disso.

Sem dizer-se candidato, Lula apresentou uma plataforma de campanha. Quando disse a frase ‘2006 será o ano’, ou quando falou que ‘será o ano da sociedade brasileira, ano de forte crescimento, de forte distribuição de renda, de muito emprego para esse povo. Vamos construir juntos o Brasil que sempre sonhamos construir’, o presidente, lógico, fazia campanha política. O que ele precisa entender é que para que haja essa explosão, ela deve permitir crescimento acima de 4%, para que haja empregos que sejam vistos a olho nu, é preciso fechar os olhos para alguns fundamentos econômicos, é preciso deixar a inflação meio sem limites, permitir um pouco de evolução do custo de vida. Se fosse em outras épocas até se poderia chamar isso de estratégia eleitoral, ou ainda de forma mais crítica e pesada, de estelionato eleitoral, tanto porque o momento que se segue é sempre de ajuste e correção, uma dose quase sempre também bem amarga para todos.

O presidente falou das medidas ‘estruturantes’ que tomou, mas ficou apenas nas coisas positivas, faltou mergulhar no problema que mais aflige a todos, a corrupção. Que medidas ‘estruturantes’ foram tomadas para evitar que haja novos focos de corrupção? Bem, o certo é que sua fala, a despeito de não ser inovadora, irá repercutir numa semana de poucas notícias. Sim, porque até a falta de novidades, vinda do presidente e nesse momento, é sim um veio muito bom para se trabalhar, é munição para as oposições.’



JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Ceni ou não Ceni?, 27/12/05

‘Olá, amigos. Não sei se em algum lugar já foi colocada a verdade sobre a não-convocação de Rogério Ceni para a Seleção Brasileira. De qualquer maneira, segue a versão que me foi confirmada por cinco fontes da mais alta confiança (uma delas, inclusive, presente no momento do ocorrido).

Na Copa das Confederações de 1997, quando um grupo de jogadores, liderado por Romário, tosou os cabelos de todos os atletas que estavam na concentração, alguns não concordaram com a brincadeira e foram segurados a força para terem suas cabeças tosquiadas. Entre eles, Bebeto, Gonçalves e… Rogério Ceni.

Indignado com o que, em sua opinião, foi uma atitude violenta e sem sentido, o goleiro foi queixar-se ao então técnico, Zagallo. Diante da indignação de Rogério, Zagallo teria dito que não aprovava o que foi feito, mas que ele estaria exagerando e que aquilo mostrava que ele não tinha espírito de grupo.

Ceni, então, teria retrucado que, se era para ter o espírito de grupo que Zagallo tanto pregava, que ele deixasse que raspassem a sua cabeça também. Zagallo viu a resposta do goleiro como uma falta de respeito com ele e, a partir de então, sempre que o Velho Lobo esteve envolvido com a Seleção Brasileira, Ceni esteve fora.

As mesmas fontes que me confirmaram essa versão também afirmam que Parreira admira Rogério e que, se tivesse que escolher entre Marcos e Ceni, o goleiro do São Paulo iria à Copa, mas o treinador não quer se indispôr com Zagallo, seu grande amigo e conselheiro, e, verdade seja dita, tem medo que o ambiente da Seleção seja abalado por haver no grupo duas pessoas que não convivem em total harmonia. Parreira ainda entende que Marcos e Rogério têm o mesmo nível técnico e, portanto, o prejuízo pela não-convocação do goleiro do Tricolor paulista está dentro do aceitável.

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Muito bons os programas da série ‘Jogos para sempre’ do SporTV. Os depoimentos dos jogadores são elucidativos e acabam revelando pormenores que não nos chegaram na época em que os jogos foram disputados. Iniciativa interessante e que ajuda a escrever a história do Brasil nas Copas do Mundo.

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Também excelente a entrevista de Abel Braga a Luiz Carlos Júnior, Aydano André Motta e Bruno Lobo no Redação SporTV da última segunda-feira. O treinador esbanjou bom humor, sinceridade e coerência no bate-papo. É uma daquelas entrevistas que não cansamos de rever.’



TALESE NA FSP
Carlos Chaparro

Talese e as perigosas seduções palacianas, 30/12/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Gay Talese disse, falando à Folha de S. Paulo sobre a guerra do Iraque: ‘O governo Bush mentiu e fracassou. (…) O jornalismo fracassou’. Porque, entre outras razões, ‘em Washington, os repórteres às vezes ficam próximos demais do poder’. Eis, aí, um tema que interessa, e muito, ao jornalismo brasileiro: a proximidade do poder, que logo se torna cumplicidade. Aliás, é bom lembrar: a imprensa brasileira começou cedo a mamar nas tetas oficiais. Segundo o historiador Mecenas Dourado, D. João VI financiava o Correio Brasiliense, primeiro jornal brasileiro…

1. Jornalismo manchado

Chegamos, enfim, à despedida do vergonhoso ano em que o próprio Bush, falando na qualidade de presidente comandante da guerra , usou a difusão jornalística para nos dizer que enganou o mundo, ao usar a mentira das terríveis armas escondidas, que não existiam, como razão para bombardear o Iraque e matar milhares de pessoas. Antes, porém, que o ano terminasse, eis que o velho e bom Gay Talese, em amargurada entrevista à Folha de S. Paulo (edição de 26/12/2005), coloca os jornalistas americanos no rol dos safados dessa história, por terem aceitado o papel de dar revestimento de verdade às mentiras de Bush. ‘O jornalismo fracassou’, sentencia Talese, referindo-se ao jornalismo de maior influência no mundo, aquele em que ele próprio tanto brilhou.

A frase, em jeito de epitáfio, dá fecho à análise crítica que Talese faz, sobre os comportamentos da imprensa em suas relações com o governo Bush. É uma avaliação devastadora:

‘Nós nos tornamos vítimas de uma farsa, de um governo que enganou o povo e a imprensa sobre as armas de destruição em massa no Iraque e a ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda. Mas os jornalistas e os donos dos veículos de mídia que se importam com a verdade, não poderiam ter acreditado nas mentiras do governo Bush. (…) Deveriam ter checado as informações três anos atrás. Agora há todos esses mortos e feridos. Se tivesse havido alguma reportagem investigativa na época, se os jornais não tivessem permitido que a propaganda do governo fosse tão eficaz, talvez as coisas tivessem sido diferentes. O governo mentiu e fracassou. (…) O jornalismo fracassou. É uma mancha para a história do jornalismo.’

Antes de avançar em mais alguns trechos da entrevista, convém lembrar que o autor da frase tem autoridade, feitos e saber para dizer o que quiser e como quiser, quando fala de jornalismo. O sr. Gaetano Galantino Septimo Talese, que o mundo conhece como Gay Talese, é um jornalista histórico. Mais do que grandes reportagens, e as fez, a ele devemos a criação de um estilo ousado de fazê-las, o ‘novo jornalismo’ (new journalism), graças ao qual a linguagem jornalística se enriqueceu extraordinariamente na segunda metade do século XX, experimentando e desenvolvendo formas literárias de narrar histórias reais. Com o ‘novo jornalismo’, o texto jornalístico pôde ocupar espaços próprios em certos territórios da arte, os territórios da arte de narrar.

Gay Talese formou com Tom Wolfe, Norman Mailer e Truman Capote o quarteto criador do ‘novo jornalismo’. Mas foi ele, verdadeiramente, o inventor das bases e das razões do novo estilo, com as reportagens que fez para a revista Squire, entre 1954 e 1956, as primeiras da sua carreira, nas quais narrava a própria experiência, na vida da caserna.

Dos quatro, Talese foi o único a dedicar-se integralmente ao jornalismo, num percurso de glórias realizado principalmente no New York Times, sobre o qual escreveria, mais tarde, O Reino e o Poder, um livro que conta a história e mostra as complexidades do grande jornal. Mesmo em sua vertente de escritor, é o jornalista que se impõe. Os outros dois magníficos livros escritos por ele são, na verdade, grandes reportagens: Honrados Mafiosos trata do crime organizado nos Estados Unidos, e A Mulher do Próximo é um desvendamento realista da vida sexual dos americanos.

2. A capacidade de gritar mais alto

Mas voltemos à entrevista publicada pela Folha.

Em boa parte das respostas dadas a Marcelo Ninio (autor da entrevista), Gay Talese põe em evidência, e lamenta, a perigosa proximidade entre os jornalistas e o poder. Logo no começo, afirma: ‘(…) em Washington, os repórteres às vezes ficam próximos demais do poder’. Mais adiante, acusa ‘o Times e outros grandes jornais’ de frequentemente se enamorarem do acesso que têm ao poder e, ‘sem sentir, viram apologistas dos órgãos do governo’. Depois, torna-se mais direto, referindo-se à omissão jornalística no caso da guerra do Iraque: ‘O Times deixou de ser objetivo por estar próximo demais do governo Bush’.

Eis, aí, um tema que interessa ou deveria interessar, e muito, ao jornalismo brasileiro: a proximidade do poder, que logo se torna cumplicidade.

Se avaliarmos as relações entre a imprensa e o governo pelos lamentos do presidente Lula, temos, no Brasil, uma situação bem diferente da dos Estados Unidos. Ainda que com truques eufêmicos, Lula não perde ocasião para se queixar da imprensa brasileira, por ele acusada de leviana e de estar a serviço da oposição – o que poderia indicar que temos, felizmente, uma imprensa gloriosamente independente.

Não será tanto assim. Não se pode ignorar o poder corrosivo que, no Brasil, as verbas publicitárias oficiais podem ter sobre as decisões jornalísticas. E os governos brasileiros, por tradição doentia, gastam rios de dinheiro em propaganda. Deve-se pôr ênfase no reconhecimento de que esta não é uma invenção do presidente Lula. Mas, com igual ênfase, se diga que ele se revelou um exímio praticante da modalidade…

Outra diferença, em relação ao cenário americano traçado por Gay Talese, que influencia bastante a pauta jornalística brasileira, é a fortíssima oposição que o presidente Lula enfrenta, até mesmo no miolo do seu partido. Nos Estados Unidos, segundo Talese, não há dissensões, nem jornalísticas, nem políticas: ‘Eles, os democratas, temem ser rotulados de anti-americanos, de antipatriotas’. E no jornalismo, diz ele, ‘jamais houve rebelião’. Na visão de Talese, até a oposição internacional ‘foi minimizada, silenciada, trivializada’.

No Brasil, ao contrário, temos uma oposição fortemente empenhada em produzir fatos e falas noticiáveis. Há um discurso oposicionistas esperto, ágil, estrategicamente articulado, com líderes que falam alto, tão ou mais alto que Lula ou qualquer dos seus tímidos ou desajeitados porta-vozes. É uma oposição sempre de olho nos telejornais e nas primeiras páginas dos jornais. E aí está outra diferença em relação a Bush. Lá, diz Talese, não há voz que possa competir com a Casa Branca: ‘Eles têm Condoleezza Rice. Ninguém grita mais alto do que essa mulher. Ninguém é melhor na televisão do que Rumsfeld’.

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Este é um artigo sem conclusão. A proposta é que peguemos o tema suscitado pelo amargurado ceticismo de Gay Talese, quanto à independência da imprensa americana, e façamos uma discussão sobre o que se passa no Brasil, nessa mesma questão.

Como contribuição ao debate, duas achegas:

a) A imprensa brasileira tem uma tradição de vínculos espúrios com o poder político. E aprendeu cedo a mamar nas tetas oficiais. Segundo o historiador Mecenas Dourado, principal biógrafo de Hipólito da Costa (ver Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense, tomos I e II, Biblioteca do Exército, 1957, pp. 405-407), quem financiava o Correio Brasiliense era D. João VI – e essa pode ser uma boa história a contar, em texto futuro.

b) Independência não é sinônimo de oposição. É preciso ser independente também em relação às oposições. Afinal, prioritariamente, elas estão interessadas em chegar ao poder.

Feliz 2006!

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NOTA DE RODAPÉ – Gay Talese foi ouvido para a secção ‘Entrevista da 2ª’, página na qual, uma vez por semana, a Folha demonstra quanto uma boa entrevista pode enriquecer o jornalismo.’



MÍDIA / PERSPECTIVAS 2006
Antonio Brasil

Previsões para a mídia em 2006, 2/01/06

‘Como dizia Samuel Goldwyin, o lendário produtor de Hollywood: ‘Fazer previsões é muito difícil. Principalmente previsões sobre o futuro’. Mas como estamos no final do ano, vamos consultar a nossa bola de cristal digital e arriscar algumas tendências para 2006.

Primeira previsão. A Globo vai continuar sendo líder de audiência. Vai produzir as mesmas telenovelas de sempre que, por algum motivo desconhecido ou por mera falta de opção, continuarão sendo assistidas por quase todos os brasileiros. Essa previsão foi fácil.

Ainda em 2006 a Globo também vai continuar produzindo um telejornal nacional líder absoluto de audiência, para um espectador médio indefinido e misterioso. Alguns dizem que ele se parece com um tal de Homer Simpson, Lineu, Zé Povinho ou com o próprio apresentador e editor nacional do telejornal. Tanto faz. Não faz a menor diferença. A bola de cristal digital garante que o telejornal da Globo certamente vai continuar sendo o mesmo em 2006. Talvez mude o cenário durante a Copa. Afinal, segundo os especialistas, ‘time que está ganhando…’.

Por outro lado, a nossa bola de cristal também indica que as demais emissoras de TV brasileiras farão o possível e o impossível para copiar esse mesmo modelo global. Não confundir esse modelo de telejornal nacional com um modelo ‘global’. Ou seja, as demais emissoras brasileiras continuarão sendo ignoradas pelo público.

Outra previsão: A Globo vai lançar no Brasil mais uma série de grande sucesso nos EUA: Lost (Perdido), líder de audiência na CBS. Afinal, em termos de TV no Brasil, nada ou quase nada se cria. Tudo se copia ou se compra dos EUA. Aqui entre nós, a serie é muito chata. Não recomendaria ou perderia o meu tempo assistindo.

O melhor programa de TV no Brasil continuará sendo… assistir a bons filmes em DVD. Principalmente os filmes que jamais são exibidos pelas emissoras de TV. Os canais a cabo continuarão sendo uma ‘armadilha’ ou opção desesperada para os poucos brasileiros que não suportam a programação da TV aberta e podem pagar caro por pacotes fechados. Todos reclamam, mas acabam sempre pagando os constantes reajustes extorsivos de preços. Nada muda. Em caso de falência ou problemas financeiros nessas TVs a cabo, nada tema: o BNDES ou o próprio governo bancam as mazelas e garantem o sucesso do negocio. Melhor somente no setor bancário ou financeiro.

A TV digital brasileira será finalmente implantada baseada no velho modelo VARIG. Nos tempos da ditadura, costumávamos dizer que a sigla significava Viação Aérea Com Rotas Impostas (e bancadas) pelo Governo. Lembram? A nossa bola de cristal prevê que apesar dos vários meses e milhões de reais gastos com pesquisas por universidades brasileiras, a nossa TV digital será ‘surpreendentemente’ decidida no Jardim Botânico por um ministro ‘global’ no último minuto, mas a tempo de transmitir a Copa do Mundo com exclusividade para uma única rede de TV brasileira. Um verdadeiro ‘presente’ em ano de eleições nacionais. Agora, ganha um doce quem adivinhar o nome da rede que será beneficiada com esse presente. Afinal, assistir à Copa do Mundo pela TV, ao vivo, a cores e em alta definição digital é questão de segurança nacional.

Fica evidente que ao contrário do que dizia Samuel Goldwyn, fazer previsões sobre o futuro, pelo menos sobre o futuro da TV brasileira, não é uma tarefa tão difícil. Nada muda.

A boa notícia, no entanto, são os resultados promissores de mais uma ‘renovação’ na TV Cultura de São Paulo. Segundo seus próprios administradores, agora com as finanças em ordem e seguindo o modelo comercial, a melhor TV do Brasil tenta criar condições para produzir uma televisão, se não de qualidade, pelo menos diferente.

Continuo acreditando que a única salvação para uma TV pública de verdade e de qualidade é o engajamento dos seus principais sócios e interessados: o público. Não são os empresários, anunciantes ou agências de propaganda que vão criar as condições necessárias para uma boa TV pública. Enquanto o telespectador paulista ou brasileiro não decidir ‘pagar’ e monitorar essa tal qualidade televisiva, creio que vamos assistir a mais um daqueles ciclos tão comuns nas TVs públicas brasileiras. Elas melhoram durante alguns meses ou anos, depois mudam de direção, perdem seus privilégios e voltam para a sarjeta. Repito. TV pública tem que ser paga e monitorada pelo público em geral. Não deve ser refém de um único segmento da sociedade, seja ele formado pelo governo ou por empresários. Mas continuo torcendo muito pela melhor TV do Brasil.

Previsões internacionais

Nos EUA, 2005 foi o ano dos Blogs – ninguém agüenta mais falar desse assunto – e do crescimento vertiginoso das pesquisas virtuais com o Google. Assim como a Microsoft no passado, a Yahoo e a Google são as empresas americanas que despontam como novos impérios do ciberespaço. Deixam de ser meras ferramentas de busca ou comunicação para se tornarem ‘portais’ poderosos. Estão substituindo as redes de TV americanas como principais empresas de comunicação em um mundo cada vez mais virtual. Oferecem de tudo na Internet e faturam bilhões de dólares.

Com o avanço da Banda Larga, 2006 será o ano do vídeo, da TV ao vivo e da portabilidade da Internet. Cada vez mais, os telefones celulares vão se transformar em computadores portáteis. Agora imagine poder assistir aos jogos ou melhores momentos da Copa da Alemanha ao vivo e a cores no seu telefone celular em qualquer lugar do Brasil.

Em 2006, em diversos países do primeiro mundo, os telefones estáticos continuam sua indefectível trajetória rumo à extinção. Celulares e conexões rápidas via Internet com programas do tipo Skype e Google Talk tornam os telefones objetos obsoletos.

Os aparelhos de TVs continuam crescendo em tamanho e cada vez mais assumem um novo papel nas residências. Eles se tornam centros de diversão no estilo Home Theater ou ‘cineminha caseiro’, dependendo do seu grau de aculturação ou colonização.

Em 2006 os podcasts continuam se tornando mini monitores de TV ou videocasts.

A todo-poderosa e hegemônica Microsoft, a Globo dos computadores, vai lançar mais um novo sistema operacional, Vista, no próximo verão nos EUA. A grande diferença é que o programa será comprado e atualizado somente via Internet. A Microsoft resolveu enfrentar a pirataria com armas ompatíveis. Também prossegue sendo acusada de práticas comerciais ‘duvidosas’ em vários países do mundo e enfrentando o avanço dos programas livres como o Linux. Mas continuará sendo hegemônica no mundo. Pelo menos, por enquanto. A bola de cristal não precisou de muito esforço para essa previsão tão ‘previsível’.

Em outro espaço do futuro, o rádio via satélite, sem comerciais e com centenas de estações especializadas com som de ‘alta definição’, conquista público e se torna cada vez mais portátil. Já é uma realidade nos carros americanos. Passa agora a competir com os Ipods.

Em 2006 o New York Times deve desistir de cobrar para fornecer acesso a certas matérias selecionadas no seu projeto Times Select. Isso não vai dar certo. E a competição dos portais gratuitos vai condenar a idéia. A CNN e a ABC News resolveram dispor seus conteúdos de forma gratuita e o NYT não deve conseguir enfrentar tamanha concorrência.

No próximo ano, os portais especializados em comunicação para jovens como o MySpace vão crescer ainda mais. Porém, serão vitimas do próprio sucesso. Deixarão de ser empresas independentes e serão compradas pelas grandes empresas do setor. Inevitável.

Obviamente, todas essas previsões não estão baseadas em qualquer pesquisa científica, informações sigilosas fornecidas por ‘fontes’ secretas ou utilização de tecnologia avançada. São previsões futurísticas de cunho pessoal com bola de cristal ainda analógica. Assim como os empresários das TVs brasileiras, a nossa promissora bola de cristal digital também aguarda aqueles financiamentos amigáveis de um governo à beira de uma crise de nervos e carente de votos em um ano eleitoral.

De qualquer maneira, um feliz ano novo e ‘boa sorte’ a todos. Aqui entre nós, vamos precisar!’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Aula de Prosecco, 29/12/05

‘O considerado Giulio Sanmartini, correspondente desta coluna na Europa, despacha de Belluno, onde está situada nossa Redação:

Há tempos não envio notas para Janistraquis, pois ando assoberbado com os preparativos de minha viagem ao Brasil (embarcarei em 22 de janeiro!), porém segue esta, alusiva às libações natalinas, que trocava as pernas nas páginas de O Globo, arriada sob o título Noitada de Maradona no Rio Acaba Mal:

Após participar da festa promovida por Zico anteontem, jantar churrasco com ‘vinho e prosecco’ e virar a noite em uma boate, o ex-jogador Diego Armando Maradona foi preso ontem de manhã, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio por desacato a autoridade.

A autora da matéria leva o leitor a pensar que prosecco não seja vinho, seja outro tipo de bebida. Poderia ser algum ‘lapsus calami’…

(Leia no Blogstraquis a verdadeira aula sobre prosecco que nos dá o Sanmartini.)

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Historinha de Natal

Leia no Blogstraquis a insana luta do considerado Willians Barros contra as lampadinhas natalinas.

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Radicais

O considerado Paulo Henrique Sanz, do Rio, leu nalgum órgão de grande penetração, abaixo do título Globo terá novo programa de esportes em 2006, esta notícia deveras assustadora :

A Globo vai estrear em 2006 um novo programa de esportes. Será uma atração exibida nas manhãs dos sábados, nos moldes do Esporte Espetacular, mas voltada para um público mais jovem. Segundo Octávio Florisbal, diretor-geral da Globo, o novo programa será focado em esportes radicais, como o skate e o surfe.

Paulo Henrique, que bate sua bolinha dominical e não suporta mais nem o Globo Esporte, exalou:

P… que p…, hein?!?! Já pensou um programa inteiro cheio de skatistas e surfistas? Que me perdoem os aficionados, mas isso poderia ser uma espécie de apêndice do Globo Rural…

Janistraquis manifestou-se impressionado com tanto preconceito.

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Erro na direção

O considerado Toni Barros despacha de São Paulo:

Sou leitor assíduo do Jornal da ImprenÇa e, quando li esta matéria na Gazeta Mercantil de 21/12, não pude deixar de enviá-la à coluna. A gente sabe que, às vezes, acaba passando um ou outro errinho numa matéria. Tantos assim, jamais; esta apresenta o maior número de erros por coluna que eu já vi. Seria bom alguém avisar aos jornalistas da GM que só o corretor ortográfico do Word não resolve…

Leia no Blogstraquis a íntegra da matéria, com todos os erros e as observações de Toni Barros.

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Vestibulares de música

Para encerrar um ano de muito espanto e decepções, o considerado José Guido Fré, que não toca instrumento algum, nos envia algumas pérolas escritas nos recentes vestibulares de música das universidades brasileiras.

Alguns consideram a lista um perfeito retrato cultural do país, outros garantem que é falsa, porque ninguém tem o direito de ser tão burro, mas a verdade é que o ‘perolário do besteirol’ nos diverte ao ensinar, por exemplo, que Bach está morto desde 1750 até os dias de hoje…

(Leia a sinfonia da besteira no Blogstraquis)

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Liga pro homem!

A considerada leitora Maria Isabel Caldas de Abreu envia notinha que leu na coluna de Claudio Humberto:

Falta munição

Durante o governo FHC, cada recruta do Exército pôde usar apenas dez balas por ano, em exercícios de tiro. Uma tragédia. No governo Lula, a coisa piorou: os recrutas não dispõem de uma só bala para treinamento.

Maria Isabel apresenta a seguinte sugestão para equipar as Forças Armadas sem dar bola pro governo Lula:

Bem rimadinho, pra não esquecer: é só ligar pro celular do Fernandinho Beira-Mar…

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Débil mental

Aninhada sob o título Jovem acusada de agredir veterinária consegue liberdade na Justiça, lia-se no Globo Online:

RIO – A juíza da 20ª Vara Criminal, Maria Elisa Peixoto Lubanco, concedeu, no início da noite desta segunda-feira, liberdade provisória à filha da advogada Cláudia Marinho, de 40 anos, Lívia, de 20 anos. Filha e mãe são acusadas de terem agredido e mantido em cárcere privado a médica veterinária Márcia Lilian Pereira de Lima, de 26 anos, na sexta-feira.

(…) Cláudia alegou ter ficado desesperada quando sua coelha Gia começou a passar mal depois de receber um medicamento prescrito pela veterinária.

– Eu amo mais a minha coelha do que minha filha e meu marido – disse Cláudia.

Janistraquis, sertanejo que já criou na mão desde passarinho a filhote de cascavel, ficou perplexo e revoltado:

‘Considerado, se por uma desgraça da vida eu fosse marido dessa criatura, pode crer que lhe daria uma surra de deixar a bunda roxa…’

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A melhor manchete

Diretor de nossa sucursal em Brasília, cujo varandão debruça-se sobre o caos, Roldão Simas Filho reuniu os funcionários para a festa de final de ano e assim, em meio à folia geral, foi eleita, por unanimidade, a melhor manchete de 2005, esta que saiu no portal Terra:

Surfista se livra de tubarão com um soco nos EUA.

O autor da façanha se chama Brian Anderson, tem 31 anos e surfava na costa do Oregon quando sentiu que alguma coisa lhe agarrava a perna. No instante em que encerrávamos esta edição, ainda ignorava-se qual teria sido a reação dos EUA.

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Maldições

Leia o texto da abespinhada lavra de Arnaldo Jabor, texto enviado, pasmem, por nosso correspondente na Europa, Giulio Sanmartini, que de repente atirou-se ao trabalho. Dê uma olhadinha no excerto e assuste-se mais com a íntegra que se contorce no Blogstraquis:

(…) Malditas sejam as metáforas que escorrem dos bolsos do Lula como pequenas lesmas,gordas sanguessugas, carrapatos infectos. Que essas metáforas lhe carcomam o corpo e que seus bonés, barretes, toucas e gorros de Papai Noel demagógico lhe atazanem o crânio até ele confessar que sabia de tudo, sim! Que sua cara denuncie tudo o que ele é, desde a vermelhidão crescente de suas bochechas até as sobrancelhas de diabo que traem o sorriso populista para enganar os mais pobres!

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Nota dez

O mais lúcido libelo dos últimos tempos está postado no Observatório da Imprensa pelo Editor de Geral do Jornal de Santa Catarina, de Blumenau (SC), Fabrício Cardoso, intitulado Prêmio Esso – A causa e o efeito. É para ler (aqui) e refletir por 2006 afora.

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Errei, sim!

‘TIRA-GOSTO – Janistraquis conservou em banho-maria este acepipe da coluna Bronca, um, digamos, tira-gosto do caderno Comida, da Folha: ‘Quase enchotados do Pandoro Bar após a zero hora do dia 2, clientes que por isso não deixaram os 10% ainda tiveram que suportar a reação mal-humorada dos garçons’. Meu secretário acha que a humilhação dos clientes foi completada pelo redator da coluna, ao enxotá-los com ch.’ (março de 1991)’



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